Ana Maria Coelho Carvalho*

Gosto muito dos textos, das músicas, das pregações e das palestras do Padre Fábio de Melo. Por exemplo, a palestra intitulada “Gente mais ou menos”, que circula na internet.

Nessa palestra, ele começa chamando atenção para o fato do aumento de um tipo de gente que é mais ou menos. Para qualquer pergunta- como vai a vida, como vai o namoro, como vai a mulher, como vai a saúde- a resposta é sempre a mesma: “- Mais ou menos”. Assim a pessoa vive mais ao menos e vai multiplicando o mais ou menos pela vida afora. São muitas as situações em que podemos nos sentir mais ou menos: aprendemos inglês mais ou menos, namoramos mais ou menos, ficamos mais ou menos doentes. Daí procuramos um médico que é mais ou menos porque fez uma faculdade mais ou menos. E ele faz uma cirurgia mais ou menos na gente. Ou seja, começamos a sentir os problemas do mais ao menos quando precisamos de alguém competente. Ou quando alguém procura um marido e acha um mais ou menos, porque ele foi mais ao menos amado dentro de casa. Daí ele ama de qualquer jeito e de qualquer jeito vai embora. E se ficar, também vai ser um pai mais ou menos e ter um filho mais ou menos.

Continuando, ele afirma que isso tudo é muito triste. Não podemos deixar as pessoas entrarem na nossa vida de qualquer jeito, pois somos preciosos. A gente pode até achar algumas coisas mais ou menos, como a casa onde moramos, a rua, a cidade, o transporte, o governo. Ou a cama onde dormimos, a comida. Até acreditar mais ou menos no futuro. Mas a gente não pode, nunca, é amar mais ou menos. Ou sonhar, ser amigo, namorar, ter fé, acreditar. Tem que ser por inteiro. Gente que quer fazer a diferença na vida não pode ser mais ou menos. E a solução para deixarmos de ser mais ou menos está nas coisas simples da vida. Como na música “Casinha branca”. No começo dessa música, fala-se de solidão, da falta de prazer, da felicidade cada vez mais longe, dos sonhos da mocidade não realizados. Mas de repente chega o refrão, com um sonho bem simples: – “eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, só pra ver o sol nascer…” Assim, a solução do mais ou menos não está em grandes coisas. Ele, o Padre Fábio de Melo, conta que nunca viu ninguém chorar por não ter um iate ou uma casa grande e bonita. Pode até reclamar, mas não chora. Mas quando precisamos de amor e não temos, aí a gente chora. Ou porque não temos um pai e uma mãe dentro de casa. Ou quando o pai ou a mãe olham pra gente de qualquer jeito, quando perderam a intimidade com o filho. Quando olham com tanta pressa e não são capazes de olhar nos olhos. Porque a única forma de deixar de ser pai ou mãe mais ou menos, não é a forma de falar, é a forma de olhar. Não adianta ser uma pessoa competente se o pai (ou a mãe) não consegue deixar um sorriso no filho que gerou. Numa casa onde só existem pessoas mais ou menos, não há felicidade e não há herança para deixar. Porque o importante não é a casa que você constrói e sim, o que você coloca lá dentro. Daí vale pensar no sonho da casinha branca: o que vale são as coisas simples e pequenas. O pai que pega na mão , que olha sem gritos e acusações, acreditando que o filho pode ser melhor. Que para de colocar defeitos e que conta para o filho o que acha de bonito nele e que nunca teve coragem de falar. Pode ser que o filho, sabendo o que tem de bonito dentro dele, passe a fazer as coisas bonitas mais vezes.

Enfim, são coisas tão pequenas, tão miúdas, esforços simples que podemos fazer todos os dias e que podem nos levar a ser inteiros, a deixar de ser mais ou menos e a fazer a diferença no mundo.

*Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br