Antônio Pereira*

Nos primeiros tempos, a Cidade Velha terminava no cemitério que ficava naquele largo, hoje praça Clarimundo Carneiro. Esse cemitério foi criado em 1898 quando o que ficava no adro da igreja de N. S. do Carmo lotou e foi desativado, virando uma área abandonada, cheia de assombrações. Em 1908, iniciam-se entendimentos com a Igreja para a desapropriação da área com o fim de se construir um passeio público e a sede da Câmara Municipal.
Em 1910, o menino Avenir Gomes começou a chutar uma bola velha que trouxe de Uberaba, num canto sem túmulos do cemitério. Foi aí que nasceu o futebol uberlandense que nos deu o glorioso UEC.
Quando a primeira Câmara Municipal nomeou os logradouros públicos, a área recebeu o nome de Largo da Liberdade. De fim da Cidade Velha, o Largo da Liberdade passou a início da Cidade Nova. A partir dela é que o engenheiro James Mellor, em 1906, fez a planta do futuro Centro, até a linha da Mogiana, que passava pela praça Sérgio Pacheco. Foram criadas, no papel, as avenidas Cesário Alvim, Floriano Peixoto, Afonso Pena, João Pinheiro e Cypriano del Favero, sem nome ainda. Essa área vazia ficou conhecida como Cidade Nova. E o Fundinho, início da cidade, como Cidade Velha. Estabeleceu-se uma disputa entre as duas áreas: Cidade Nova e Cidade Velha. A Nova ganhou a parada. Entre as duas, o Largo da Liberdade – nem Cidade Velha, nem Cidade Nova.
A praça foi estruturada por Cypriano del Fávero para ajardinar o entorno da sede da Câmara Municipal que ele construiu no miolo da área. A ideia de construir o prédio da Câmara foi do grande prefeito, talvez o melhor que a cidade já teve, João Severiano Rodrigues da Cunha, conhecido por Joanico. Foi inaugurada, com o prédio, no dia 11 de novembro de 1917. Cypriano não participou da festa, faleceu antes. A obra custou oitenta contos pagos em quatro parcelas anuais de vinte. Ressalte-se que não havia prefeitura à época. A administração do município era feita pela Câmara Municipal através de um Vereador designado com o título de Agente Executivo.
Em 1929, a praça mudou de nome, de Liberdade para Antônio Carlos, presidente do Estado de Minas Gerais. Nesse ano, Antônio Carlos visitou a cidade, foi quando a chamou de “Cidade Jardim” pelas belas praças que possuía. No baile que se lhe ofereceu à noite, no salão da Câmara, antes do seu início, um vexame, apagou-se a luz e acabou-se o baile que nem começou. O presidente ia dançar com a miss Uberlândia.
Nos primeiros planos era para haver dois coretos, depois decidiu-se por um só. Foi inaugurado em 1925, quando era Agente Executivo Eduardo Marquez. Construído por Américo Zardo.
O prédio da Câmara, desde que Getúlio Vargas assumiu o Governo e criou a figura do Prefeito Municipal, passou a ser a sede da Prefeitura. A Câmara ficou no andar de cima.
Renato de Freitas em seu primeiro mandato, comprou a sede do Banco do Brasil, na esquina da praça com a rua Bernardo Guimarães e para lá transferiu a Prefeitura. O prédio voltou a ser só da Câmara. Com a construção, pelo prefeito Paulo Ferolla, da nova Câmara no conjunto administrativo do município, na avenida João Naves de Ávila, ela se mudou para a sua nova sede.
O velho edifício da Câmara passou a abrigar o Museu Municipal. Para ampliar sua área, sem mexer no prédio, muito bonito, optou-se por furar um porão e a edificação cresceu pra baixo. Só que, de repente, os peões que furavam o solo encontraram uma ossada humana. Chamaram o engenheiro Ochiucci que se apavorou com o achado, mandou parar a obra e se dispunha a denunciar o fato à delegacia de Polícia quando um velhinho que acompanhava a conversa, aparteou:
– Não precisa, não, doutor. Aí já foi um cemitério.
– Ah…

*Jornalista e escritor – Uberlândia – MG