José Carlos Nunes Barreto*

“Os jornais costumam noticiar a queda de aviões Bandeirantes com mais de 30 anos de fabricação, e superlotados, em uso corrente na Amazônia, matando famílias inteiras”

Após a pane, uma saída é o piloto tentar repetir o pouso heroico no rio Hudson em Nova York, mas aqui, na maioria das vezes, encontra toras de madeiras submersas, precipitando os desastres. Nas mídias, aparecem os dramas familiares, agravados pelo fato de que, normas de segurança são constantemente desrespeitadas, ao não se contabilizarem dezenas de crianças viajando em colo de parentes. O órgão que deveria fiscalizar não faz seu papel, ou faz vista grossa , numa região carente de transporte, e em que uma viagem fluvial, também insegura, com gaiolas superlotadas, leva vários dias.

Este fato, tipificado como acidente, infelizmente é uma rotina no Brasil, seja no ar, seja na água, seja em terra firme: estradas, chão de igreja, chão de fábrica, chão de loja ou chão de escola. Nas ruas, temos algumas dezenas de milhões de veículos, e chama a atenção o número cada vez maior de carros, rodando sem a mínima condição de segurança. Sem manutenção de freios, com pneus carecas, e sistema de suspensão vencido, e sujeito a quebras repentinas (situação agravada pela recessão e ausência de recursos por parte do usuário, para fazer os reparos tempestivamente).

O País flerta com o abismo na questão de acidentes. Não deveria. E há muito parou de contabilizar os prejuízos com a falta de prevenção de acidentes, na contramão do Mundo, que acaba de celebrar o lançamento da ISO 45001, em meados de 2018, justamente para estancar esta sangria… Refletida nas incontáveis perdas de vidas, subtraídas de nosso capital humano, além do elevado custo social com as sequelas de acidentes. Vide Mariana e Brumadinho – histórias tristes e recentes, de como grandes empresas brasileiras, players mundiais, não investiram adequadamente em avaliação de risco e segurança, gerando mortes, destruição de valor, e ,prejudicando estas e futuras gerações, o que é absolutamente imperdoável.

Pois até as pequenas e médias empresas, já estão operando a gestão integrada da saúde e segurança do trabalho, do meio ambiente e da qualidade, baseadas nas normas internacionais, ISO9001, ISO 45001 e ISO 14001. Onde os empresários fizeram as contas, e perceberam o enorme retorno que uma empresa tem, quando passa a eliminar as causas de acidentes e quase acidentes, utilizando-se para isso, as Ferramentas da Qualidade, e as boas práticas de gestão.

Schopenhauer, em 1860, afirmava:” Podemos pensar o que ninguém pensou, sobre algo que todos veem”. Há uma cultura de descaso com a segurança no País, no dia a dia, principalmente nas famílias: Crianças morrem afogadas em baldes dágua, ou, ficam marcadas para toda vida por queimaduras, devido à falta de prevenção e educação para segurança, das mães; Marquises de prédios e tetos de igrejas, hospitais , e escolas, desabam como castelo de cartas, por falta de manutenção e cuidado técnico básico, enfim, por pura falta de gestão.

Por isso, palmas para pastores de almas, que renovam telhados de igrejas, e cuidam de extintores de incêndio; para prefeitos, que reformam marquises de velhos mercados municipais, recuperando a arquitetura do século passado, como em SP, BH e Uberlândia. Tal modelo de gestão evita acidentes, preserva vidas, e, no caso das cidades, cria espaços culturais e de lazer fundamentais à Polis urbana.

*Pós doutor e Sócio diretor da DEBATEF Consultoria