Antônio Pereira – Jornalista e escritor

Logo nos princípios do século XX, Uberabinha passou por dois momentos críticos em matéria de saúde. Nos princípios da segunda década, tivemos uma epidemia de varíola e, nos finais, outra de gripe espanhola. Todas tratadas sem muita responsabilidade pelo governo mineiro. As autoridades locais, os médicos, os farmacêuticos e a gente do povo foi que se envolveram com o problema.

Nessa época, já tínhamos uma Santa Casa de Misericórdia na avenida Floriano Peixoto, mas suponho que o primeiro passo em busca de uma assistência pública oficial constante foi dado por aquele sempre grande e sempre esquecido Agente Municipal (Prefeito) Joanico, pioneiro em quase tudo que esta cidade tem, em que pesem os grandes orçamentos que vieram a partir do ICM (1967). Joanico conseguiu um Posto de Profilaxia, mantido pelo Estado, voltado para os problemas sanitários tipicamente rurais. Foi inaugurado no dia 6 de abril de 1921.

Certamente depois do Joanico outros Prefeitos cuidaram da saúde pública, porém, vamos encontrar na primeira gestão de Renato de Freitas a criação da primeira rede de postos de assistência na cidade.

Renato criou cinco postos: nas Tabocas (Bairro Bom Jesus), na Saraiva, no Patrimônio, no Roosevelt e na avenida Goiânia – este denominado “dr. Geraldo Pereira da Silva”.

Estes postos, quando o bairro possuía uma Associação de Moradores, recebiam o apoio dessa entidade. Alguns tinham dois expedientes de duas horas cada. As consultas não eram gratuitas. Custavam 50 centavos. Era uma tutaméia e esse valor era o limite máximo. Quem não podia pagar 50, pagava 40, 30, 20, 10, 1, mas havia que pagar alguma coisa. O Prefeito entendia que o usuário tinha que valorizar o serviço que lhe era prestado.

O Secretário de Ação Social, que, àquela época, era responsável pelas áreas de saúde, educação, cultura e ação social propriamente dita, e era este cronista, visitava os laboratórios farmacêuticos, que eram muitos, recolhendo amostras grátis e doações. Com o dinheiro das consultas, eram adquiridos outros medicamentos necessários e ficava tudo nos postinhos, à disposição dos médicos.

Como não podia deixar de ser, houve várias denúncias de irregularidades: a mais grave foi a de que alguns médicos assinavam recibos por outros – o que era absolutamente verdadeiro. Acontece que a Secretaria não conseguiu médicos suficientes para os dez turnos diários dos postos. A solução foi permitir que alguns médicos dobrassem o seu tempo de atendimento. Para evitar um diferencial de salários (que correspondia a um diferencial de horários), os que dobravam indicavam colegas que assinariam pelo segundo período. Algum crime nisso?

Outra denúncia foi a de que os médicos recebiam meio salário mínimo da categoria, que era quatrocentos cruzeiros. Os médicos ganhavam duzentos, apenas. Isso foi parar na Sociedade Médica, mas o Presidente da entidade, o saudoso dr. Longino Teixeira, ao receber a minha visita como Secretário de Ação Social, ficou sabendo que os médicos ganhavam meio salário porque trabalhavam meio expediente. O expediente médico era de quatro horas. E deu o caso por encerrado. Algum crime nisso?

Nesses Postos também se aplicavam diversas vacinas fornecidas pelo Centro de Saúde.

Demos algumas rabiscadas históricas preliminares para apresentar aos leitores o diferencial imenso que vai dos primeiros postinhos do Renato de Freitas às atuais UAIs, criadas pelos Prefeitos Paulo Ferolla e Virgílio Galássi. Um postinho daquele tempo constituía-se de uma sala com banheiro, um médico e uma atendente. Funcionava apenas duas horas (em alguns casos, quatro).

As UAIs também são cinco: Luizote (a pioneira, que já passa dos dez anos de trabalho), Planalto, Pampulha, Tibery e Roosevelt. Atendem ininterruptamente. Em 1998 eram mais de 50 dentistas, quase 200 médicos, uma equipe total em torno de 1.150 pessoas entre médicos, técnicos e pessoal administrativo. Com serviço de vacinação, laboratório, radiografia, pequenas cirurgias, internamentos de curto prazo, somaram, naquele ano um milhão e meio de atendimentos e procedimentos sendo que duas UAIs tinham sido instaladas no segundo semestre. Em 2001, havia 40 dentistas, 261 médicos e um total de empregados em torno de 2000 pessoas. Os atendimentos de ambulatório e pronto socorro somaram pouco mais de dois milhões e cem mil.

Os postinhos do Renato, também cinco, entre agosto de 1967 e novembro de 1968, atenderam a 8.441 consultas. Esse confronto, que não pretende depreciar um trabalho pioneiro, nos dá uma idéia aproximada do desenvolvimento assistencial municipal e nos oferece, como objetivo principal deste levantamento, uma lição: para se atingir qualquer meta é necessário que se comece a trabalhar sem preocupar-se com o pouco que se pode, com o pouco que se tem, mas é preciso ter muito amor e muita fé. Só assim se chega lá, como Uberlândia chegou.

Fontes: Secretaria Municipal de Ação Social, Fundação Maçônica Manoel dos Santos.