Estradas de ferro e outras modernidades formaram o alicerce para receber as riquezas do país

Primeira estação da Mogiana em Uberlândia – Arquivo Público da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo
Muitas das conquistas de Uberlândia vêm de um trabalho intenso e de um empenho comunitário realizado desde sua criação. Em outras palavras, o município sempre se esforçou para ser moderno e desenvolvido, por isso as elites locais do município se organizavam e pensavam em maneiras de tornar a cidade importante nos mais diversos setores.

Por isso, entre o fim do século 19 e início do século 20, as ferrovias no Brasil eram sinônimo de modernidade. Por meio delas, foi realizado um extenso escoamento agrícola, em especial do café, saindo do interior em direção ao litoral. Por esse motivo, as cidades que tinham os trilhos perpassando por seu entorno, ou mesmo dentro de seus limites, eram privilegiadas com a riqueza e tráfego de pessoas.

Em 1888, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro do munícipio de Campinas, no interior de São Paulo, estava desenvolvendo um plano de ligação de São Paulo com Goiás, passando por Minas Gerais, chamada de “Linha do Catalão”. O nome se deve ao fato de a linha ter a pretensão de ser finalizada na cidade de mesmo nome do interior goiano.

Estratégia política

A linha atendia as cidades de Sacramento, Conquista e Uberaba e tinha planos de passar por mais uma cidade mineira antes de chegar até Goiás. “A história conta que a estação da Mogiana, inicialmente, não viria para Uberlândia, nem estava cogitado de ela passar por aqui. A ideia de alcançar o estado de Goiás era passar por uma dessas cidades: Nova Ponte, Estrela do Sul, Miraporanga ou Monte Alegre”, explica Valéria Maria Queiroz Cavalcante Lopes, diretora de Memória e Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

Foi por meio da percepção do coronel José Teófilo Carneiro, filho de dona Francisca Alves Rabelo, viúva de João Pereira da Rocha, o primeiro a fixar residência nesta região, que Uberlândia entrou para a lista de possíveis municípios a serem considerados para receber os trilhos da Mogiana. O coronel Carneiro, que era membro da Guarda Nacional, que naquele período correspondia a um cargo de chefe político, ao saber da ampliação dos trilhos para outra cidade mineira, apressou-se e viajou até Campinas com um rascunho, que ele mesmo desenhou, mostrando a disposição do caminho do trem passando por Uberlândia, com o intuito de convencer os responsáveis pela Mogiana a trazerem o ícone da modernidade para o município.

Um engenheiro da Mogiana foi enviado, até a então Uberabinha, e avaliou a área para a possível construção da ferrovia. De acordo com documentos do Arquivo Público Municipal, após a análise do profissional, a Companhia definiu que a cidade receberia os trilhos da Mogiana. Além disso, o mesmo engenheiro foi contratado pelas elites locais para desenhar a planta de uma cidade nova considerando a importância da ferrovia.

Baseado na posição dos trilhos, o atual bairro Fundinho, que até então compreendia todo o Arraial, ficou conhecido como “cidade velha” e toda a extensão entre o Jardim Público, hoje Praça Clarimundo Carneiro, até a estação de trem se transforma na “cidade nova”. O engenheiro, então, desenhou seis largas avenidas que ligavam a cidade velha até a estação, que hoje correspondem à Cipryano Del Fávero, João Pinheiro, Afonso Pena, Floriano Peixoto, Cesário Alvim e João Pessoa.

“Ter a Mogiana em nossas terras significava que o maior ícone de modernidade em transportes estava aqui. Para se ter uma ideia, a importância da ferrovia era tanta, que o crescimento de Uberlândia passou a ser estrategicamente guiado para o rumo dos trilhos, de forma que a cidade ficasse próxima do trem, com o intuito de facilitar a chegada e saída de passageiros.

O tripé definitivo do progresso

Entretanto, de acordo com a diretora de Memória e Patrimônio Histórico, apesar do incontestável valor da Mogiana, tanto no transporte de pessoas como no itinerário de mercadorias, ela não era capaz de sozinha, fazer a cidade crescer em larga escala.

Por esse motivo, Fernando Vilela, vindo de Ituiutaba, montou a Companhia Mineira de Auto Viação Intermunicipal em 1912. Ele ousadamente criou a atual BR-365, primeira estrada de veículos automotivos do Brasil, que ligava o estado de Goiás diretamente com a estação da Mogiana de Uberabinha, utilizando a ponte Afonso Pena, sobre o rio Paranaíba, para atravessar os estados, sem necessitar de utilizar as balsas que atrasavam o percurso. “Esse tripé: ferrovia, estradas e a ponte Afonso Pena, fez um funil para que a riqueza de Goiás e Mato Grosso passassem por aqui”, afirma.
Por meio das estratégias e a vontade de ser grande e moderno, dessas pessoas que ainda hoje são homenageadas nos nomes das ruas e praças de Uberlândia, que o município teve a oportunidade de se desenvolver desenfreadamente. “Uberlândia sempre teve pessoas importantes em postos chaves do governo federal e estadual, por isso existia uma gerência política forte de concretizar no município projetos relevantes que transformaram esta cidade na maior da região”, afirma Valéria Queiroz.

Já na década de 1970, a estação da Mogiana teve sua localização alterada, seus trilhos se dirigiram para uma área até então descampada com intuito de apenas levar cargas, deixando o transporte de pessoas a cargo dos modernos automóveis. Atualmente, o local corresponde ao terminal central do município.

As informações que constam no texto foram retiradas do livro “Uberlândia: histórias por entre trilhas, trilhos e outros caminhos”, disponível na Biblioteca Municipal, documentos do Arquivo Público Municipal e entrevista com a Diretora de Memória e Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.