Marília Alves Cunha*
Gosto do preto no branco/ como costumam dizer, antes perder por ser franco/ do que ganhar por não ser…
(Antônio Aleixo)
Vivemos num país democrático, assim diz nossa Constituição. Ela prega também a livre manifestação do pensamento e da opinião, sendo isto parte dos direitos e garantias fundamentais, pedras basilares do regramento da nação brasileira. Isto significa que temos a liberdade de nos expressar, emitir opiniões, ficar contra ou a favor de alguma coisa ou pessoa, discutir e debater ideias. Nada é proibido. Se houver ofensa a outro, por injúria, calúnia ou difamação há canais próprios e meios institucionais pelos quais as pessoas podem ser julgadas, absolvidas ou condenadas. Assim manda a lei.
Mas o que temos assistido no Brasil? Um policiamento de opiniões divergentes por parte daqueles que se acham donos da verdade e não admitem ser contrariados, não admitem dúvidas ou questionamentos. Pelas mínimas coisas calam a boca de blogueiros, jornalistas, comentaristas políticos e até simples e comuns participantes que gostam de compartilhar suas ideias nas redes sociais. Assistindo a isto a gente se lembra que desde 2010 o PT tem defendido, principalmente nas pessoas do Sr.Lula e Sr. Zé Dirceu, a regulamentação da mídia como prioridade e se confessando arrependidos por não terem aproveitado os tempos áureos do petismo para impor esta medida. Dia desses, numa entrevista, o ex-presidiário e ex-condenado Lula falou claramente:”Tô ouvindo muito desaforo. Leio muito a imprensa (sic). Se eu voltar vou regularizar os meios de comunicação deste país. A internet tem que ter uma regulamentação, que não seja censura, que permita que a gente conduza a internet mais para o bem do que para o mal.” O Sr. Lula ainda não teve a grandeza de assumir os próprios erros, ainda culpa a imprensa pela sua queda ao invés de fazer o “mea culpa” pelo desatino de sua governança.
Temos visto movimentos claros e indisfarçados à volta da censura. Inquéritos sem pé nem cabeça, desmonetização de canais de comunicação, tirando das pessoas seu trabalho, seu sustento e seu direito de se expressar. Além de muitos outros que foram calados, Alexandre Garcia foi demitido da CNN por ter expressado sua opinião num jornal chamado “Liberdade de Opinião”. Paradoxal e crítico, não é mesmo? Mas o grande jornalista, de longa carreira pautada na competência e seriedade não parou, muito pelo contrário. Tem um grande público que o acompanha e um grande poder de comunicação, imposto pela inteligência e poder de argumentação.
Assisti dia desses o Ministro Barroso, do STF, falando sobre regulamentação da mídia. Em resumo e pelo que entendi, falou de dois pratos na balança: havia uma visão libertária em relação à liberdade de expressão, liberdade de imprensa porque isto fazia parte da agenda de uma geração e é pressuposto importante de nossa geração (pelo visto, na opinião do Sr. Barroso não há mais…). No outro prato da balança colocou: atualmente o ódio, a mentira, a desinformação e as teorias conspiratórias comprometem o debate público de qualidade. As pessoas podem participar, desde que tenham recebido informações adequadas…
Voltando ao Sr. Lula e suas opiniões: Quem pode “conduzir” a internet mais para o “bem” do que para o “mal”? Quem será esta sábia e douta engrenagem que pode realizar o milagre? Quem vai determinar o que é bem e o que é mal? Da mesma forma pergunto ao Sr. Ministro da Suprema Corte: o que é informação “adequada”? Consultei o dicionário da língua portuguesa e encontrei: apropriada, amoldada, acomodada, ajustada, tornada conveniente, oportuna. É isto que esperam da regulamentação da mídia, tornar os brasileiros sem fala própria, com opiniões ditadas apenas pelo que outros julguem ser verdade ou propícias ao momento? Extinção do debate de idéias? Proibição de questionar?
Vivemos anos e anos de repressão. Foi preciso muita espera e muita luta para que pudéssemos ter uma Constituição que nos devolvesse a liberdade, a tão sonhada liberdade, cantada e decantada em prosa e verso pelos poetas que a defenderam e aguardada pelos brasileiros como quem aguarda a sorte grande na loteria da vida.
Que saudade do Caetano Veloso portando sua bandeira: “É proibido proibir”! Onde estão estes protagonistas de uma época em que lutar contra a censura era sinal de bom mocismo?
*Educadora e escritora – Uberlândia – MG