Gustavo Hoffay*

Há poucos dias tive publicada neste honroso espaço e generosamente cedido pelo conceituado jornalista Ivan Santos, um artigo onde eu expunha a minha opinião a favor da liberação do uso da maconha, principalmente em função do vertiginoso, constante e incontrolável aumento de graves crimes contra a vida e diretamente relacionados ao tráfico daquele entorpecente que, sabe-se, movimenta vultuosas quantias por atrair uma grande quantidade de pessoas que encontra-se à margem de uma sociedade dita sadia e regularmente produtiva. A repercussão veio a cavalo! Não poucas pessoas do meu círculo social manifestaram-se àquele respeito, positiva e contrariamente, quanto mais tendo em vista o trabalho que – modesta e voluntariamente – realizo na seara de prevenção às drogas e reabilitação de dependentes químicos, em nosso município. Permitam-me, portanto, tornar ao assunto e visto serem amplas, abundantes e divergentes as opiniões promulgadas no tocante ao mesmo. Muito embora o uso da maconha seja permitido – ou ao menos suportado – em nosso país e de acordo com a legislação em vigor, a minha intenção não foi outra senão cutucar – propositadamente – a opinião pública e dispor na berlinda um tema tão polêmico e ao mesmo tempo tão caquético, porém – muito infelizmente – ainda pouco explorado pela maioria das pessoas deste ou de qualquer outro município brasileiro. E consegui, dado o alcance desta coluna e o interesse de muitos em relação ao assunto em foco.A título de esclarecimento informo que com relação à maconha, o que é proibido em nosso país são o seu cultivo,transporte, depósito e comercialização….não o seu consumo!Ao contrário do que muitas pessoas possam imaginar,a legislação brasileira não trata o consumo da maconha como a uma insubordinação; logo não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, conforme o princípio da anterioridade penal. Mas alguém poderia indagar: como permitir muito daquilo que está diretamente relacionado à maconha? Seria como se autorizasse o consumo de bebidas alcoólicas, mas proibisse a produção, o transporte, a armazenagem, a distribuição e a conseqüente comercialização das mesmas! Como entender a lógica da legislação pertinente ( e vigente), se alguém pode consumir o que é proibido produzir e comercializar, mas sabendo-se que a maconha entra clandestinamente em nosso país através dos seus mais de oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados? Pergunto: o que é mais prejudicial à população brasileira , o tráfico ou o consumo de drogas? A resposta a essa pergunta é muito fácil. Um ex-usuário de maconha pode vir a tornar-se um ativo e persistente agente multiplicador na área de prevenção ao uso de drogas, mas um traficante nunca ( nunquinha ) irá tornar-se um agente para evitar a produção e o tráfico da maconha, por exemplo. Qualquer cidadão brasileiro que tiver acesso ao constante da Lei Federal 11.343, Seção VI e Capítulo III em seu artigo 28, verá que não há um só verbo que refira-se à proibição do uso de drogas em nosso país! O que vem ocorrendo a décadas na Terra de Santa Cruz, é um crescente aumento do uso de drogas ilícitas e um conseqüente afluxo de jovens interessados em fugir de alguma realidade que pareça-lhes cruel ou desconfortante e tão presente no mundo dos adultos; em outros termos: uma íntima expressão de contestação juvenil frente a uma sociedade extremamente exigente e ao mesmo tempo hipócrita. Analisemos que toda droga é comunitária quando incorporada a um grupo; ora, tal experiência atrai a curiosidade de muito jovens diante de uma situação tão provocante quanto angustiosa. O que fazer? Digo, re-pito e tri-pito: oferecer vida plena de sadias e abundantes oportunidades para o desenvolvimento social dos jovens e, principalmente, àqueles que encontram-se em situação de risco ao uso de drogas, aliada a uma educação sobre aquelas substâncias e desde que cientificamente aplicada, visto que a maioria quase absoluta de rapazes e moças é suficientemente curiosa e portanto receptiva ao desafio de descobrir as causas e as origens de fenômenos diversos, de maneira a aprender a defender-se daquilo e de quem deseja assisti-los embarcarem em uma viagem repleta de ilusões e prazeres imediatos, mas de terríveis conseqüências futuras. O dinheiro gasto com cartazes, faixas, passeatas e carreatas, bonés, adesivos e camisetas com a inscrição “ Não Use Drogas”, além de ser um investimento absolutamente inútil é, também, uma bucólica e simplória tentativa de algo ou alguém dizer-se moralista. O que a juventude precisa é de vida, vida em abundância e locais onde possa, responsavelmente, extravasar uma energia represada. Note-se que 17% da população das principais regiões metropolitanas é formada por jovens, o que equivale a mais de doze milhões de brasileiros; o que procuram, segundo pesquisas, é um equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, sendo que cursar faculdade é uma das suas principais metas.Nota-se portanto que há de valorizar-se uma educação formal bem definida, “pari passu” a uma bem estruturada vida familiar e a exeqüíveis oportunidades profissionais, além de pessoas que possam dizer-lhes que “drogas” são máscaras para quem acovarda-se diante de desafios comuns a qualquer ser humano.

*Agente Social – Uberlândia – MG