Rafael Moia Filho*

No Brasil, 4.644 agrotóxicos estão liberados para uso, em atividades agrícolas ou não. Desses, 1.560 foram concedidos por Bolsonaro — o presidente iniciou seu governo, em 2019, com a liberação de 475 produtos, seguido de 493, em 2020, 562, em 2021, e 30 nos três primeiros meses do corrente ano.
Entre os venenos liberados por Bolsonaro através do Ministério da Agricultura está o glifosato que é o agrotóxico mais popular do Brasil. Ele representa 62% do total de herbicidas usados no país e, em 2016, as vendas desse produto químico em milhares de toneladas foram superiores à soma dos sete outros pesticidas mais comercializados em território nacional.
Ele está associado à produção de soja transgênica, o herbicida contribuiu para que o Brasil se tornasse o maior produtor do grão no mundo, superando os Estados Unidos. O glifosato é um herbicida não-seletivo, ou seja, mata a maioria dos vegetais. Por conta disso, seu uso na agricultura se popularizou associado a culturas geneticamente modificadas para resistir ao princípio ativo.
Com isso, o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados produtores cresceu muito acima da economia do país como um todo nas últimas décadas. E a renda gerada pela atividade agrícola movimentou outros setores econômicos nas regiões produtoras. Isso em parte explica porque o governo facilita tanto a liberação e o uso de venenos no país.
Mas um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Princeton, FGV (Fundação Getúlio Vargas) e Insper revela que essa geração de riqueza tem um alto custo: segundo o levantamento, a disseminação do glifosato nas lavouras de soja levou a uma alta de 5% na mortalidade infantil em municípios do Sul e Centro-Oeste que recebem água de regiões sojicultoras.
Isso representa um total de 503 mortes infantis a mais por ano associadas ao uso do glifosato na agricultura de soja, segundo os estudos. O que de forma alguma preocupa o atual governo, visto que a saúde não é nem nunca foi uma de suas prioridades desde o início de seu mandato.
O Ministério da Agricultura, no começo de 2019, aprovou o registro de agrotóxicos considerados de alta toxicidade. Houve o registro de quase 450 defensivos, sendo que destes apenas 52 têm baixa toxicidade. De acordo com a Anvisa, agrotóxicos que estão banidos em outros países como Estados Unidos, China e integrantes da União Europeia estão chegando ao Brasil. Em nosso país são utilizados ao menos dez agrotóxicos banidos nos países mencionados.
Todos os alimentos que o Brasil exporta, e não são poucas toneladas anualmente, têm um controle de qualidade acima do normal, em parte pela exigência rigorosa dos órgãos sanitários dos EUA, Europa, países da Asia e mundo árabe. Os brasileiros já sabem que a qualidade do frango, carne bovina, suína, café, grãos e demais produtos nacionais exportados são muito melhores do que os que ficam disponíveis para o mercado interno.
Isso por si só, demonstra o completo desrespeito dos produtores e do governo para com nossa gente. Aos estrangeiros o melhor, aos brasileiros a sobra com veneno.

*Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.