Marília Alves Cunha*
“Uma sociedade que não pune seus criminosos, fatalmente acabará punindo seus membros que não cometeram crime algum. Se a justiça não cumpre efetivamente seu papel, ela será substituída pelo Crime, no tribunal em que a sede de justiça se mata com veneno.” (Paulo Antônio Briguet).
A CPI já enveredou por tantos caminhos estranhos, menos por caminhos que seriam naturais nesta história do Covid: procurar pelo destino dos bilhões que o governo disponibilizou para estados e municípios fazer frente à pandemia. Dinheiro do povo, coisa pública, desviado diretamente para o bolso de alguns ou usado com desvio de finalidade por outros. Dinheiro da saúde é sagrado, principalmente nestes tempos infelizes nos quais as pessoas morrem, às vezes pela falta de um simples equipamento que lhes daria o ar que faltou… Falar em vacinas, já deu o que tinha que dar. O Ministério da Saúde procurou agir com lisura no trato deste assunto. Faltou lisura sim, em gente que entrou no Covidão, em gente que fingiu que deu a vacina com propósitos criminosos, enganando, sabendo que o gesto poderia matar alguém, em gente que tentou ganhar “unzinho” com mutretas que lhe são habituais, em gente que furou fila ou fez escolhas por esta ou aquela vacina, porque se considera melhor ou mais importante que os outros.
E esta mesma CPI vai aos poucos se amofinando, por falta de interesse do público que já viu o suficiente, já encontrou o cerne da questão, já teve provas evidentes do caráter, da marca, do cunho de um inquérito politiqueiro, nutrido de falsas intenções e atos que desrespeitam as pessoas nas suas vidas, seus valores, sua expressão, seus direitos. Deveriam, se tiver sobrado uma réstia de seriedade, fechar as portas por falta absoluta de finalidade. É muito gasto de tempo e dinheiro para pouco ou nenhum proveito.
Além desta calamidade, para nos apoquentar ainda temos este cavalo de batalha em que se transformou a urna eletrônica. Tão simples resolver a querela, na qual Ministros do Supremo perdem toda a sua “supremacia” e postura ilibada, regra constitucional para os que compõem a Alta Corte e o Presidente da República eleva o tom, às vezes de forma descabida… Por que insistir nesta urna antiquada, continuamente usada sem nunca ter sido provada a sua inviolabilidade? Por que insistir em não respeitar o povo nas suas manifestações e anseios? Por que insistir em caminhar em direção oposta à democracia, conquistada a duras penas? O que custa tornar tudo mais simples, claro e honesto através de urna eletrônica, com voto impresso e auditável? Por que tanto medo da transparência? Eu só queria saber. Perguntar, se não me engano, ainda não ofende… Ou ofende?
*Educadora e escritora – Uberlândia – MG