Antônio Pereira – Jornalista e escritor

Acontece no Japão, você fica sabendo exatamente no momento em que acontece. Mas, antigamente, não era assim. As notícias mais rápidas chegavam a cavalo, ou melhor, a mula, que andava mais devagar porém ia mais longe.
Na época da Guerra do Paraguai, por exemplo, as notícias chegavam a Uberabinha com oito dias de atraso – quando chegavam depressa.
A nossa sorte é que, em 1889, a Mogiana já vinha subindo, enfiando-se pelo sertão. Por isso, quando se deu a Proclamação da República, logo no dia 16, pela manhã, a notícia chegou a Uberaba via código Morse da estrada de ferro.
O Clube Vinte de Março, constituído por republicanos fervorosos, imediatamente depôs todas as autoridades nomeadas pela Monarquia e empossou seus líderes. O povo, mais prudente, ficou na expectativa da confirmação da notícia. De tarde, pela Mogiana, chegou o coronel Costa Carvalho, entusiasmado republicano que fez a confirmação. O povo mais os republicanos, os fogueteiros, os discurseiros e a banda de música, já o esperavam.
E a massa entrou pela cidade dando vivas aos mentores e aos autores da reviravolta. O curioso é davam vivas também à Liberdade, à Igualdade e à Fraternidade e a banda sapecava a Marselhesa.
O Prata tinha o mais antigo clube republicano do Triângulo. Entretanto, quando a notícia chegou lá (e demorou muito a chegar) pouco se fez. Parece que o povo não acreditava ou temia uma reação violenta. Só no dia 16 de dezembro a Câmara pratense se reuniu para tratar do assunto, mas não conseguiu quorum. O Presidente concedeu a palavra a qualquer dos presentes que quisesse fazer uso. Ao final elaborou uma Moção de apoio ao Governo Provisório que só conseguiu 26 assinaturas.
Em Frutal a Câmara se reuniu, reconheceu o Governo Provisório e elaborou um documento firmando isso, porém, nas entrelinhas deixava transparecer seus antecedentes monarquistas.
Em Ituiutaba, que se chamava São José do Tejuco, a notícia chegou no dia 23 de novembro pela manhã. Precavidos, os tejucanos aguardaram os jornais que chegaram no dia 27 e confirmaram a mudança de regime. O povo se juntou em passeata pelas ruas, o padre Ângelo Tardio rezou um Te-Deum às cinco da tarde e, em seguida a massa popular saiu tomando o rumo das casas dos líderes republicanos. E haja discursos, haja bandeiras, haja foguetes e haja banda de música. Curiosamente a banda tocava a Marselhesa. Depois da debandada, houve baile na casa de Manoel Vilela de Andrade que varou a noite.
Em Santa Juliana chegaram boatos na boca dos viajantes. O povo desconfiado começou a se ajuntar diariamente à porta dos Correios. Quando foi no dia primeiro de dezembro chegaram os jornais de uma quinzena atrás e lá estavam as manchetes confirmadoras. Os jornais foram lidos para o povo ali mesmo nos Correios e a populaça prorrompeu em vivas. Saiu pelas ruas aos gritos e aos vivas ao som da banda que tocava – o que? Adivinhe! A Marselhesa! Ao fim da festa tomou-se muita cerveja quente.
Em São Pedro de Uberabinha a coisa foi meio devagar. A notícia chegou logo e o que os jornais uberabenses publicaram no dia 30 de novembro foi que a cidade “encontrava-se na melhor quadra de tranquilidade” e que “a sociedade uberabinhense acompanhava o grande movimento popular possuída de prazer.”
Só isso. Pouco, não?

Fontes: jornais da época

NOTA: Recebi do leitor Birinha, meu amigo e meu leitor constante, mensagem sobre a crônica “A colônia sírio libanesa” onde não cito sua família Zacharias. Tem razão. Pulei-os. Os Zacharias foram comerciantes importantes, donos da conhecida Casa Zacharias, na praça Tubal Vilela. Tinham também uma confecção na Vasconcelos Costa, a “Carbir”. Mas o melhor destaque é para o Ubirajara Zacharias, atleta, jogador de basquete da AAU, tricampeão do Interior. Apesar de baixinho, Bira foi o cestinha do campeonato.