José C. Martelli*

O Brasil perde uma grande mulher, porreta, no auge do sucesso e criatividade, fenômeno de massas. A tragédia abala e unifica o povo pela dor do desaparecimento do artista popular. Em 24 de junho de 1935, a Argentina entrou em trauma com a morte, aos 35 anos, de Carlos Gardel, o Rei do Tango, em desastre aéreo nas montanhas de Medellín, Colômbia; em 27 de setembro de 1952, aos 44 anos, era a vez de Francisco Alves, o Rei da Voz, se espatifar num desastre automobilístico, em Pindamonhangaba; e em 2 de março de 1996, o país era sacudido pelas mortes dos Mamonas Assassinas, 9 rapazes na faixa dos 25 anos, representantes do chamado Rock Cômico, desaparecidos na Serra da Cantareira, igualmente, em desastre aéreo.
Hoje Goiânia e o Brasil choram e estremecem na despedida do talento de Maravilha Mendonça, autora de sucessos que entusiasmaram seu fabuloso público, algo como o dos Beatles: “Alô Porteiro”, “Bebaça”, “Amante não tem lar”, “Ciumeira”, “Como faz com ela”, “Estranho”, “Festa das Patroas”, “Infiel”(sensacional), “Esqueça se for capaz”, “Vai embora que ele vem atrás”, “Sem sal”, “Supera”(grito de guerra), “Vira homem”…São mais de 320 gravações, um ritmo semelhante ao de Noel Rosa, Chico e poucos outros.
Promessa precoce que se cumpriu em matéria de arte popular, Maravilha Mendonça tocou no nervo solto da agressividade machista nacional contra a mulher que ela cantou mobilizando milhões. Pode se dizer que a luta feminina tem um marco: antes e depois de Marilia, na era da internet e das redes sociais. A política tenta se apropriar dela: presidente da República, presidente do Senado, da Câmara, do Tribunal Superior Eleitoral se pontificaram no Jornal Nacional. Pela sua luta em favor do feminismo contra o machismo, Maravilha Mendonça se alinha à vanguarda que a esquerda, historicamente, representa contra a direita, que tem caso histórico de repulsão à liberdade da mulher na luta pelos direitos humanos.

*Advogado e professor – Espírito Santo do Pinhal – SP