Marília Alves Cunha*

O nosso grande poeta Olavo Bilac enalteceu a Língua Portuguesa em versos, chamando-a “a ultima flor do Lácio, inculta e bela”. Não posso fazer versos tão bonitos e perenes, mas posso sentir-me deliciada com a nossa língua. Para quem gosta de ler e escrever, a cada dia ela se desdobra em novos encantos, pela riqueza de seu vocabulário, pela poesia de suas palavras, pela sonoridade de sua construção e pelo seu alto grau de requintado refinamento. É evidente que nem todos nós tivemos ou teremos a oportunidade de usá-la em toda sua extensão e grandeza, mas respeitá-la e protegê-la na sua integridade e beleza é dever dos cidadãos, principalmente dos professores.

Mas perigos rondam a Língua portuguesa. Há invencionices com ar de seriedade que nos espantam. E estas invencionices passam a ser defendidas, plantadas por uma minoria que pretende deformá-la, para satisfazer o que eles entendem por inclusão e ideologia de gênero.

Dia desses, assisti penalizada uma Secretária de Educação, de um estado do Nordeste, abrir uma sessão com as lindas palavras: ” Querides alunes”. Não prosseguiu, é claro, com o discurso neologista, porque iria ficar em sérios apuros para dar falas a uma linguagem sem pé nem cabeça. Nossa pátria é a nossa língua também, como já disse e repito, de uma riqueza incomum. Sujeita às modificações? Sim. Aconteceram no decorrer dos tempos. Nunca na sua estrutura, como querem fazer hoje. Nunca impostas por pessoas inconsequentes que intentam brincar com a nossa língua mãe, achando que podem modificá-la para pior, a favor de grupos.

No estado de Santa Catarina a linguagem neutra não poderá ser usada em escolas, da rede privada ou pública, em assuntos oficiais, inclusive provas dos alunos. O padrão a ser seguido é o da norma culta da língua portuguesa, pois o gênero neutro inexiste na nossa língua e apresenta contrariedades às regras gramaticais consolidadas no país. O PT apressou-se a ir ao STF (como infantilmente se apressa e faz costume fazer agora a respeito de tudo) para defender o neologismo, a linguagem neutra e ir contra a determinação das autoridades catarinenses… O mesmo PT que curvou-se a chamar Dilma de presidenta numa ridícula obediência, como se com isto estivesse valorizando o time das mulheres… Dilma, presidente ou presidenta, nunca iria valorizar o feminino.

Ana Carolina Cury, jornalista, especialista em redação, locução e apresentação de reportagens e programas, acha um grande constrassenso defender que a linguagem neutra é a melhor maneira de combater o preconceito. O preconceituoso não mudará o comportamento por conta destas alterações e a intolerância não tem a ver com a gramática e sim com a conduta de cada um. Nada de inclusivo existe nesta linguagem que é simplesmente ideológica. Que inclusividade teria para crianças, adolescentes, com problemas de surdez, dislexia e outros, que lutariam com problemas sérios de adaptação, o que resultaria numa maior dificuldade de aprendizagem?

A linguagem neutra propõe a mudança morfológica das palavras. Exemplos: Todes foram convidades ou Todxs foram convidadxs; ele e ela se transformariam em ile; e assim por diante, continuaria a grande transformação que despersonificaria a nossa língua e, francamente, em matéria de sonoridade e beleza faria um grande mal a ela.

Bom, eu continuarei com o meu velho e bom português, sem todes, todxs, elu, ile, delu, delx… Primeiro, porque não considero a nossa língua preconceituosa e machista e acho até ridículo se pensar nesta possibilidade. Segundo, porque acho maravilhosa a norma culta da língua e penso que nada há a se fazer, a não ser para melhorá-la e torná-la melhor ensinada e conhecida nas escolas. E, por fim, não entendo a mudança de estrutura de uma língua em um país onde a cada ano aumenta o número de analfabetos e analfabetos funcionais. Isto sim, qualidade de ensino, deveria ser motivo de mudanças e preocupações para todos…

Façamos reparo em algumas outras modificações pretendidas pelos defensores da ideologia de gênero que considerei de uma intolerância abominável; a palavra Mãe, na cabeça deles, deve ser praticamente excluída do vocabulário. Em nome dos que não têm mãe ou em nome dos que não podem ser mães? Será que daqui a algum tempo a doce palavra “mamãe” não poderá ser mais ouvida? Sinceramente, é tanto absurdo que não consigo elaborar resposta para isto… Vejamos o que pretendem:
*genitor que deu a luz – substituindo a palavra mãe;
*leite materno – leite humano;
*ala maternidade – ala de serviços perinatais;
Consideram que excluir a palavra Mãe é um trabalho de humanização. Considero completamente o contrário, o protótipo da desumanização…

E durma-se com um barulho destes…

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG