*Cesar Vanucci
“Essa novela golpista não vale a pena ver de novo”.
(Antonio Luiz da Costa, educador).
Pra falar verdade, ninguém foi totalmente pego de surpresa com a identificação dos autores da intentona golpista. Afinal de contas, as digitais dos implicados no atentado antidemocrático estavam profusamente espalhadas por tudo quanto é canto investigado. As provas arrasadoras, meticulosamente colhidas e sistematicamente liberadas pela Polícia Federal e divulgadas pela mídia sinalizavam, desde o começo, o que estava por vir na hora fatal da designação dos nomes, sobrenomes, endereços e CPFs da patota sediciosa.
A delação premiada do Tenente Coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro, abriu as comportas das revelações incriminatórias. A ela juntaram-se adiante, entre muitos outros indícios, os impressionantes depoimentos de dois militares de alta graduação, reputação e credibilidade irretorquíveis, ambos integrantes do ministério de um governante que se empenhava, obsedantemente,em golpear de morte as instituições democráticas. O ex-ministro do Exército, Marco Antonio Freire Gomes e o ex-ministro da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr., ouvidos como testemunhas pela PF, relataram com riqueza de detalhes, o que ocorreu nos bastidores do Palácio do Planalto na urdidura da conspiração. Foi um desfile de informações estarrecedoras. Deixou muita gente de queixo caído. Como é possível, a essa altura de nossa evolução democrática, algo assim, ser engendrado, em desafio tão insolente à consciência cívica da nação? Durante as oitivas o General e o Brigadeiro mencionaram as pressões e constrangimentos vividos nos contatos com a antiga cúpula governamental. Registraram sua enfática recusa em participar da conjura. Condenaram a atitude de Bolsonaro, chegando a dizer-lhe, em certo momento, ser ele passível de prisão em razão das ilicitudes praticadas. Confirmaram que todas as avaliações feitas por organismos altamente qualificados, inclusive as Forças Armadas, atestaram, peremptoriamente, a lisura das eleições e a fidedignidade dos dados extraídos das urnas eletrônicas, ao contrário do que foi propalado pelos interessados na quebra dos dispositivos democráticos.
A ruptura institucional com a implantação de um regime de exceção objetivada na trama colocada em andamento pelo ex-presidente com o conluio de outros personagens destacados na vida pública, não se concretizou em plenitude por diversos alvissareiros fatores. O primeiro deles foi a amadurecida consciência da sociedade brasileira. Mantendo presentes na memória lances trevosos do passado, a opinião pública repele toda e qualquer tentativa extremista de violação dos preceitos democráticos. Outro fator digno de nota foi a incontinenti reação dos Poderes Constituídos às manobras golpistas. Pesou também e muito na resistência à ação desagregadora dos plantonistas da ditadura o posicionamento legalista das Forças Armadas, como exemplificado na conduta dos dois chefes militares citados.
Esta impactante e nefasta investida antidemocrática, abortada, nos efeitos mais danosos almejados pelos conspiradores, caminha na direção dos indiciamentos e julgamentos de seus autores. Paralelamente aos fatos relacionados ao golpe propriamente dito, aproximam-se também do desfecho investigações sobre outras cabulosas façanhas envolvendo os mesmos manjados personagens.
A novela golpista chega a seus últimos capítulos. A esperança de todos é de que as cenas vividas jamais voltem a ser exibidas.