Antônio Pereira – Jornalista e escritor – Uberlândia – MG

O patriarca José Garcia chegou ao Brasil em 1914 e foi trabalhar na Mogiana. Depois de algum tempo, fixou-se em Uberabinha. Aqui já havia parentes seus, tanto do lado Garcia, quanto do lado Agostinho (família de sua esposa). Trabalhou em máquina de arroz e de carroceiro.
Em 1919, voltou a Portugal e trouxe a família: dona Maria e os filhos Alexandrino, Palmira, Georgina e José Maria. Chegaram a Uberabinha no dia 25 de dezembro de 1919. Desceram do trem no meio do cerrado (hoje, praça Sérgio Pacheco) e vieram para o Fundinho por uma rua esburacada, enlameada que se enfiava por entre o cerrado, com pequenas casas esparsas (avenida João Pinheiro). O Fundinho era o centro da cidade. Ficaram uns dias na casa de João Agostinho e, depois, foram morar num casebre de um cômodo só, mais ou menos em frente ao Edifício Executivo, onde esteve o Fórum. Havia poucos casebres por perto e um armazém do José Agostinho. A cidade teria, no máximo, seis mil habitantes. Em todo o município uns vinte e quatro mil. Uberabinha já tinha vencido o aclive do Fundinho e avançava pelo cerrado, rumo à linha da Mogiana. Já estavam urbanizadas as avenidas Cesário Alvim, Floriano Peixoto, Afonso Pena, João Pinheiro e Cypriano Del Fávero. Eram trilhas largas com casas espalhadas entre os restos do cerrado. O centro comercial era a praça dr. Duarte. O comércio iniciava um período de retração por conseqüência da guerra. Destacavam-se na educação o Grupo Escolar Bueno Brandão, o Gymnásio de Uberabinha, o Colégio N. S. Conceição e o Amor às Letras.
Na praça Tubal Vilela, nos anos 920, ainda se jogava futebol entre prédios isolados como o Fórum e o Grupo Escolar. Duas equipes representavam a cidade: o Rio Branco e a Associação Esportiva Uberabinha. Havia outros times e outros campos. Jogava-se, também no campo da Santa Casa (a Santa Casa ficava onde estão as firmas Tecidos Tita e Uberlândia Automóveis) e na chácara do cel. Virgílio Rodrigues da Cunha (pouco acima da Vila dos Oficiais do Exército, na descida para o Praia Clube).
Tínhamos um jornal: A Tribuna, do Agenor Paes.
A indústria era representada por algumas máquinas de beneficiar arroz e algodão; serrarias, carpintarias, selarias, charqueadas etc. Os produtos mais importantes da lavoura eram o arroz e o milho. Havia uma boa pecuária. O comércio iniciava seus passos no atacado. As casas mais conhecidas eram o Teixeira Costa, o Antônio Rezende Costa e a Casa Carneiro (esta, varejista exclusivamente a dinheiro). Tínhamos estradas de automóvel para Ituiutaba e Goiás, construídas por Fernando Vilela e Paes Leme. A cidade era iluminada a luz elétrica desde 1909, tínhamos um cinema, o Cine Theatro São Pedro, na rua Boa Vista (Felisberto Carrejo), construído por Custódio Pereira e 255 aparelhos telefônicos instalados na sede do município pela empresa Irmãos Teixeira. Falava-se com treze cidades do Triângulo. A cidade tinha água e os esgotos começavam a ser construídos.
O prefeito municipal, ou agente executivo, era o Joanico, João Severiano Rodrigues da Cunha. Excelente administrador. Cocão. A política se dividia em duas facções do Partido Republicano: os “cocão” e os “coió”. Uberabinha tinha 9 praças, 3 jardins, 40 ruas e 5 travessas, duas igrejas católicas e um centro espírita.
A única loja maçônica, a Luz e Caridade, fundada em 1896, trabalhava na rua Santos Dummont, onde está o Edifício Fraternidade.

Fontes: Antônio P. Silva (Com o Suor do Teu Rosto, biografia do Com. Alexandrino Garcia) e Tito Teixeira.