J. Carlos de Assis

A direita trata Jair Bolsonaro como boi de piranha. Segundo sua estratégia tosca, Bolsonaro atrairá para si a ira da esquerda e do centro civilizado enquanto ela, a direita não civilizada e o centro tradicional, despolitizado, seguirão o boi tucano fora da corrente de sangue rio abaixo. Seria uma analogia para uma bela estratégia se Bolsonaro não fosse um cavalo selvagem preparado tanto para ganhar quanto para não ganhar as eleições.
A falta de carisma de Bolsonaro é compensada pela poderosa intuição. Ele vê o Brasil de maneira simples, igual ao povão, como um Estado caótico e uma Nação sem destino. No momento, é isso mesmo. Ou o Brasil sob Temer e sua equipe ocupada exclusivamente em se livrar de acusações de corrupção tem alguma direção? E o que nos oferecem os 12 candidatos presidenciais quanto ao futuro em relação ao ponto crucial das suas preocupações, a violência?
Sim, porque esses candidatos das elites políticas e das classes dominantes rigorosamente nada tem a falar sobre violência, preferindo manter-se nos chavões de sempre, inclusive repetindo o mantra vazio do apoio à saúde, educação e emprego. Sob esse aspecto, a retórica de Bolsonaro é muito mais eficaz porque simplifica o problema da violência na proposta de ataque físico aos criminosos, inclusive pela eliminação de uns 30 mil, e na criminalização brutal dos menores infratores.
Um amigo que conversou longamente com Flávio Bolsonaro, candidato ao senado no Rio com grandes chances de vencer, ouviu dele que a estratégia do pai não é tanto vencer as eleições, mas sim estabelecer-se como única liderança de extrema direita do país com uma ampla base de votos e de apoio dos desesperados contra a violência. Nos cálculos dele, como nenhum dos outros candidatos tem real condição de estabilizar o país, ele salvará o Brasil do caos com uma ditadura civil por ele desejada como única saída.
Essa estratégia nos coloca na seguinte situação: Bolsonaro ganha se ganhar as eleições, e Bolsonaro ganha se perder as eleições. No poder, ele salvará o Brasil recorrendo aos métodos de Pinochet, a saber, com a eliminação física dos oponentes. Como na Alemanha nazista, parte da direita e do centro sem caráter se comporão com ele, e as classes dominantes, mais uma vez repetindo a performance nazista, se apressarão a aderir como costumam fazer nas ditaduras de direita. A Globo fará isso. Daqui a 40 anos pedirá desculpas.
O núcleo da equipe de nazistas está formado. Acima Bolsonaro. Por um lado o general Mourão, com o notável cabedal de ignorância política e de extrema audácia retórica, e de outro Paulo Guedes, um Chicago boy que gostaria de ter participado da equipe de facínoras que comandou a política econômica do ditador chileno. Será em torno desse núcleo que se formará o governo Bolsonaro. A nós, os progressistas, aí incluídos esquerdistas e direitistas de boa fé, nos restará a saudação dos gladiadores: Ave César, os que vão morrer te saúdam!
Há saída para essa armadilha? Temos um grupo determinado a construir uma. Criamos para isso o Movimento pela Democratização do Congresso Nacional, destinado justamente a estabelecer, de forma suprapartidária, condições sólidas para a eleição de um Congresso progressista, verdadeiramente democrata, comprometido com os valores da soberania e da defesa de uma política econômica que garanta progressivamente o pleno emprego. Nesse caso, não pretendemos inventar nada: propomos simplesmente uma política keynesiana.
Foi a política que tirou os Estados Unidos e a Alemanha do buraco no início dos anos 30, no tempo conhecido como o da Grande Depressão. A receita para isso é simples. Criar, a partir dos recursos do Estado, inclusive pelo aumento da dívida e da emissão monetária, uma expansão da demanda agregada, ou seja, do poder de compra das pessoas. Com gente comprando terá gente produzindo. E com gente produzindo terá o aumento do emprego. Tudo isso sem inflação, pois parte-se de uma situação depressiva, que admite aumento do déficit público sem aumento de preços.
Essa política econômica é o exato oposto do que querem economistas como Paulo Guedes, que se colocam a serviço do sistema financeiro especulativo, ancorado em taxas de juros elevadíssimas, sobretudo no Brasil. Esses não querem dívida pública, exceto quando a dívida pública é operada como instrumento de escravização da sociedade por força do aumento dos juros. Criminosos econômicos como Joaquim Levy, do governo Dilma, Antônio Palocci e Henrique Meirelles estariam pendurados num poste, caso o povo tivesse conhecimento dos privilégios absurdos que eles garantiram aos ricos com sua política.
Mas voltemos à saída, rejeitando-se a atitude de sentar-se no meio fio e chorar. É preciso, como disse, que elejamos uma maioria no Congresso Nacional. Criamos para isso um site (frentepelasoberania.com.br), e estamos implementando-o através de comitês por todas as capitais e grandes cidades do país. Visite o site e verá que não estamos brincando. Temos excelentes analistas políticos, econômicos e geopolíticos. Você não se arrependerá de fazer-nos uma visita para conhecimento do nosso trabalho, numa atitude que esperamos permanente pelo menos até as eleições.
Você sabe perfeitamente que internet vale mais pelo número dos que lêem de que pelo número, e mesmo pela qualidade de quem escreve nela. Assim, sua contribuição ao nosso Movimento não será por dinheiro, mas simplesmente por uma visita. É claro que como você já está lendo esse artigo o convite é redundante. Por isso peço a você que compartilhe esse artigo e nosso site com todos os seus companheiros que dividem com você e conosco essas preocupações com as eleições de outubro.
Operacionalmente, os comitês do Movimento pela Democratização do Congresso terão duas funções: apontar os vendilhões da Pátria e da soberania que estão atualmente no Congresso, e identificar aqueles em quem podemos confiar. Ao lado disso, teremos a indicação de novos candidatos, devidamente qualificados. Todos os candidatos que apoiaremos, por sua vez, deverão assinar um Decálogo de Compromisso que nos garanta um mínimo de propósito comum em seu desempenho no Parlamento. Para a economia, a essência do Decálogo é o compromisso com uma política keynesiana.

*Professor de Economia e jornalista. Autor dos livros: A Chave do Tesouro: Anatomia dos escândalos financeiros: Brasil, 1974-1983; Os Mandarins da República: Anatomia dos escândalos na administração pública, 1968-1984; A Dupla Face da Corrupção e Os sete mandamentos do jornalismo investigativo.