Gustavo Hoffay*

A vida é um dom concedido por Deus aos homens e donde se vê que não toca a qualquer um de nós dispor da vida da maneira que quisermos e principalmente para a nossa única e passageira satisfação. Diariamente assistimos ou tomamos conhecimento de muitas pessoas que resolvem intervir violentamente nos desígnios da Providência, maltratando a si mesmas e de maneira consciente. Às pessoas que fazem uso de drogas e nos raros momentos de sua sobriedade, digo-lhes que cada uma delas tem um papel social que deve ser preenchido, no local e no momento que Deus assinala e que, portanto, não cabe a elas deixarem-se levar por impulsões de cunho leviano. Furtarem-se de participar social e sobriamente da vida em comunidade, mesmo com todos os inconvenientes que essa possa causar-lhes, seria como a como a deserção de um soldado de alguma batalha: uma covardia em relação a sua vida, a Deus que a concedeu! Uma entrega que deprimi o ânimo de suas respectivas famílias e da própria comunidade onde estão inseridos e o que, em alguns casos, pode até causar uma psicose coletiva. Com efeito, em uma comunidade onde existe um drogado, frequentemente o uso de drogas desencadeia-se como fogo morro acima ou água morro abaixo. Em pouco mais de duas décadas de trabalho na seara “Dependência Química”, já ouvi de não poucas pessoas que um drogado deveria ser abandonado à própria sorte, por tratar-se de uma pessoa inútil para si mesma e para o bem comum, “pesada” e desagradável, insuportável e perigosa. Ora! Se a sociedade não cuida de encaminha-los a algum tratamento, não teriam eles o direito de continuar atentando contra a própria vida entre um e outro trago ou picada? Não seria o uso de drogas um ato de coragem e nobreza da parte de quem não é aceito pela comunidade dita sadia? Em resposta, faço oportuno lembrar que as pessoas beneficiam a sociedade não apenas na medida do lhe dão, do que produzem…, mas também na medida em que recebem; pode, sim, alguém servir a um drogado ou a um alcoólatra pelo fato mesmo de proporcionar a esse uma oportunidade de vida, uma vida nova! Dizia Jesus: “Há mais felicidade em dar do quem receber”. –“E a Pena de Morte? Para muitos não seria uma injusta sanção? Como, então, muitos desses serem favoráveis ao abandono de quem é escravo dos poderes originados do álcool e das drogas ilícitas? Leve-se em conta que tal abandono supõe um drogado que não deseja reabilitar-se do mundo em que está e enquanto fazendo uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, cujo estado seria um estímulo para o crime, a delinquência de outros cidadãos e à sua própria condenação à morte! Na maioria das vezes as drogas fazem vítimas de seus poderes aqueles jovens acabrunhados pelos sofrimentos que a vida impõe a cada um deles e pelos quais são sufocados antes mesmo de darem-se conta da gravidade do estado em que se encontram. E onde, nessa hora, um ombro e uma palavra amiga de quem sente-se incomodado com aqueles que deixaram-se abandonar nos tentáculos das drogas? Embora a grande maioria da população brasileira não reconheça motivos ou conjunturas em que o uso de drogas seja tido por “normal”, ela também não julga o foro interno ou a causa do uso de drogas de determinadas pessoas. Ora, isso é algo socialmente condenável, deplorável! Atira-se pedras contra quem é escravo daquelas substâncias e o governo ainda é cobrado por soluções imediatas e duradouras no combate ao tráfico e ao comércio varejista de drogas. Em toda a questão drogatícia há um só problema em todo o Brasil: restaurar nos homens o senso de uma vida sadia em sociedade e combater as inquietudes derivadas de um rol de dúvidas em relação à prevenção ao uso drogas, destarte os atuais esforços promovidos por uma e outra instituição pública. Que sejam multiplicados programas e debates nesse sentido e que os mesmos sejam incluídos como a norma de conduta sistemática de educadores, políticos e profissionais da saúde em seu dia a dia, em razão de uma multiplicidade de opiniões que se chocam e terminam por oferecer à consideração dos jovens aspectos absolutamente míopes e desconexos em relação a um assunto tão complexo quanto esse. Na da de carreatas, passeatas, caminhadas, buzinaços, faixas ou qualquer outo alarde na tentativa de frear ou diminuir o uso de drogas; traficantes e usuários riem disso e formam fileiras para, ironicamente, baterem palmas diante dessas iniciativas governamentais e institucionais. A cada ano surgem mais e mais jovens sequiosos de informações, pesquisas e debates sobre a drogadição e enquanto diminui em cada um deles o interesse em participar de eventos chamativos e barulhentos e que nada acrescentam em termos de conhecimentos e prevenção. Também nessa seara, o jovem dessa e de futuras gerações deseja que prevaleça a razão sobre a emoção, ao contrário de continuar sendo manipulado por correntes políticas ou outras que usam da sua energia e do seu entusiasmo em benefício próprio.

Presidente do Conselho Deliberativo Fundação Frei Antonino Puglisi
Ex-diretor do Conselho Municipal Antidrogas
Uberlândia-MG