Autor: Rafael Moia Filho*

Dizer que Bolsonaro é mentiroso soa até como pleonasmo, uma vez que suas falas, acusações e desculpas sempre aparecem recheadas de mentiras.
Desde sua posse, quando nomeou Ricardo Salles para ser Ministro do Meio Ambiente, o Brasil começou a andar para trás no que tange a proteção das nossas matas, floresta amazônica e áreas de proteção ambiental.
A dupla dinâmica Bolsonaro/Salles começou rapidamente em 2019 a desmontar toda linha estrutural de proteção que havia sido montada em governos anteriores. Órgãos como Ibama, Funai, INPE, entre outros foram aos poucos sendo subjugados pela fúria bolsonarista.
O objetivo era liberar o maior número de áreas para plantio em favor do Agronegócio e dos médios e grandes fazendeiros. Liberar áreas de matas, floresta e ocupação indígena para garimpo ilegal, extração criminosa de madeiras, busca por minérios em terras protegidas. Muitos são os exemplos deste desmonte, cito alguns:
1- A desestruturação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), com perdas de autonomia de técnicos e de segurança em campo a fiscais ambientais;
2- A transferência do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura;
3- A flexibilização e redução das multas por crimes ambientais, e institucionalização desta prática por meio do projeto de criação do “Núcleo de conciliação”, que poderá mudar o valor ou até mesmo anular multas por crimes ambientais;
4- A contestação dos dados oficiais de desmatamento do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), criado pelo governo Lula em 2004 e que possibilita o ágil diagnóstico de áreas desmatadas. Além da demissão do diretor do Instituto ao ser confrontado tecnicamente;
5- A interrupção do bilionário Fundo Amazônia, que financiava mais de uma centena de projetos de proteção da Amazônia e seus povos e que teve os recursos suspensos pelas fontes doadoras (Noruega e Alemanha) devido ao aumento do desmatamento e à extinção de Conselhos que faziam a gestão dos recursos;
6- A proposta de revisão das Unidades de Conservação do país, que poderão ter os seus traçados revistos ou até serem extintas;
7- A recriminação de fiscais ambientais que, amparados legalmente, destruíram equipamentos apreendidos usados por madeireiros e garimpeiros criminosos;
8- A visão governamental de que o indígena deve viver da mesma forma que a população não indígena urbana;
9- As propostas para redução de terras indígenas e áreas remanescentes de quilombos;
10- O aumento da violência no campo e aos indígenas;
11- A liberação excessiva de agrotóxicos, alguns inclusive proibidos em outros lugares do mundo;
12- A revisão de tributos ambientais aplicados a empresas que causam alto e negativo impacto ambiental;
13- A própria escolha de um ministro do Meio Ambiente que, além de já ter sido condenado por crime ambiental, não considera para sua prática de trabalho a temática do aquecimento global, e que defende os interesses do agronegócio em detrimento dos ambientais;
14- O exemplo de impunidade ao exonerar o servidor que multou o atual presidente por pesca ilegal em 2012;
15- A revisão da lista de espécies aquáticas ameaçadas após um pedido do Ministério da Agricultura;
Entretanto, o presidente está, neste momento, na Cúpula das Américas, evento patrocinado pelos EUA. Lá, assim como o faz nas suas Lives, ele vai mentir e afirmar que seu governo é o que mais preservou o meio ambiente em toda nossa história. Os dados, fotos aéreas, testemunho de comunidades indígenas e filmagens não deixam dúvida que neste governo que se encerra em 31 de dezembro de 2022, foram cometidos os maiores crimes contra a natureza, os índios e os ribeirinhos sem que ninguém fosse preso, julgado e condenado.
Enquanto escrevo, ainda não foram encontrados o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, servidor licenciado da Funai. Eles sumiram na região de Atalaia do Norte na região amazônica. Caso o desfecho seja o assassinato destes, ficará ainda mais evidente a omissão do Governo Federal através da Presidência e do Ministério do Meio Ambiente com relação a permissividade com que tratam bandidos travestidos de garimpeiros.

Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.