Amaury Paixão*

A principal política pública, neste momento, é a participação e interesse nas decisões da reforma da previdência, conduzida pelo ministro plenipotenciário banqueiro Paulo Guedes.
Cristãos católicos são interpelados pelo gosto folgazão do desfrute dos feriados da semana santa, enquanto uma população menor se mantém na obediência e devoção piedosa à liturgia estendidas nas paróquias de todo Brasil, cerca de 10.000 ou 15.000, para os mais otimistas. Por isso, ainda são milhões que se resignam aos devocionais e fervores católicos nas celebrações da paixão e páscoa de Jesus Cristo. Com amor à nossa pátria, a cidadania vigilante é movida pela ética pascal, a passagem e instauração do reino de Deus – civilização do amor.
Os economistas, de esquerda, centro e direta, de oposição ou apoiamento ao novo governo, estão em concordância que, caso a sociedade de nosso país não mude seus costumes consumistas-compulsivos, e assuma convictamente o desafio de agir praticando poupança e investimentos na produção, não será possível a superação deste grave momento de transição e estagnação econômica, que se arrasta durante décadas de ausência de responsabilidade fiscal.
O entendimento para a população – aquilo que é mais difícil, na prática – que a nação numa sociedade liberal capitalista somente tem um jeito, sólido, eficiente e fundamental de criar prosperidade: reduzir a evolução e extensão dos rendimentos salariais e aumentar e expandir os rendimentos dos lucros empresariais que serão aplicados em poupança e investimentos produtivos.
O assistencialismo das belas e boas almas cristãs não pode atingir o núcleo da incapacidade brasileira de fazer e praticar justiça social. Ensinam os bispos do Brasil: Politicas Publicas não são a individualidade de obras de caridade exclusivas, e voluntária assistência social aos pobres. São benvindas essas práticas caridosas, porém insuficientes para estabilizar uma projeto de governo contra a pobreza e desemprego.
A nosso páscoa cristã, a caminhada ao pentecoste e a civilização do amor -igualdade, liberdade e fraternidade – serão vivas, atuantes e cotidianas, somente se os líderes e militantes cristãos abraçarem o desafio da luta entre lucro e salários neste Brasil que elegeu o liberalismo, capitalismo e democracia representativa parlamentar.
Noutras palavras, somente a contenção dos rendimentos salariais, em sentido macroeconômico, e o respectivo aumento dos lucros empresariais podem alavancar o crescimento econômico e acelerar o desenvolvimento e prosperidade da nação brasileira. Em nossa base social de fundamento capitalista não existe outra alternativa.
As políticas públicas com justiça social têm de sair do emocionalismo assistencialista. O coração pascal dos católicos responsáveis precisa racionar, motivar a cidadania vigilante de que o sacrifício vai ser muito maior para o povo assalariado, pobres e idosos na conclusão da reforma da previdência, não por maldade de ninguém, mas em razão da lógica inexorável de combate à pobreza numa política liberal e ordem econômica capitalista.
A principal política pública do Brasil, hoje, é o corte das despesas com a previdência e seguridade social. A ética cristã pascal sente na própria carne das pessoas de fé, a dor do desemprego, a angustia da fome, o sofrimento da precária saúde pública; abandono dos idosos, agressão e rapinagem da natureza e meio ambiente.
Qual é o magistério da igreja católica para se enfrentar esse confronto e contradição entre salário e lucro? Assumir um modelo político comunista e socialista não é o ensinamento e diretiva dos bispos do Brasil. Fechar os olhos a realidade espoliadora do povo, também não é cristão e muito menos coerente com a tradição católica. Estamos, sim, pregados na cruz, pendurados na calvário, no madeiro da contradição! Prosseguindo nesse caminho estreito, como o profeta Jeremias, arcando com nossa cruz. Não renunciar nunca o desafio da justiça social. Esclarecer em nossa consciência de que a imposição nos cortes das rendas salariais é o único plano apresentado pelo atual governo ao nosso pais e à combalida sociedade brasileira. A acumulação e predominância dos lucros empresariais serão a decisão vencedora nas reformas da previdência; isso se o povo brasileiro quiser excluir a semelhante desgraça da dissolução econômica da Argentina que chega até nossa fronteira, e bate à nossa porta.
Vamos excomungar a crítica fácil. Se a gente quer usufruir das benesses do capitalismo temos de pagar o preço e o salário do pecado. Será o resultado de mortandade, maldição e infortúnio dos segmentos sociais mais fracos e impotentes. Já vem acontecendo este genocídio, hoje, debaixo de nossos olhos, em grande parte dos continentes. Esquecidos dos holofotes das redes de televisão, atingidos pela desgraça, padecem bilhões de pessoas nesta humanidade global.

*Advogado e Sacerdote.