Autor: Rafael Moia Filho*

Os deputados federais e senadores eleitos a cada quatro anos deveriam representar o povo brasileiro, cada qual com seus partidos, suas ideologias e diferenças.
No entanto ao chegarem para um novo mandato começam a se unir e formar bancadas, nunca pelo povo e para o povo que representam, mas para tirar proveito próprio e se beneficiar da força eventual do grupo formado. Tem a bancada evangélica, a bancada da bala e a maior e mais antiga que é o Centrão.
Ele foi usado para designar os parlamentares que formavam maioria na Assembleia Constituinte que deu origem à atual Constituição, em 1988. Porém, a palavra passou a ser usada novamente para dar nome a algo totalmente diferente.
O Centrão atual passou a ter destaque a partir de 2014, quando, sob o comando de Eduardo Cunha (MDB-RJ), atuou para elegê-lo presidente da Câmara dos Deputados.
Ele é, basicamente, um grupo formado por 170 a 220 deputados (segundo as estimativas) de diferentes partidos, de direita, extrema direita e centro, que se unem para conseguir maior influência no parlamento e defender, de modo conjunto, seus interesses.
O problema é que pelo seu tamanho acaba se unindo ao governo federal, se prostituindo politicamente e com isso, conseguindo cargos, poder e muitos recursos oriundos dessas manobras. Em troca, votam a favor do governo independentemente de o assunto ser ou não de interesse popular, também formam a defesa do presidente quando este tem contra si o risco de processos de Impeachment.
Atualmente, ele é formado por parlamentares do PP (40 deputados), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). Este seria o “Centrão oficial”, mas, em certos momentos, são somados o PSD (36 deputados), MDB (34), DEM (28), PROS (10), PSC (9), Avante (7) e Patriota (6). A maioria destes partidos foi ultra investigada durante operação lava jato e em operações da PF, sempre com muitos parlamentares envolvidos.
A maior parte dessas legendas não tem uma atuação ideológica clara (apesar de serem classificadas como de centro e centro-direita em muitas ocasiões) e estão dispostas a negociar apoio ao Executivo em troca de cargos na administração pública. A ideologia deles é o dinheiro, o poder e a manutenção em seus cargos nas eleições futuras.
Por conta disso, o Centrão é associado por muitos à “velha política” e ao fisiologismo – ou seja, a atuação visando ganhos dos partidos e dos políticos, independentemente de ideologias e do interesse público.
Com essa “má fama”, não é de surpreender que muitos deputados apontados como parte do Centrão não aceitem essa classificação. Muitos se dizem apenas “independentes”, isto é, fora da oposição e da base do governo.
Na campanha para a presidência da república o então candidato Jair Bolsonaro enchia o peito e dizia: “Não vou praticar a velha política, meu governo será composto de técnicos, portanto, não vou fazer troca de favores com partidos por cargos”.
Em 2021, já presidente, o mesmo Jair Bolsonaro enche o peito e diz: “Eu sou Centrão”. Enquanto nomeava mais um deputado daquele grupo para fazer parte de seu governo fisiológico, improdutivo e repleto de parlamentares com diversos processos criminais nas costas por corrupção, rachadinha, propinas e outros ilícitos…

*Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.