Cesar Vanucci *

“O nosso Brasil se transformou em desunião, conflito,
arrogância política, violência contra imprensa”
(João Doria, candidato tucano à presidência)

O PSDB largou na frente oficializando a primeira candidatura à sucessão presidencial. Em concorridas primárias das quais participaram como pré-candidatos os governadores de São Paulo, João Doria, do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, os tucanos escolheram o nome de maior visibilidade nacional, abrindo, ao que tudo faz supor, um “racha” em suas fileiras a se levar em conta a manifesta hostilidade existente entre o atual governador bandeirante e o antigo governador candidato da legenda à presidência no pleito passado, Geraldo Alckmin. Doria ambiciona reconhecimento popular como candidato da “terceira via”. Ou seja, um disputante ao Planalto com discurso e propostas de governo diferenciadas, mais do que isso, antagônicas, de dois outros prováveis competidores apontados por analistas políticos como capazes, potencialmente, de estabelecer uma polarização de votos que parcelas significativas da sociedade exprimiriam desejo de evitar. Os competidores seriam no caso, o ex-presidente Lula, que vem liderando, na hora presente, pesquisas sobre intenções de votos e o atual presidente Bolsonaro, que nessas consultas tão distanciadas ainda da eleição, vem ocupando invariavelmente o segundo lugar.

Oportuno ressaltar que os “prováveis candidatos” relacionados nessas extemporâneas coletas de opiniões são, muitas delas, figuras que poderão, no frigir dos ovos, não ser confirmadas, nas agremiações, na hora de definirem seu posicionamento.

Doria é adversário de Lula há muito tempo. De Bolsonaro foi aliado na campanha eleitoral passada. A animosidade entre os dois é hoje bastante acentuada, a ponto de observadores chegarem a admitir que numa eventual inimaginável aliança que se visse forçado a fazer, no futuro, por alguma circunstância qualquer com um dos dois, o governante paulista acabaria optando pelo petista. Mas algo assim, claro está, não passa de especulação delirante, à inteira deriva do contexto politico em que está sendo concebida a campanha do tucano em tornar-se reconhecido, aos olhares dos votantes, como opção legítima dos que se antepõem a uma decisão ideologicamente polarizada.

O PSDB ergue a bandeira da “terceira via”. Não será a única legenda a fazê-lo. As movimentações de bastidores e os primeiros ensaios com relação a lançamento de nomes fornecem provas sobejas de que a “terceira via” será o caminho a ser trilhado por muitos. No PDT, Ciro Gomes, pré-candidato único vai utilizar certeiramente a impetuosidade retórica para agregar a imagem a um posicionamento de forças políticas, de dimensão ainda não testada numa disputa, que supostamente oferece rejeição aos dois presumíveis candidatos mais bem avaliados, por hora, nas pesquisas.

O ex-ministro Sérgio Moro, que recentemente ingressou no Podemos, sem ter anunciado disposição para concorrer à presidência, é outro personagem que, no modo de pensar de observadores credenciados das tricas e futricas políticas acabará, também, na hipótese de candidatar-se, por enveredar pela mesma via.

O noticiário anda repleto de conjecturas acerca de conversações, cogitações, envolvendo as dezenas de partidos e elementos filiados de maior projeção. Essa efervescência faz todo sentido. A definição tucana forçou movimentação de peças do tabuleiro de xadrez político. Revelações intrigantes, composições impensáveis, anúncios estrepitosos de deliberações que, em muitos casos, não resistirão a inevitáveis chuvas e trovoadas inerentes ao processo, eclodirão a três por quatro, até que o quadro definitivo das candidaturas – isso lá por volta de agosto vindouro – fique delineado. Doria já é candidato. Lula e Bolsonaro ainda não confirmaram candidatura. Os nomes de prováveis disputantes vão passar a ser mais insistentemente citados. Muita agitação ainda vai acontecer nas arquibancadas antes de soar o apito do juiz avisando a tão aguardada partida.

* Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)