Antônio Pereira*

Ao assumir o governo do Estado de Minas Gerais, em 1971, Rondon Pacheco nomeou Alisson Paulinelli para seu Secretário da Agricultura. Jovem e entusiasmado, o Secretário cuidou logo de se avistar com os agricultores mineiros levando e colhendo sugestões. Uma das primeiras reuniões, ele fez no Triângulo, em Uberaba, com os líderes rurais regionais. Geraldo Migliorini, que era presidente do Sindicato Rural, compareceu e levou em sua companhia outro líder ruralista regional, o então prefeito municipal, Virgílio Galassi.
Antes do início da reunião, Migliorini encontrou-se com o dr. Mário Pacini, que era um dos diretores do Banco do Brasil, e perguntou-lhe quem era e como era esse novo Secretário. Se seria igual ao Evaristo de Paula, Secretário da Agricultura de Israel Pinheiro, governador que antecedeu Rondon. Essa comparação se fez porque, no governo de Israel Pinheiro, Pacini teria sugerido ao Migliorini que pedisse ao Secretário Evaristo de Paula que o procurasse em Brasília porque ele tinha muitos meios de ajudar a agricultura mineira e tinha interesse nisso por ser mineiro também. Tinha ajudado bastante os produtores goianos, muito procurado pelo Secretário de Agricultura de Goiás. Atendendo a sugestão, Migliorini comunicou-se com Evaristo de Paula e o contato se fez com muitas vantagens para Minas Gerais.
Chamados para a plenária, Paulinelli sugeriu aos produtores que plantassem arroz para o gasto, mais algodão, milho e soja que eram produtos exportáveis e trariam divisas para Minas e para o Brasil. Após a exposição do secretário, Migliorini pediu a palavra e disse ter estado atento e interessado em suas sugestões, mas gostaria de acrescentar um outro produto importante: o café. Por essa época, ele acompanhava a campanha que o jornal “O Estado de São Paulo” promovia em prol do desenvolvimento da cafeicultura e visitava constantemente Franca, sua terra natal, onde se produzia o melhor café do mundo. O café era produto de extrema importância, o primeiro lugar nas exportações brasileiras. Paulinelli pediu à assembleia que se manifestasse sobre a sugestão. Consultou primeiramente o presidente da Rural de Sacramento que achou a sugestão muito importante. Sacramento já tinha sido um grande produtor de café e deixou de sê-lo por ter erradicado seu cafezal a pedido do presidente Getúlio Vargas.
Consultado também, o representante de Araxá respondeu da mesma forma. O dr. Castilho, presidente da Rural de Uberaba, é que destoou concordando que o café era importante, porém muito trabalhoso. Sugeria o amendoim em substituição ao café. Migliorini pediu um aparte e perguntou-lhe se sabia a que altitude era conveniente plantar o café. Ele não sabia. Fez-lhe outras perguntas relativas ao cultivo do café e Castilho não respondeu. Isso demonstrava que ele não possuía conhecimentos técnicos sobre a rubiácea. Paulinelli pediu a opinião de Afrânio Machado Borges, também de Uberaba, que apoiou Migliorini e acrescentou que, em fazendas de familiares seus, no tempo do Getúlio, havia plantações exuberantes de café, destruídas a pedido do ditador que pagou pelos pés arrancados.
Ao final, Paulinelli se propôs a estudar a sugestão do presidente do Sindicato Rural de Uberlândia já que a grande maioria era favorável.
Após esse encontro, Migliorini entrou em contato com Rondon Pacheco e expôs-lhe seu pensamento e o apoio do Secretário. Rondon autorizou Paulinelli a abrir vários postos do IBC no Triângulo e Alto Paranaíba: Araguari, Uberlândia, Patos de Minas, Monte Carmelo.
Em consequência, logo o café se tornou o grande produto agrícola do Triângulo e Alto Paranaíba, elevando Patrocínio à condição de maior produtor mineiro e Minas Gerais como maior exportador do produto (Fonte: Geraldo Migliorini).