João Batista Domingues Filho – Cientista Político – Professor do Incis/UFU
Votar em que não aprova para vencer quem mais rejeita. Vai ser seu voto? Clivagem eleitoral definidora da divisão do eleitorado em dois Brasis que votarão de forma cristalina, da seguinte maneira: camadas populares versus as fatias privilegiadas. Votarão Lula os grupos da base da pirâmide social: mulheres, negros, pobres e moradores do Nordeste. Em Bolsonaro serão estratos: homens, brancos, ricos e empresários. Polarização política, social e afetiva decorrente da crise econômica que divide eleitoralmente os Brasis entre as camadas populares e camadas elitizadas. Toda eleição põe em jogo direitos, privilégios e recursos.
Populismo molda a democracia eleitoral brasileira. Líderes populistas à esquerda enfatizam a divisão de classes, atacam os ricos e privilegiados e defendem a regulação econômica; à direita, exploram divisões étnicas ou religiosas, atacam elites liberais e globalistas, defendem as tradições nacionais. Experimentos populistas à esquerda e à direita sempre fracassam em todos os tempos, apesar do sucesso eleitoral inicial.
Amálgama direita/esquerda com populismo conjura a palavra mágica “povo”, sem apresentarem projeto algum para o Brasil. O debate público eleitoral são guerras culturais e os candidatos numa “luta livre”, um contra outro, reais ou fabricados. A divisão maniqueísta da sociedade entre povo e elite corrupta controladora das instituições do Estado e da sociedade civil. Piamente, cada candidato é o único a saber o que o “povo” precisa e deseja: é o líder “sabe-tudo”, deixa que eu chuto.
A sociedade brasileira com seu Estado demiurgo que é mais sábio para cuidar da economia, sempre produzindo desastres prolonga o empobrecimento da maioria dos brasileiros desde a Proclamação da República. Desenvolvimento humano, político e econômico, para a maioria do eleitorado, responsabilidade única dos líderes populistas à esquerda e à direita. Com sua “varinha de condão” criará o paraíso-Brasil. Polarização eleitoral para conquistar a Presidência entre os dois Brasis para, deliberadamente, de forma nefasta ao rés do chão impossibilitará a benfazeja educação, saúde, economia e política democrática.
Enganosa ilusão a espera do líder populista vencedor de um futuro melhor para o Brasil. As campanhas eleitorais não debatem entre elas projetos nacionais: o líder vencedor sabe o que os brasileiros desejam e esperam. A maioria do eleitorado é expectadora e coadjuvante dessas nefastas campanhas com recursos públicos: fundo partidário e eleitoral.
Eleição democrática é a troca regular de elites, substituição pacífica das elites governantes de tempos em tempos. O ciclo eleitoral brasileiro com seus líderes populistas resulta na continuidade e institucionalização das desigualdades socioeconômicas para a maioria dos brasileiros. A propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV não oferecerá soluções para os problemas candentes brasileiros. Aos eleitores que não gostarem do presidente eleito, sobrará esperar a próxima eleição para, novamente, escolher o “salvador da pátria” da vez.