Gustavo Hoffa

Uma corrente político-fundamentalista demorou mas chegou e está infiltrada no Planalto Central, sobreviveu ao longo de décadas e nem de longe parece estar perto de ser dissipada; penetrou mesmo em proporções diversas nos gabinetes e salas de palácios brasilienses, aos poucos e dissimuladamente. De um lado parece que os membros de tal corrente, engravatados e possuídos de poderes oficiais, foram convocados para defender a liberdade e a fé em nosso Brasil, aparecendo assim na qualidade de membros do staff de um novo Israel para a salvação da pátria do evangelho. Uma nova e poderosa força, enfim, causa a nítida impressão de querer invadir setores da política tupiniquim e a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, quando o voto dos fundamentalistas foi decisivo para a eleição de Jimmy Carter e depois a de Ronald Reagan. Recordo, também, o quanto foi importante a participação daquela corrente religiosa para a eleição do presidente protestante Efraim Rios Montt na Guatemala. Irã, Iraque e Algéria também já sentiram o que é ter uma maioria de fundamentalistas em seus respectivos governos e na França, até a pouco tempo, o fundamentalismo muçulmano vinha suscitando graves problemas sociais, educativos e políticos. Aqui, em nossa América Latina e como não poderia ser diferente, vimos observando a difusão de novos movimentos religiosos e o que, em boa parte, ocorre em função de uma persistente e insistente cruzada de fundamentalistas. Observemos o quanto essa corrente tem se mostrado sagaz na difusão de suas concepções político-conservadoras, tradicionalista e integrista enquanto contrária ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, intransigente e rígida nas questões morais, intolerante e legalista, pessimista quanto ao presente momento e portadora de sinistras expectativas em relação ao futuro…..Particularmente, com o decorrer do tempo, venho observando o quanto o atual governo vem associando em si – e de maneira cada vez maior – as notas acima citadas numa atitude obcecada, fanática e de modo a conseguir avançar com as sua idéias fundamentalistas sobre milhões de insatisfeitos com governos anteriores. Bolsonaro já é visto na qualidade de mito, um mestre por milhões de brasileiros que lhe atribuem um indiscutível prestígio, ao ponto de que para muitos as palavras e discursos do presidente têm quase a mesma autoridade que as palavras de Deus. E isso, de certa forma, torna-se uma grande preocupação quando o presidente arvora-se contra o Superior Tribunal Federal e em pleno lançamento oficial da sua candidatura à reeleição, atirando palavras contra aquele órgão como a fagulhas a partir de uma fogueira de paixões que escapam-lhe ao controle emocional; palavras que julgo absolutamente condenáveis não apenas como a uma clara ofensa àquele egrégio tribunal mas, também, como a uma grave injúria e que atinge por tabela todos os magistrados brasileiros, uma atrevida demonstração de descontrole emocional diante da incontestável ameaça de ver-se derrotado nas eleições que se aproximam e ainda no primeiro turno. Imagina-se que um presidente da nossa república, qualquer que seja ele, deva ser uma referência de comportamento e de respeito às leis e jamais empinar-se contra um tribunal de justiça. Jair, o Messias, vem desenvolvendo um governo reconhecidamente eleitoreiro nos últimos meses e com destaque para a área de assistência social, mas em termos de saúde, educação e cultura está agindo de mal a pior e conforme a avaliação de não poucos profissionais, muito embora ele próprio enalteça a atuação do seu governo naquelas searas e como se tal não fosse uma obrigação regular dentro daquilo que lhe cabe enquanto chefe do poder executivo. É interessante a qualquer brasileiro consciente e devidamente escudado pela razão, a observação do quanto Bolsonaro suscita remorso em muitos dos seus eleitores, pois é certo que a consciência remorde em quem lamenta não vê-lo proceder-se como aquilo que ele próprio propagou a respeito de si mesmo, às vésperas das eleições passadas. Aproximam-se as próximas eleições e novamente elas serão motivo de uma tomada de consciência das realidades do nosso país, da nossa gente. Nós, eleitores tupiniquins, em grande maioria, deveremos votar não tanto recheados de emoções mas de modo lógico, racional, sem jamais permitirmos tornar-nos joguetes de instintos duvidosos originados de algum candidato em estado de desespero. Vivamos o nosso patriotismo de maneira adulta e responsável, enquanto examinando a veracidade e a autenticidade das fontes que transmitem fatos e notícias relacionados aos candidatos que já se apresentam na vitrine eleitoral. Quanto à recente decisão do Procurador Geral da República, dr. Augusto Aras, em pedir ao Superior Tribunal Federal que arquive a grande maioria das ações que pesam contra o presidente Bolsonaro, atuais e ex-integrantes do governo, além de alguns congressistas aliados ao Planalto, cabe a cada um de nós, cidadãos e patriotas, um particular ponto de vista. O meu, adianto, é impublicável.

Agente Social – Uberlândia(MG)