Pesquisa desenvolvida pela UFU em parceria com a UFMG utilizou o teste do pezinho para diagnosticar a presença de anticorpos contra o SARS-CoV-2 em recém-nascidos e avaliar seus possíveis impactos

Por ser realizado entre o terceiro e quinto dia de vida, o teste do pezinho é ideal para a análise, uma vez que não daria tempo do bebê produzir esses anticorpos de outra forma. (Imagem: Unsplash)

Ao longo de nove meses, mãe e bebê são ligados pelo cordão umbilical, compartilhando nutrientes e anticorpos através da placenta. Nascidos durante uma realidade bastante incomum para todo o mundo, essas crianças quase não conhecem uma sociedade livre das máscaras e do distanciamento social.
Desde o início da pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, muito se discute acerca de sua origem, formas de prevenção e diagnóstico. Dentre essas questões está a possível imunização de recém-nascidos, acarretada pela transmissão placentária de anticorpos durante a gestação de mães que entraram em contato com o vírus – seja pela vacinação, seja pela covid-19.
Para além das possíveis problemáticas causadas pelo contato prematuro com o coronavírus, assim como o tempo de permanência desses anticorpos no organismo dos bebês, cientistas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em parceria com o Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina (Nupad), desejam identificar possíveis atrasos no desenvolvimento desses bebês provocados pelo próprio contexto pandêmico.
A pesquisa, que iniciou em abril de 2021, atualmente avalia o grau de desenvolvimento dos bebês escolhidos para o estudo, através das escalas Bayley e ADL (Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem) – fazendo o uso de brincadeiras e atividades lúdicas.
Até o momento, foi possível identificar que tanto as crianças que apresentaram anticorpos, quanto as que não tiveram, possuem alguma suspeita de atraso no desenvolvimento – cerca de 22%.
De acordo com Vivian Azevedo, professora do curso de Fisioterapia da UFU e responsável pela coleta de dados em Uberlândia, essas informações apontam para o fato de que o ambiente familiar em que esses bebês estão inseridos é o maior responsável por possíveis comprometimentos no desenvolvimento e na linguagem.
“Através do SWYC, que é um questionário de triagem realizado pelo telefone, percebemos que cerca de 52% dos bebês apresentavam suspeita de algum tipo de problema de comportamento, como irritabilidade e inflexibilidade”, conta Azevedo.
Em dados fornecidos pela UFMG, a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da instituição, Cláudia Lindgren afirma que os índices de uso abusivo de álcool e drogas (32%), insegurança alimentar (29%) e depressão materna (16%), mostraram-se maiores quando comparados com estudos pré-pandêmicos. Esses fatores, são os principais suspeitos para os possíveis atrasos de desenvolvimento das crianças participantes da pesquisa.
Para a conclusão da segunda fase, os pesquisadores estão entrando em contato com as famílias para agendarem a aplicação dos testes, contudo, estão tendo dificuldades no retorno por parte dos selecionados para o estudo.

A pesquisa
Apoiados pela Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais, o estudo, realizado em cinco cidades mineiras – Contagem, Ipatinga, Itabirito, Uberlândia e Nova Lima – escolhidas pela prevalência da covid-19, testou cerca de 4 mil mães e bebês. Desses, 1.917 foram elegíveis para estudo e 279 crianças (15%) apresentaram anticorpos contra o SARS-CoV-2.
O teste do pezinho foi escolhido por ser um dos principais testes neonatais e usado na detecção de várias outras doenças.
“Nós aproveitamos a parceria com o Nupad para que fosse realizado junto do teste do pezinho a avaliação de anticorpos contra o SARS-CoV-2”, afirma a professora de Fisioterapia.
Durante os próximos passos, os cientistas pretendem acompanhar os recém-nascidos até os dois anos de idade, onde os testes serão repetidos aos 18 e 24 meses de vida.