Roberto Bueno*

O golpista Temer revelou mais uma vez o seu real tamanho e o local que frequenta com maior desenvoltura: às 22h40m recebeu Joesley Batista no porão do Palácio do Jaburu sem qualquer registro na agenda oficial, cujo teor da conversa parece ter assustado até os ratos que por ali habitam. Espécie que gosta dos porões em seus hábitos noturnos, remanesce a dúvida se teria recebido ainda altas figuras da República como políticos e magistrados para bucólicas conversas, assuntos assim nem tão ácidos, mas talvez preservando o hábito da espécie de dar vazão às suas conspirações. Depois do encontro secreto no Watergate, agora, o Jaburu conheceu também outro escândalo político em suas garagens. Não por acaso Temer evitou o registro de Joesley na portaria do Jaburu, pois como iria manter qualquer referência ao tipo de conversa que manteve? Não contava com a gravação.
Este personagem saído dos subsolos, Temer, hoje é investigado por corrupção passiva, obstrução de justiça e organização criminosa. Temer ouviu a narrativa de crimes e não tomou providências, mas ainda avançou, articulou e indicou a Joesley que fizesse contato com o deputado Rocha Loures para que recebesse milhões em seu nome. Politicamente não temos mais do que um ex-Presidente em funções, pois Temer abandonou o mandato para tornar-se um agente de interesses econômicos privados na cadeira presidencial, onde vendeu, liquidou o público para realizar os próprios interesses particulares, para manter-se alimentado com farto alpiste, tal e como a conversa no porão da República bem atesta. Temer já não pode manter a farsa de que está a governar o Brasil, pois agora mesmo irá ocupar-se, e duramente, de evitar concluir seus dias em algum dos presídios dos quais seu governo fez pouco caso.
Absolutamente, este homem que nunca teve estatura para assumir a Presidência, agora, se superou, pois perdeu todas as condições de governabilidade, posto que já não desfruta de respeito sequer da corja política de vendilhões do templo que lhe deram suporte. Paradoxalmente, neste momento se queixa de ser vítima de uma conspiração, cuja memória ainda fresca lhe recorda dos obscuros caminhos que percorreu para chegar ao poder associado com Cunha, que comprou políticos Brasil afora com os R$30 milhões fornecidos por Joesley (segundo ele próprio) para que pudesse eleger-se Presidente da Câmara Federal em sua disputa com Arlindo Chinaglia.
Temer é um primeiro-ministro terceirizado pelo grande capital financeiro que cai. Mesmo os seus mais diretos apoiadores têm claro que os seus projetos políticos nunca se realizarão com um Presidente absolutamente contaminado e que agora deixou de servir sequer como pinguela. O fato é que contra Temer já não é possível produzir provas ainda mais contundentes do que as que ele próprio realizou em sua fala franca, gravada em reunião por ele mesmo agendada em endereço oficial. Está coberto de densa lama que só um lava jato genuíno poderá limpar. Temer confessou, e do que mais precisamos é energia para empreender o caminho de regresso à normalidade democrática através do reencontro do povo com as urnas. Temer confessou, e do que mais necessitamos para compreender o grave equívoco histórico cometido é dar o justo passo rumo à reestruturação da Constituição, da democracia e das instituições. Não podemos mais hesitar em retomar o caminho da legalidade democrática para fortalecer, normalizar a vida institucional e pacificar a nação.
Engano é supor que a voz de Temer é que foi gravada, senão que ali a sua verdadeira face é que ficou ali impressa, e o que se vê é que ela não é limpa. Temer já deixou suas digitais em outras tantas gravações que o flagraram em ilícitos. Não esquecemos a gravação feita por Marcelo Calero, seu ex-ministro, e nela o Presidente pressionava Calero para que favorecesse ao seu fiel Geddel Vieira para que pudesse adquirir apartamento em Salvador. Quem já esqueceu que Temer foi citado mais de 43 vezes na Lava Jato? Quem esqueceu que Temer teria pedido dinheiro para a Odebrecht financiar o PMDB em 2010 e 2014? Quem esqueceu que Temer foi citado por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que informou que ele em pessoa negociou R$1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita em 2012? Quem esqueceu o cheque nominal de R$1 milhão emitido pela empreiteira OAS em favor de Temer? Esqueceremos que Joesley e Ricardo Saud, do grupo JBS, delataram ter negociado o pagamento semanal de R$1 milhão para o hoje afastado deputado Rodrigo Rocha Loures – segundo Temer, “de sua total confiança” – que logo reverteria a quantia em favor do Presidente para que favorecesse a empresa ao quebrar o monopólio da Petrobrás para que construísse termelétrica Cuiabá-Bolívia?
Hoje esperamos que todos os que atacaram o governo popular de forma sincera e bem intencionada percebam o quanto foram instrumentalizados apenas para que alguns homens realizassem as suas mais altas aspirações de destruir um Estado realizador de políticas redistributivistas. O modelo deste homem nefasto é Aécio Neves, que se auto-intitulou capitão da nova política, e que foi incensado como impoluto e promissor engenheiro do novo Brasil: capitão de malta. Nada mais vetusto, e velhaco. Estamos a ver como caem as máscaras, uma por uma, e por trás dos rostos bem delineados pelas ações de marketing, agora, percebemos faces putrefatas. Os capitães do golpe são homens de bens, mas nunca de bem. E agora, é que acaso a esquadrilha aérea de Aécio finalmente irá decolar?
O golpe de Estado inaugurou, de fato, um sistema parlamentar que agora ameaça legar o poder Rodrigo Maia, o sucessor, tão comprometido jurídica e eticamente quanto o seu grupo antecessor. O bloqueio precisa ser construído pelas eleições diretas. Perdendo a sua base parlamentar de forma aberta e pública o golpista Temer, se não compreender, logo o apresentarão aos fatos: será retirado de sua cadeira pelo mesmo Congresso que ali o permitiu sentar, e com a sem-cerimônia que a sua talha bem merece. Temer está absolutamente só e será derrubado nos dias seguintes à publicação deste texto no dia 22 de maio de 2017, cenário que deve ser coabitado pelas delações que envolverão ministros das mais altas cortes deste país (algum deles de origem fluminense e comprometido por Cabral), mas também os bancos e o maior setor da grande mídia estão na pauta. A nova guilhotina à brasileira arrastará ainda muitos outros mais e de maior talha do que o ínfimo Temer. A guilhotina foi acionada irresponsavelmente sem que os seus atores recordassem que adquire ela dinâmica própria, e hoje ela começa o seu democrático serviço por Aécio que deu início ao processo de criminalização da política após perder as últimas eleições presidenciais.
O Brasil não vive apenas o ocaso de um Governo derivado de um golpe de Estado cuja face visível foi uma figura do século XIX com educação pré-medieval. A patética figura de Temer em seu discurso televisado no Planalto procurando ser assertivo ao afirmar que não renunciaria recebeu meia dúzia de palmas de seu séquito. Incomum e ilustrativo: Temer está só, absolutamente. Temer tornou-se peso insuportável, pois tem um passivo muitíssimo mais expressivo do que o até agora colocado a descoberto, e o único fiador é justamente Eduardo Cunha. Temer sairá pela porta que merece da vida política brasileira: a dos fundos. Sairá através dela para a estante em que ficam arquivados os malfeitores, compartilhando espaço com os piores traidores da pátria.
Temer inventou subterfúgios impossíveis e histórias improváveis, patológico, mente, nega crimes admitidos por sua própria voz inequivocamente gravada com a clareza necessária. Culturas há em que, por muito menos, envergonhados, homens terminam por observar as sombras que carregam em suas profundezas e, insatisfeitos com o que enxergam, e do que fizeram consigo mesmos, terminam por abster-se de dar curso a tão miserável existência. Corpos há que, contudo, não se livram de suas sombras e permanecem prisioneiros à sua autoimagem como forma de buscar proteção destas suas profundezas mais abjetas. Muito brevemente Rocha Loures desligará os aparelhos. Temer apagará a luz.

*Professor Doutor