Antônio Pereira*
Os processos para a criação das escolas superiores pioneiras, Direito e Filosofia, correram juntos sendo aprovados com apenas dois dias de diferença a favor da de Direito. As aulas inaugurais confirmaram a precedência: a de Direito foi ministrada a 5 e a de Filosofia a 12 de março de 1960.
Muitas pessoas participaram dos empenhos para a instalação de cursos superiores na cidade, vou contar, porém, apenas duas passagens curiosas que mostram a dedicação do Mestre Jacy de Assis para com a Escola de Direito. Ele chegou a ceder sua residência, à rua Duque de Caxias, para que ela ali se estabelecesse.
No meio da “batalha”, o Mestre foi ao Ministro da Educação, Clóvis Salgado, para saber como proceder para conseguir a Escola. O Ministro orientou-o e pediu-lhe que ele mesmo preparasse o processo. O Mestre voltou a Uberlândia, fez o que devia e voltou ao Ministro. Ao cabo de dois meses estava tudo pronto. Chamaram-no.
– Agora, você tem que ir Presidente. Disse-lhe o Ministro.
O Presidente era Juscelino
Kubitschek.
– Mas, como? Ele é PSD… eu sou UDN…
O Ministro insistiu: tinha que falar com o Presidente.
E lá foi o Mestre de volta ao Rio de Janeiro atrás de uma audiência. Apresentou-se à Secretária e fez o pedido. A moça mandou que se assentasse entre diversas pessoas, inclusive políticos que também aguardavam, e entrou no Gabinete.
Daí um pouco retornou e, da porta, fez um sinal ao dr. Jacy para que se aproximasse.
– O senhor se retire, por obséquio.
Surpreso, pediu à moça que repetisse.
– O senhor se retire… – olhou para um lado e para o outro verificando se alguém observava – …tome o elevador no corredor, desça em tal andar, etc etc…
Foi o que fez. Um Oficial recebeu-o e encaminhou-o ao Gabinete do Presidente. O dr. Jacy cumprimentou o primeiro mandatário respeitosamente.
– Senhor Presidente…
– Deixa disso, Jacy. Pra você eu sou Juscelino. Nós não somos amigos?
O Mestre ainda o chamou de Presidente algumas vezes, sempre admoestado. Juscelino perguntou o que o levava àquela audiência.
– Eu só quero uma coisa: a Faculdade de Direito de Uberlândia.
– Traga o Decreto que eu assino.
– O Ministro Clóvis Salgado me disse que o Decreto chegará ao seu Gabinete na semana que vem.
– Pois volte a semana que vem, e levará o Decreto assinado.
De outra feita, o Mestre saiu a tomar colaborações dos amigos para a instalação da Faculdade. Era Secretário da UDN, mas fez questão de fazer a primeira visita ao Toninho Rezende, Presidente do PSD.
Toninho recebeu-o bem e se dispôs, de pronto, a colaborar com os cem mil cruzeiros que ele pedia. Mas aconselhou-o:
– Deixe a Secretaria da UDN e faça os pedidos como um cidadão comum. Será melhor.
O Dr. Jacy compreendeu que verdadeiramente era melhor afastar-se da agremiação política para atender o ideal da cidade. Saiu da casa de Toninho Rezende e foi para a casa de José Zacharias Junqueira, Presidente da UDN. Pediria a contribuição e o afastamento.
O Presidente achou válida a idéia.
– Também acho que é melhor. Deixe o Diretório e dedique-se à campanha.
E foi assim que o Mestre Jacy de Assis deixou a sua UDN e conseguiu que cem uberlandenses colaborassem com cem mil cruzeiros cada um para a Escola. Nem um desses colaboradores jamais pediu qualquer prestação de contas. Alguns anos antes de falecer, o Mestre publicou a relação desses cem colaboradores. (Fontes: dr. Jacy de Assis e prof. Osvaldo Vieira Gonçalves).