Cesar Vanucci *

“Ameaças vazias e agressões covardes não afastarão o STF de exercer, com respeito e serenidade, sua missão constitucional de defesa e manutenção da Democracia”.
(Luz Fux, presidente do STF)

O comendador Giordano, de nacionalidade italiana, cidadão de maneiras cavalheirescas, sempre elegante no trajar, patriarca de família ilustre, valia-se de sua rica experiência de vida, sempre receptivo às lamúrias alheias, para valiosos aconselhamentos. Com palavra fraternal, sotaque cantante trazido de seus pagos natais, ajudava muita gente a contornar problemas e cair fora de enrascadas. Empregava com constância, diante de fatos chocantes, inusitados, perturbadores, uma expressão proverbial que acabou ficando associada ao seu jeito de ser por uma peculiaridade. Ele “colocava” acento, na forma oxítona, ao pronunciar a palavra “limite” (límite). Dizia límite em lugar de limite. “Há um límite pra tudo!” – costumava bradar, nos papos coloquiais.

Contemplando o tempestuoso cenário brasileiro, acode-me à lembrança o acerto da exclamação, entoada com jeito típico pelo velho Giordano: “Há, sim, límite pra tudo!”

Há um limite para a insensatez política. Para os destemperos verbais, para boquirrotismos que possam extravasar, mesmo que tenuamente, sagradas regras e conceitos pertinentes à boa convivência republicana e democrática, fortemente arraigados à consciência cívica nacional. Há um limite para exteriorizações preconceituosas de todo gênero. Há limite para que os retardatários da história se ponham à vontade, no relacionamento humano, para alvejar impunemente, com seu tosco entendimento das coisas, as conquistas da ciência, da inteligência, das criações voltadas para o bem-estar social. Há um limite para o que vem dizendo o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro.

É o que nos mostra a reação de sensatez, lucidez e bom-senso que se observa, neste momento na vida do país, originária de vozes representativas dos mais variados setores e tendências ideológicas. Esses segmentos resolveram encarar as desabridas atitudes do ocupante do Planalto e proclamar, alto e bom som, inconformismo diante dos intoleráveis riscos a que estamos sendo expostos com os desvarios verbais provindos, em alarmante sequência, do Palácio do Planalto. As manifestações em questão, rechaçadas pela sociedade, compõem-se de agressões à Constituição, ao modelar sistema eleitoral implantado pelo Brasil, às instituições democráticas, a órgãos que têm por dever legal a defesa dos postulados republicanos.

O Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral, a CNBB e outras organizações vinculadas ao pensamento religioso, a Associação Brasileira de Imprensa, a OAB, as lideranças classistas, os empresários, congressistas e dirigentes políticos de todos os partidos, a gente do povo, enfim essa poderosa corrente de opiniões está fazendo questão de registrar sua insatisfação com o que vem acontecendo na atualidade brasileira. A avassaladora crise humanitária, combatida com ineficiência, a inação administrativa, a estagnação econômica, o desemprego alarmante, o custo de vida atingindo culminâncias himalaianas, a escassez hídrica, a expansão da pobreza, tudo isso reclama uma ação resoluta sob a coordenação governamental.

Carecendo, não é de hoje, de um verdadeiro projeto de desenvolvimento, que saiba aproveitar adequadamente seu prodigioso potencial de riquezas inexploradas, o Brasil se coloca em desassossego ao identificar, na atuação de seu governo, desperdício de tempo considerável, emaranhado que se acha em questões que ofendem os brios da nacionalidade e alvejam em cheio conquistas inalienáveis que compõem seu patrimônio cívico.

O que toda a sociedade almeja é que cessem as ameaças e intimidações contrárias aos valores democráticos e que o esforço despendido nessas ações negativas seja deslocado para a retomada ampla, geral e urgente do desenvolvimento econômico e social.

Há limite pra tudo!

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)