Gustavo Hoffay*

Há pouco tempo amigos e conhecidos também lembraram-se do aniversário do seu falecimento, ocorrido em 25/02/2004 nesta cidade de Uberlândia e onde chegou no ano de 1.979. Seu retrato, por autêntico e real, nada encerrava de incomum. Seu viver era o cotidiano; seu proceder o de sempre. Em quase dez anos que estive ao seu lado, seu teor de vida não mudou; seu temperamento siciliano sofreu tão somente as influências da idade e da saúde. Jamais o vi fingir-se. Se sorria quando abatido por alguma tristeza ou desgosto profundo, era porque sentia com ele a dor cheia de resignação. Se repreendia algum fiel, debaixo da linguagem rude o siciliano de Bronte não conseguia esconder a profunda sensibilidade de um coração de pai. O seu modo de tratar grandes e humildes em sua casa nunca diferiu. Recebia a todos de pé, não sem antes olhar pela fresta da porta ou de alguma janela quem o chamava; perguntava pelo que desejavam e respondia com apenas três ou quatro palavras. Com um sorriso e um gesto que lhe eram peculiares, tomava visitantes em despedida pelo braço e caminhava com eles até à porta de saída. Interessante é que aquela atitude era toda cheia de naturalidade e tão invencível que quebrantava os mais exigentes de uma cortesia fidalga. Durante os anos que o frequentei, ele foi sempre assim…um incorrigível! Não mudou; não adquiriu mais solenidade e nem ganhou miudeza. Diante de algum superior da sua Ordem e de algum bispo, agia sempre com extrema deferência e humildade. E outros muitos que o conheceram em Belo Horizonte, Carmo do Paranaíba, Uberaba, Araguari e Uberlândia disseram ser aquele o seu “uniforme”, com o qual trajava sempre a sua dignidade e bondade. Nos passeios que fazíamos em seu carro, todas as manhãs e por quase dez anos, Frei Antonino apresentava-se quase sempre com um gênio expansivo, outras vezes duro e exigente. Seu temperamento siciliano argamassava do bilioso e do sanguíneo. Amigo das anedotas, quantas e quantas vezes passava “horas a fio” no convívio alegre de uma conversa que não cansava e da qual sentia-se falta nos dias de sua ausência. À doçura de São Francisco de Assis, uniu ele a dureza de São Jeronimo e a quem também, vezes tantas, pitorescamente se referia. Esmagador na repreensão , ninguém, como ele, mais afetuoso e paternal no momento de um conselho e mesmo que desferisse um leve tapa no rosto daquele (a) com quem conversava para, em seguida, rir daquele ato que lhe era próprio. A sua voz tonitruante tomava então um timbre doce, um tanto sumido entre o seu forte sotaque siciliano, que contribuía para fazer insinuante a sua palavra. Por outro lado o modo como reverberava os vícios era o mais truculento e destemido que imaginar-se possa. Não tinha complacência com aquilo que de alguma forma ia contra os ditames da Santa Igreja, nem mesmo observava conveniências sociais. Aliás, engano-me; mandou fosse confeccionado um novo terno, todo cinza, em uma pequena alfaiataria no bairro Aparecida para, nele investido, receber emocionado o Título de Cidadão Honorário de Uberlândia, uma distinta conveniência social. O linguajar com que apontava os abusos seria deveras censurável se não partisse dele que, todos sabiam, era uma autoridade moral supra comum e embutida em um coração que era maior que ele próprio. E termino aqui esse bosquejo a respeito de Frei Antonino. É demais rica de beleza a figura exponencial daquele homem, “Santo de nome e de fato”, como ele mesmo dizia a quem era apresentado e enquanto emoldurando um largo e encantador sorriso em seu rosto. A perspectiva completa de um conjunto tão lindamente complexo como foi Frei Antonino de Bronte, um homem na verdadeira e completa acepção da palavra, é muito difícil de delinear-se; o mais puro, humilde e sincero homem que conheci em décadas de existência.

Presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Frei Antonino Puglisi
Uberlândia-MG