Gustavo Hoffay*   

Nasci em Belo Horizonte e desde cedo fui criado por uma família cujos princípios morais e de convivência social eram, também, quase comuns à grande maioria das famílias daquela época (anos 60). Qualquer dos membros da família à qual eu pertenço e da mesma forma que os meus professores e outras autoridades, eram dignas de respeito e admiração. Os mais idosos, então, eram cercados de afeto e não precisava da existência de leis que pudessem garantir-lhes o mínimo de respeito a partir de quaisquer outras pessoas. Professores, então, presumíamos serem autoridades intocáveis em seus pontos-de-vista, opiniões e discernimentos e mesmo porque eram pessoas rigorosamente selecionadas e preparadas a lecionarem de acordo com os mais rígidos costumes sociais da época. E nós, alunos, levantávamos de nossas “carteiras” a cada vez que os mestres ou visitas adentravam a sala de aula  onde, diariamente, só tínhamos acesso depois que fosse entoado o Hino Nacional no pátio da escola e recebêssemos as boas vindas da parte da diretora ou de alguma das suas representantes. Era um ritual diário e que incutia-nos a importância de estarmos ativamente relacionados a uma necessária disciplina social e hierárquica. Responder a qualquer servidor escolar com palavras ou gestos absolutamente incompatíveis com uma saudável vida em comum, era algo inadmissível e ao mesmo tempo passível de alguma exemplar punição e sem que pais ou organizações governamentais se atrevessem a interferir no rígido regime escolar daquela época. A qualquer pessoa adulta, cabelos brancos ou não, militar ou civil, pobre,rica negra ou branca era absolutamente inadmissível respondermos de maneira deseducada. Não tínhamos medo de supervisores ou orientadores escolares, policiais ou inspetores disso e daquilo; por eles tínhamos grande respeito. Enquanto criança sentíamos medo, sim, de sapos e assombrações, do escuro e de sons misteriosos que chegavam desde o quintal, acreditávamos em mulas-sem-cabeça e lobisomens. Fico muito triste, hoje, por nossas crianças conviverem com alguns que acham-se “autoridade” e com eles aprenderem que violência tem sentido, que mentirinhas são desculpáveis, que idosos são seres descartáveis, incômodos  e  desprezíveis e que crimes, de qualquer natureza, até podem ser considerados como aceitáveis, digeridos por uma sociedade que não tem tempo de julgar comportamentos sociais e familiares mas que, ao mesmo tempo, acha-se normal.  Hoje sinto uma tristeza infinita por tudo de valor moral e ético que perdemos e por tudo que os nossos descendentes um dia irão temer ainda mais, caso persista essa atual escalada de desrespeito e indisciplina  em nossa sociedade, tida por “moderna” e auspiciosa; entristece-me também o olhar amedrontado de crianças, jovens e velhos. Já tornou-se desgraçadamente banal matar pais, avós, violentar crianças, seqüestrar, enganar, assaltar, roubar e tudo isso ser esquecido após um breve intervalo comercial; amanhã repete-se tudo novamente e…depois e depois!  Policiais que matam criminosos e mesmo que em legítima defesa pessoal ou da comunidade tornam-se réus, agentes de trânsito que multam infratores são tratados como a exploradores e policiais em blitz rodoviárias ou urbanas são tidos por abusadores da autoridade com que estão oficialmente investidos; presidiários utilizando celulares ou promovendo churrascos com farto consumo de álcool e outras drogas, são tratados como vítimas da sociedade e quase com os mesmos direitos que nós, cidadãos comuns, enquanto têm deveres limitados e direitos (humanos) ilimitados. Dívidas quem paga é otário, banca o idiota e enquanto criminosos do colarinho branco são vistos por comissões parlamentares na condição de  “coleguinhas injustiçados”. O que está acontecendo nesse país, onde em breve as escolas deverão revistar os seus alunos  e professores poderão lecionar armados?  Mestres esmurrados em plena sala de aula, comerciantes trabalhando atrás de grades, vândalos saqueando lojas e explodindo caixas eletrônicos, políticos corruptos sendo julgados pela Justiça Eleitoral ao contrário de o serem pela Justiça comum  e crianças dormindo sob lajes em grandes centros urbanos….!  Prioriza-se mais um baseado do que um cigarro, uma cafungada no pó do que um copo de vinho,  uma cachaça do que um sorvete…Jovens presentes e pais ausentes!  O Brasil implora por paz, justiça, amor e ordem, educação, saúde e trabalho. Exijo de volta o direito de poder sentar tranquilamente com os meus filhos na calçada e não ser importunado, a retidão do caráter, as conversas “olho no olho”, a esperança e a verdadeira alegria de ser gente comum. Solidariedade, amor,  fraternidade, ética, moral e respeito não têm preço…mas têm um valor inestimável! Sejamos diferentes, sejamos simplesmente…gente!

Agente Social – Presidente Conselho Curador Fundação Frei Antonino Puglisi – Uberlândia-MG