Ivan Santos*

Quem acompanha o processo político sabe que nada é mais socialmente perverso para um país do que uma paralisação brusca no Governo. Foi exatamente o que aconteceu na semana passada depois da revelação surpreendente do conteúdo de uma fita gravada pelo empresário Joesley Batista contendo uma suposta conversa com o presidente da República do Brasil, Michel Temer. Os centros de decisões nos Poderes Executivo e Legislativo federais estão paralisados deste a espetacular revelação e esta situação poderá continuar até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida se o conteúdo da fita gravada por Joesley Batista vale como peça no processo aberto contra o presidente da República. A delação feita por um empresário fanfarrão, usada por uma ação de jornalismo declaratório abalou de um minuto para outro as estruturas do Governo que trabalhava para reorganizar a produção econômica e se esforçava para aprovar medidas consideradas pelo Presidente como indispensáveis para reajustar as contas públicas. Jornalismo declaratório sem prudente checagem, ao longo da história mundial, já produziu danosos efeitos colaterais em sociedades democráticas. Na modernidade atual o que temos visto nos espanta, com importantes veículos de comunicação em busca da primazia em informações espetaculares. Alguns abandonam a antiga regra que recomenda “confiar de declarações de autoridades, mas desconfiando sempre, para não servir de porta-voz a interesses inconfessáveis”. Outra coisa espantosa nos dias atuais é o vazamento por autoridades, de malfeitos ainda não completamente apurados. Esse tipo de vazamento, na realidade, só serve para promover espetáculos. Recentemente o senhor Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da JBS, disse em Uberaba ter repassado aos deputados federais Marcos Montes PSD) Zé Silva (SD) e Aelton Freitas (PR), todos com domicílio em Uberaba, R$ 200 mil reais a cada um deles como propina, esta identificada como “reserva de boa vontade” segundo informação veiculada pelo G1 Triângulo. Propina (reserva de boa vontade), segundo o dicionário Houaiss é “quantia que se paga a alguém para induzi-lo a praticar atos ilícitos”. Nada mais que suborno. No entanto, as quantias doadas aos parlamentares citados foram contribuições para campanhas eleitorais, legais na época e, se foram declaradas à Justiça Eleitoral não foram crime. A instabilidade no Governo vai continuar até que o STF decida se o Presidente da República cometeu ou não crime de responsabilidade. Se Temer for afastado corremos o risco de ver a instabilidade com paralisação na economia continuar ate as eleições em 2018.

*Jornalista