Roberto Bueno*

Era um belo dia em Brasília, um céu azul e dia de temperatura amena. Dia resplandecente que os ratos não apreciam experimentar, mas sim os ambientes escuros. Amantes que são da falta de transparência, aguardam a chegada do manto noturno para dar vazão aos seus hábitos ordinários nos porões e sótãos da capital federal. Seria um dia inóspito, duro, violento, sangrento, mas também libertador, democrático e republicano, no qual o povo em diversas capitais daria a prova certa de que a violência das autoridades do Estado já não mais poderiam ser toleradas. Aqui a prova de que o governo golpista de Temer nunca esteve composto por liberais, mas por homens convictos do valor do fascismo, malsinados tonton macoutes redivivos aliados ao pós-neoliberalismo.
Indigno deste e de qualquer cargo ou mandato público, incapaz de estar à testa da Presidência da República do Brasil, campeão de negócios dúbios e concretização de interesses privados na esfera pública. Rasteirice humana sem-par que apenas reverbera os interesses de uma quadrilha instalada no terceiro andar do cada vez mais deserto Palácio do Planalto. A única transparência é a indigência intelectual, absolutamente inepto que é para conectar-se com o tempo em que vive, preso inexoravelmente às catacumbas aéticas das quais nunca saiu. Imerso na viscosidade do lamaçal do porto de Santos em que a fortuna lhe sorriu. Sob falso brilhante e etiquetas, vive afogado no lodo habitando os porões.
Nesta quarta-feira, dia 24.05.17, o mordomo político decrépito demonstrou, mais uma vez, o grave tamanho de sua pequenez. Homem sem votos nem prestígio, político sem qualidades, homem sem virtudes e corrupto sem competência, eis a talha da figura. A esfera da política tem as suas normas básicas, e uma delas é que os vermes políticos não convivem com a crítica ou com o risco de ser eliminados do cenário. A ordem da investida das forças policiais e, depois, do próprio Exército contra os manifestantes foi algo inédito até mesmo para o regime militar brasileiro que não ousou investir contra os trabalhadores.
Baixo e vergonhoso, para proteger o seu regime corrupto ordenou diretamente o líder da quadrilha a investida policial contra homens, mulheres e jovens com todo o tipo de instrumentos. A rudeza da força empregada por Temer agrediu brutalmente todos aqueles que protestavam contra a vileza e a sua corrupção pessoal e de seu bando para que tripudiar pelo uso da força sobre quem a ele se opõe. Na Esplanada dos Ministérios em Brasília estavam reunidos legitimamente homens, mulheres e jovens devidamente protegidos constitucionalmente sob o amplo arco da bandeira do direito de protesto e do dever democrático de defender a Constituição. Temer é um autoritário fracassado, um vencido rococó chinfrim no ocaso de uma triste vida opaca transitada sob a mais profunda penumbra que apenas a irrelevância aguda pode apresentar. Nunca passou de uma vírgula política mal desenhada na história brasileira, uma gota de água em um oceano de intelectualidade, mas sobretudo é um presidente minúsculo que todos sabem ser corrupto, fato agora comprovado por diversas gravações além do notório controle do porto de Santos. A tudo isto agora se soma ainda outra característica: a covardia.
Tudo que o povo brasileiro esteve a pedir intensamente nas manifestações ocorridas Brasil afora neste dia 24.05.17 foi sintetizado na Esplanada dos Ministérios: a justa e definitiva retirada da cadeira presidencial de um corrupto, salteador terceirizado do mercado financeiro, cujos crimes foram explicitados mais recentemente pela gravação de Joesley Batista. Temer não é apenas ilegítimo, é um corrupto transgressor da lei que, insistamos, confessou isto de própria voz em gravação durante reunião clandestina realizada a seu pedido nos porões do Palácio Alvorada, assim marcada por esperar tirar proveitos financeiros do bilionário interlocutor, mas que dela saiu desmascarado não por deduções, mas pela própria voz.
Temer é um lamentável equívoco da natureza humana que veio a encontrar uma fantasia, de político, embora malcriado pela ética. Agride ao povo a que não serve de modo algum, senão que se serve. Temer serve a si mesmo e ao capital financeiro como um misógino decrépito old boy de recados. O fogo que se alastrou na Esplanada dos Ministérios em Brasília neste dia 24.05.17 foi culpa e exclusiva responsabilidade da quadrilha instalada no poder que se nega a abandoná-lo, como também os vultosos ferimentos impostos aos cidadãos por um desgoverno em funções de forma agonizante. Temer já não tem poder político, e apenas lhe resta como demonstração de ainda possuí-lo a prática de espasmos de violência contra a população desarmada. Os graves enfrentamentos e todos os feridos no Distrito Federal é algo exclusivamente atribuível à presença de um violador político em funções na capital federal. Temer não tinha qualquer legitimidade e a reação pública se deu contra a violência do regime corrupto instalado. Hoje, a cada minuto, ele é a encarnação da pura afronta a povo e razão continuada de violência e justa rebeldia.
A classe política e as autoridades da República permaneceram inertes durante os conflitos e não tomaram à frente da violência conduzida pelo insano. Perfeitamente cômodos em suas posições, tais atores acreditavam que deviam postergar uma reação firme e definitiva em face do terceirizado malfeitor. As castas no poder preferem continuar protegendo o mercado financeiro onde têm altas somas aplicadas derivadas dos polpudos contracheques pagos pela população ofendida e por eles desprotegida. Depois do ocorrido neste dia 24.05.17 nada menos do que a instauração do devido processo legal, a devida apuração e, sendo confirmadas as acusações, a prisão deste insano homem cuja provecta idade não lhe outorgou qualquer equilíbrio e nem sabedoria ordinária.
Irresponsáveis aquadrilhados que com sua ilegítima presença no poder incitam à queima da República. A invasão de todos os ministérios revela apenas que o povo já não suporta ratos no poder. A invasão e queima de prédios públicos revela que o povo disse, finalmente, um robusto não ao abuso. O uso da força militar contra o povo é a declaração com firma reconhecida por parte do governo Temer de que já não pode governar senão com coturnos e através da ameaça de fuzis. O povo corajosamente disse alto e bom som em Brasília para Temer ouvir, às portas do Planalto: Saia, já, fora!
O notório e mais famoso habitante noturno dos porões de Brasília pensa poder manter o poder através de sua guarda pretoriana, disposta e ordenada para bater na população. Os ferimentos causados na população civil e também nos policiais que Temer dispôs na Esplanada dos Ministérios para proteger a sua corrupção pessoal e de seu grupo é designativo de sua franca ilegalidade, que apenas se agravaria com a entrada da noite com as forças armadas inundando as ruas de Brasília: era Temer. A malsã figura é um homem sem qualidades hoje sustentado apenas na força do coturno, cujo corpo é habitado apenas pela fraqueza, tibieza, vileza e covardia, mediocridade e misoginia vulgar, cultura da bandalheira residente e oculta nos profundos abismos de corpo velhaco cujas mil faces repetem a mesma triste figura.
Durante a crise, como de hábito, o malsinado homem permaneceu oculto no Palácio do Planalto, assistindo pela televisão, entreolhando pela janela como os ministérios eram queimados por uma multidão enfurecida, sendo apenas informado por ordenanças sobre tudo o que acontecia à sua frente e arredores. Era absoluta e justa a revolta da população contra a violação da democracia e da Constituição por um homem minúsculo sabiamente nunca eleito pelo povo para absolutamente qualquer função, e cuja vilania agora era pública, associada à prova cabal de seu comportamento corrupto revelado por vontade e voz própria. Do covarde homem no poder advém pura e absoluta ilegitimidade de suas ações, violação do poder que se soma a das regras básicas da democracia.
Hoje Temer se escondeu, não deu declarações e nem veio a público para acalmar a população senão que apenas lhes reservou força bruta, as armas militares e os punhos como única explicação para a sua presença abusiva no poder. Temer é um violador absoluto do poder. A violência de Temer para reprimir manifestação constitucionalmente admitida supôs mobilização ilegítima das forças armadas com a finalidade de impedir e calar as vozes de um povo que lhe queria fazer ouvir o rotundo não. Este é um direito fundamental encravado no núcleo duro de qualquer concepção da democracia, ainda que modesta, e também, implicitamente, em nossa Constituição que Temer e seus associados insistem em violar das mais distintas formas. Depois deste dia 24.05.17, o que restou do já esquálido e caquético Temer foi o esboço mal-acabado de um ditador franzino que em breve será retirado do poder por aqueles que continuam a observar o quão errática é a sua figura terceirizada que acredita governar. Ao utilizar a força bruta contra o povo o que Temer reafirmou não foi o seu poder, mas sim a soberania popular. Temer fugiu às suas responsabilidades e desapareceu covardemente atrás de suas forças de segurança que por decreto ordenou avançar sobre o povo.
A covardia de Temer ultrapassou todos os limites, pois para enfrentar as consequências de seus atos de corrupção recorreu a decreto presidencial para a garantia de lei e da ordem pelo prazo de uma semana, sendo que a manifestação política estava convocada apenas para o dia 24.05.17. Vergonhoso, temeroso e covarde, lançou mão de tal instrumento para ordenar o uso das Forças Armadas contra o povo quando o motivo do ódio é a justa e correta reação contra a genuína violência institucional que Temer encarna!
O sedento corrupto é encarnação da covardia que mesmo quando aquadrilhado é medíocre, mas quando solitário, ameba. Que logo o futuro reserve o seu triunfal regresso ao esgoto. Ao agredir o povo, perdeu o direito. Ao agredir o direito, perdeu a razão. Assim fez a soberania retornar às mãos do povo. Temer já não tem direito e nem lhe assiste justiça, e nesta condição até mesmo o liberalismo admite que a sua permanência no poder é agressão inaceitável ao Estado de direito e à soberania popular, que em tal condição poderá usar dos meios necessários para retomar o direito de conduzir a sua vida política e impedir a continuidade das violações e da força bruta sobre o povo. Frouxo, fraco, covarde e corrupto: chega, basta, fora!

*Professor pós doutor