Autor: Rafael Moia Filho*

Perdoamos uma criança que tem
medo de escuro facilmente.
A verdadeira tragédia da vida é
quando homens têm medo da luz (Platão).

Segundo a psicóloga americana Jean Twenge da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, responsável por pesquisas sobre as atitudes dos jovens hoje e no passado, houve um aumento acentuado na autoestima de adolescentes desde os anos 1980. A geração mais jovem se considera mais inteligente, responsável e atraente do que nunca.
Em parte isso ocorre pelo fato de que a criança cresce ouvindo frases como : “Você pode ser o que quiser na vida, você é especial”. As crianças crescem num regime constante de narcisismo, mas assim que nos soltam neste mundo complicado de oportunidades escassas, cada vez mais gente da nossa geração sofre decepção e fracasso. Segundo Jean, o mundo, descobrimos, é frio e cruel, marcado por competição excessiva e por desemprego.
Não é aquela Disney que os pais e demais parentes diziam para você quando criança. A magia de pensar que era só pedir e as coisas aconteceriam como por encanto não existem e ficam claras com o passar do tempo para todos os jovens.
No fundo esse narcisismo acoberta um oceano de incerteza, os jovens acabam sendo mais medrosos e temerosos do futuro que enfrentaram sozinhos.
Ao comparar 269 estudos conduzidos entre 1952 e 1993, Jean Twenge concluiu que a criança média na América do Norte no início dos anos 1990 era mais ansiosa que os pacientes psiquiátricos no início de 1950. De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, a depressão se tornou o maior problema de saúde entre adolescentes e será a causa numero 1 de doenças no mundo inteiro até 2030.
Esses dados embasados em estudos sérios que consumiram anos de trabalho árduo da psicóloga Jean Twenge servem como reflexão para nós brasileiros, que estamos longe de viver num país onde os jovens possam desfrutar de condições adequadas para crescer, estudar e principalmente exercer suas profissões obtendo salários compatíveis com suas carreiras.
O que vivenciamos atualmente é uma geração que não aprendeu a ouvir um “não” de seus pais. Não recebeu deles imposições e limites que deveriam nortear suas vidas pessoais e profissionais. Uma geração que desiste antes de lutar, prefere a violência ao ouvir um não da parceira e deixa de estudar para se jogar num mercado de trabalho que exige cada dia mais capacitação.
É com profunda preocupação que assistimos o desperdício de uma geração a frente de futilidades, redes sociais, banalidades enquanto nos países desenvolvidos estão focados em ensinar aos seus jovens inteligência artificial, machine learning, big data, business e demais assuntos que enriquecem currículos e capacitam-nos para o futuro.

Fontes: Jean Twenge e Rutger Bregman (Utopia para realistas)

*Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.