Gustavo Hoffay*

A emergência biônica recentemente criada pelo governo Bolsonaro, trata-se de uma das mais acintosas e estrombóticas manobras políticas já lançadas pelo poder executivo nacional em toda a história recente da nossa república e (pior) com aprovação, (quase) unânime, de um Congresso medroso e acovardado ante a aproximação das eleições majoritárias. Um monstrengo, fruto de uma esperteza camuflada em forma de (mais um) auxílio e que, segundo economistas, compromete o futuro das contas públicas, além de servir de gatilho para o aumento dos juros e da inflação, duas das maiores calamidades que podem abalar as colunas de uma democracia; monstrengo, aliás que remete-nos ao final da década de setenta e quando o governo militar criou os tais governadores e senadores biônicos, como artifício para interferir nos rumos políticos do nosso país. Tudo agora, claro, entendido como a “mel na chupeta” para um considerável número de eleitores taxistas, caminhoneiros e bolsistas diversos. Um golpe de mestre, enfim, de caráter exclusivamente eleitoreiro e que servirá, ao menos de maneira geral, para medir o grau de coerência daqueles que dele se beneficiarão e que, durante o decorrer dos últimos meses, ameaçaram as estruturas do próprio governo, espezinhados, enquanto lançavam-lhe cargas de impropérios de diversos aspectos e formatos. E a ferocidade da referida geringonça biônica e seus tentáculos é famélica, considerando-se que idosos (extensão da gratuidade em transportes público) e donas-de-casa (vale gás majorado) também estão inclusos em tais benesses, cuja fonte não está vinculada a qualquer receita, amém? Só Jesus na causa, meu Deus! Barrar o caminho aos exploradores, aos corruptos, aos mentirosos, aos aproveitadores e aos intrigantes, deixar-se penetrar pelo Evangelho, construir com os religiosos da sua crença, ter confiança na vida e no Sopro de Deus, parece ter ficado apenas nas promessas de campanha do presidente para a conquista do trono palaciano. Passados cento e trinta e três anos desde a instalação da nossa república e outros trinta e sete desde a sonhada e perseguida redemocratização do nosso Brasil, é muito difícil e ao mesmo tempo quase inacreditável percebermos que ainda há uma multidão de conterrâneos que deixa-se manobrar por êxtases a partir de rompantes e fricotes governamentais quando, no mínimo, deveria procurar senão a verdade e a justiça escondidas e camufladas por detrás de subvenções excepcionais e desonrosas. Chega a ser impressionante o quanto uma meia dúzia de pessoas consegue manobrar um congresso inteiro e impor uma determinada tonalidade, uma mudança, uma introdução vergonhosa e antipatriótica goela abaixo de quem, até pouco tempo, marchou contra a ignorância e os falsos amigos da democracia. A PEC da vergonha lançada por Bolsonaro aos congressistas, na verdade parece ser mais um daqueles monstrengos criados em laboratório e onde a sinceridade e a lealdade, aliadas à falta de vergonha, fazem da mediocridade política um objeto a ser cultuado no templo dos arranjos, onde o que é mais apreciado é a imbecil passividade de muitos cidadãos que desconhecem o seu autêntico potencial, enquanto quebram as suas asas e caem de forma medíocre em armadilhas eleitoreiras.

Agente Social/Uberlândia-MG