Gustavo Hoffay*

Uma das grandes maravilhas que a vida proporciona e que chega a ser motivo de ilimitada satisfação a quem a assiste trata-se, certamente, do evento que marca a graduação de uma pessoa pelo glorioso término de uma das mais edificantes e profícuas conquistas humanas, uma vitória sobre si mesmo, sobre os seus defeitos de caráter, enquanto buscando o aperfeiçoamento da sua personalidade e ao ponto de passar a ter e priorizar atitudes positivas com a vida : a sua plena reabilitação desde a terrível enfermidade “Dependência Química”; uma aguardada e explícita demonstração de fé, esperança e superação de quem valeu-se dos próprios esforços para tornar a uma vida produtiva, sóbria em sociedade e em meio à sua família, além de passar a servir de referência a outros que ainda não tenham decidido a dar início à mesma e gloriosa jornada, a buscarem o seu norte na busca pela reconquista de si mesmos e em seguida partirem rumo a outros nobres objetivos de vida. A maravilha daquele momento é, antes, cercada de grande expectativa por todos que, de alguma forma, contribuíram para que aquele recuperando reeducasse os seus hábitos de vida, burilasse a sua personalidade e fizesse reluzir o seu caráter e a sua espiritualidade cristã, a partir de um profundo mergulho em si mesmo e com o auxilio constante de terapeutas e outros voluntários que doam-se à reabilitação de usuários compulsivos de álcool e/ou outras drogas. A pessoa que torna à prática de bons e salutares hábitos de vida, após ter concluído com louvor a sua edificante e honrosa jornada em alguma reconhecida comunidade terapêutica, embora recuperada ainda continuará sendo dependente de substâncias psicoativas e daí a suma importância de cuidar-se, diária e indefinidamente, sob o risco de reincidir em antigos hábitos drogatícios. Família e (verdadeiros) amigos têm um papel preponderante na fase inicial de sua reinserção social pós-tratamento, principalmente no sentido de valorizarem o trabalho que ele realizou em si mesmo e que foi imprescindível para a sua reabilitação, inclusive passando a freqüentar regularmente grupos de auto-ajuda e entre os quais destaco aquele que denomina-se “Amor-Exigente”, do qual sou um antigo e grande admirador. Enquanto recuperando-se em alguma clinica especializada no tratamento da dependência pelas drogas, o interno buscou e reconquistou a sua auto-estima e a confiança dos seus amigos e familiares, alem de ter desfrutado da alegria e do prazer de ter enfrentado e vencido seus medos e suas próprias limitações. Enfim, a comemoração de graduação de um dependente químico reabilitado é, sim, uma das mais sentidas e nítidas formas de expressão de poder e de superação humana, um combustível que deverá perdurar por toda a sua vida e que servirá para impulsionar a concretização de alguns dos seus mais dignos e acalentados anseios, alem ser motivo de orgulho pessoal para quem antes desprezava a própria vida e ainda amargurava a vida de quem lhe era próximo. Eu, dependente químico reabilitado, jamais reconquistei os bons cargos e funções que ocupei em minha vida pregressa e sequer tive de volta a convivência diária com meus três primeiros filhos, mas conquistei uma sobriedade e uma espiritualidade plenas, que permitiram-me praticar a humildade e ter a aceitação necessária para viver em paz, produtivo, socialmente realizado, ser pai pela quarta vez, testemunhado o nascimento das minhas netas e enquanto cercado pelo carinho e incentivo de pessoas realmente amigas. Quem ainda não decidiu tratar-se em função daquela sua doença, sugiro que o faça de imediato e passe a abraçar a vida não apenas por conveniência, mas também pela satisfação de buscar prazeres que não sejam imediatos, ilusórios e passageiros e sim duradouros, benéficos e compartilháveis. Drogas, nunca mais!

*Presidente do Conselho Curador da Fundação Frei Antonino Puglisi
Ex- diretor do Conselho Municipal Antidrogas
Uberlândia-MG