Gustavo Hoffay*

Programas diários em emissoras de rádio e de televisão há muito vêm propagando o crime de tal forma que, ao contrário de fazerem um jornalismo de informação e ao mesmo tempo de prevenção à criminalidade, comumente terminam promovendo ações deletérias e, portanto, prejudiciais à formação de pessoas que não têm um necessário discernimento de filtrar e discernir corretamente o que assistem e o que ouvem. Chegamos ao ponto de assistir, passivamente e no conforto de nossas casas, a uma dose de glamourização da bandidagem por meio de apelidos, até pomposos, dados pela própria imprensa aos delinquentes e como se esses fossem nossos velhos amigos e companheiros de todas as horas em clubes e botecos da nossa cidade: “Xaropinho”, “Pão com Ovo”, “Manteiguinha”, “Erótico”, “ Vovô Tarado do Bananal”, “Surfista do Pó”, “Trek do Amor”…..e por aí segue! Além do que, não é incomum assistirmos longas entrevistas com criminosos, como se esses fossem grandes astros da tv, da música pop ou do cinema e ainda reportagens “especiais” onde são exibidos exaustiva , diária e retumbantemente via satélite para todo o Brasil e até em horários impróprios, imagens e narrativas muito bem produzidas de fatos grosseiros, repugnantes. Observe-se que é considerável o número de criaturinhas imberbes “ligadas” à programação de emissoras de tv que possuem uma concessão do governo e o que, em tese, deveria servir para faze-las cumprirem uma série de regras em relação à uma programação que estimule uma cultura sadia. O número cada vez maior de crimes em nossa pátria deveria tornar-se em um estímulo para que a imprensa pudesse, sim, divulgar e repicar notícias que motivassem a prática de uma vida sadia em família e sociedade, de tal modo que ajudasse a instaurar o incentivo de uma convivência social amistosa, ordenada. Programas de televisão que “glamorizam” crimes e até com requintes característicos de superproduções ou de suspense e ao melhor estilo Hitchcock, não imunizam a sociedade contra a violência e em qualquer dos seus dramáticos matizes, mas existem para engordar a conta bancária dos seus apresentadores e produtores, além de aumentarem as vendas dos produtos ali anunciados e enquanto ganham a atenção de um público que, muito infelizmente, parece extasiar-se com a desgraça alheia e ainda a difunde por meio de comentários via Whatsapp ou em lotados ônibus urbanos. Informações manipuladas de forma a agradar tal cativa assistência e que usam da violência como a algo paralelo à sua própria condição de vida, trazem em si um grande potencial de gerar o pânico e subliminarmente sugestiona telespectadores a tomarem atitudes de risco ou mesmo sofrerem algum tipo de transtorno paranoico. Se cabe à imprensa informar sobre ocorrências criminosas, então que elas sejam sucintas e objetivas, livres de qualquer produção que exalte cenas ou comentários que possam gerar sentimentos contrários à ordem social. O recente caso do sequestro e consequente assassinato de uma adolescente no interior do estado de São Paulo, por exemplo, gerou e continua a motivar uma série de reportagens que exploram o ocorrido e o que termina, penso, até a faltar com respeito à memória da vítima e ao luto da sua família. A violência é crescente, sim, mas reportagens especulativas acabam por promover um convencimento desleal em muitas das pessoas que as assistem e podem tornar-se a causa principal de uma neurose coletiva. Em se tratando de divulgar uma violência que até supera a capacidade policial de combatê-la, a imprensa pode ser luz, esperança, alento, guia, motivo de reflexões aprofundadas em questões sociais e desde que não a tratem como a um mote para espetaculares produções ou matérias de programas jornalísticos patrocinados por grandes empresas sempre de olho na audiência e no lucro. Por tudo isso convém que notícias sobre assassinatos e estupros, por exemplo, não impliquem em traição ao desejo de milhões de pessoas de terem uma vida mais justa e pacífica. A união de sentimentos positivos e afetos comunitários independe de noticiários que tratam a criminalidade com pompas de grandes espetáculos dignos de uma Broadway. Famílias inteiras, enquanto telespectadoras e ouvintes, não podem continuar servindo, direta ou indiretamente, de instrumentos para a elevação dos níveis de audiência e um consequente lucro dessa ou daquela emissora que difunde o mal a partir de programas que exploram a desgraça alheia, estranha fonte de curiosidade e de satisfação pessoal para muitos. Evidentemente não é a informação sobre práticas criminosas que deve ser suprimida da vida diária de qualquer cidadão, mas o ideal é que ela exprima fatos àquele respeito de maneira mais responsável, livrando as famílias de notícias que levem cenas, informações e sentimentos trágicos para dentro de suas casas. Apregoar massivamente a violência e de forma a torna-la uma garantia de lucro fácil para aqueles que a divulgam via Embratel, é algo que escapa à lógica do momento presente. O que precisamos é da divulgação de boas oportunidades de vida, de exemplos de solidariedade e de ordem e progresso para a população, de maneira a disciplinar imaginações e as condutas diárias de um número cada vez maior de brasileiros. A vida pede passagem e cabe a nós deixa-la fluir sem o gosto amargo de reportagens indigestas. Notícias sim, jactâncias de acontecimentos grotescos e na forma de grande espetáculos, não.

*Agente Social – Uberlândia-MG