Gustavo Hoffay*

Os problemas relacionados à doença “Dependência Quimica” , tida e reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como a um grave transtorno mental (alterações no funcionamento do cérebro e de conseqüências graves e imprevisíveis principalmente a quem faz uso abusivo e compulsivo de drogas psicoativas) gerador de outras doenças e até fatal, já há tempos vêm sendo pesquisados, estudados, analisados e esmiuçados por profissionais da saúde de diversos países. Em todo o mundo estima-se que um número aproximado de duzentos e cinqüenta milhões de pessoas são usuárias de algum tipo de droga ilícita; no Brasil calcula-se que o número chegue a vinte de milhões de consumidores habituais e sendo que, desse total, quatro milhões infelizmente já alcançaram o nível de dependentes daquelas substâncias ( apenas em Uberlândia essa quantidade pode chegar a oitenta mil pessoas em algum grau de dependencia e considerando-se parâmetros adotados pela Organização Mundial de Saúde). Ainda estatisticamente, calcula-se que apenas dois em cada grupo de dez “recuperandos” em tratamento irão alcançar a sobriedade definitiva. Enfim, um gravíssimo caso de saúde pública e que afeta, direta e indiretamente, familiares e amigos próximos do usuário já em estado mentalmente comprometido por aquela enfermidade, analisando-se sob o aspecto emocional e estendida a qualquer estágio de dependência ou de graves transtornos de personalidade e de conduta. Por quase vinte e cinco anos venho acompanhando e auxiliando dependentes e co-dependentes em tratamento e acredito já ter vivenciado todos os tipos de problemas relacionados a essa doença, além de quatro cursos universitários e breves estágios em clinicas de reabilitação nos Estados Unidos. Não, absolutamente não é minha pretensão ufanar-me de tudo isso, porque amor não se ufana; não preciso de holofotes para continuar fazendo o que gosto, por ter passado o que já passei e por cuidar de dependentes sem me gabar, pois o amor por uma causa não deve ser pessoalmente vangloriado. Por essas e outras razões( que não cabem aqui ser destacadas), coloco-me publicamente adepto de algo que, confesso, em passado distante já fui contra mas que, depois de analisar e avaliar pela enésima vez, hoje sou inteiramente a favor e também em razão de algumas importantes considerações de profissionais ligados à área da saúde mental: a internação involuntária de pessoas cientificamente reconhecidas na qualidade de dependentes químicas e desde que, obviamente, encaminhadas a alguma instituição especializada e oficialmente reconhecidas no trato daquela doença, respeitando-se limites legais e de forma, claro, a não tornar tal procedimento em algo parecido à passagem por uma masmorra. Pareceres e indicações de profissionais da medicina e da saúde mental deverão ter peso consideravelmente alto em uma decisão daquela magnitude, observando-se ainda parâmetros legais e regidos pelo Ministério Público. Os termos “obrigatório” e “involuntário” podem até causar um certo receio ou constrangimento em grupos de pessoas democráticas e religiosas, mas a minha experiência naquela área já provou a mim mesmo que recuperar um dependente compulsivo de drogas a partir do próprio meio social e familiar em que vive, tratar-se-ia de uma missão atrevida e quase que totalmente impossível, dado que os seus parentes e amigos próximos são afetados por aquela doença e portanto, também, padecem de transtornos de origem psicológica e por isso necessitados de cuidados que possibilitem a sua própria reabilitação, de maneira a prepará-los para receber, em definitivo, aquele ente querido e em tratamento em alguma comunidade terapêutica oficialmente reconhecida.

*Ex-diretor do Conselho Municipal Antidrogas
Presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Frei Antonino Puglisi
Uberlândia-MG