Estudo indica que o bloqueio da P21, responsável pela inativação do parasita na fase crônica, pode facilitar o combate da infecção no organismo
‘Nosso grande objetivo é tentar trabalhar essa doença que é um mal social, que traz danos ao sistema público de saúde’, comenta Silva. (Foto: Arquivo pessoal)

O ano era 1909 e na pequena cidade de Lassance, em Minas Gerais, o médico e pesquisador Carlos Chagas descobria uma doença transmitida pelas fezes de um inseto que se alimenta de sangue. Conhecido por “barbeiro”, este é comumente encontrado em casas de pau-a-pique — construções que utilizam barro, madeira e bambu na estrutura.
Quando infectado pelo protozoário Trypanosoma cruzi, o inseto se torna o principal vetor na transmissão do “mal de Chagas” ou “doença de Chagas”, considerada uma das principais endemias da América Latina. No momento em que suga o sangue, o “barbeiro” deposita suas fezes contaminadas próximo ao local da picada, que, ao provocar coceira, facilita que o parasita tripanossomo entre no organismo da pessoa. Assim, ele também pode ser levado à mucosa dos olhos, nariz e boca pelo contato das mãos com o rosto. Outras formas da contaminação acontecer são através de feridas não cicatrizadas e em transfusões de sangue.
A 137,4 km de distância e 113 anos depois, no Laboratório de Tripanosomatídeos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o professor e pesquisador Claudio Vieira da Silva dedica seus estudos a tentar descobrir uma cura para a doença de Chagas. “Os medicamentos não conseguem matar os parasitas resistentes, que perpetuam a infecção ao longo da vida. Se esse parasita está sobrevivendo, alguma coisa ele faz para poder permanecer vivo. Então, a minha pesquisa gira em torno de entender como ele faz isso”, afirma Silva.
O pesquisador explica que os parasitas possuem fatores de virulência, que seriam proteínas responsáveis pelo início e perpetuação da infecção no organismo do hospedeiro (ser humano). A equipe envolvida na pesquisa descobriu a Proteína P21, diretamente relacionada com a manutenção do parasita na célula, e observou que ela faz com que ele pare de se multiplicar (replicar) e permaneça inativo na fase crônica (sem sintomas). “Se bloquearmos a P21, o parasita volta a se replicar e aí a gente consegue combatê-lo com alguma coisa mais tóxica? Essa é a nossa pergunta”, comenta.
Esse estudo realizado dentro da UFU pode mudar o panorama atual da doença de Chagas, caso apresente resultados positivos. Além de uma melhoria na qualidade de vida de pessoas chagásicas, uma vez que a doença permanece sem cura ou vacina desenvolvida, ela também possibilitaria novos tratamentos para casos graves, atualmente contornados apenas por meio do transplante de coração. Silva também diz esperar que mais pessoas estudem a P21, para que novas linhas de pesquisa elucidem o papel dessa proteína na infecção pelo parasita.

Produtividade em Pesquisa
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) divulgou, em fevereiro de 2022, o resultado final da chamada referente às Bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ). Silva está entre os 63 pesquisadores da UFU, de diferentes áreas do conhecimento, que foram aprovados.
O objetivo das bolsas é valorizar pesquisadores que possuam produção científica, tecnológica e de inovação de destaque, incentivando o aumento dessas produções.