Ana Maria Coelho Carvalho*

Sempre que faço caminhadas em certo clube, converso com um funcionário que varre as folhas da trilha. Dia destes, encontrei-o concentrado na observação de um casal de joão-de-barro construindo o ninho em um galho de eucalipto. Parei e fiquei observando também. Lindo de se ver. Um deles chegava com a pelotinha de barro no bico e colocava na parede do ninho. O outro vinha e alisava com o bico. Os dois se revezavam nesta tarefa e o ninho já estava quase pronto, na forma de um forno de barro , com uma portinha caprichada. O funcionário comentou que o casal de joão-de barro é muito fiel um ao outro e que, se o macho for traído pela fêmea, voa até uma grande altura e depois despenca lá de cima, se esborrachando no chão. Ou seja, um suicídio por desgosto amoroso. Uma amiga, que caminhava por ali, entrou na conversa e disse que não era bem assim, que na verdade o macho traído fechava a porta do ninho e prendia a fêmea lá dentro. Eu disse que isso deveria ser lenda, pois imagina se a fêmea ia ficar lá quietinha dentro do ninho, esperando uns dois dias o macho pegar cada pelotinha de barro para tampar a entrada e prendê-la. Ainda mais que o joão -de -barro é considerado um pássaro inteligente…
Não encontrei na literatura nada que confirmasse nem o suicídio, nem o instinto assassino do joão-de barro. Mas existem muitos fatos interessantes , estudados e comprovados, sobre o comportamento sexual dos animais. Como no caso do louva- a- deus e do leão. A fêmea do louva-a-deus pratica o canibalismo sexual, uma forma de predação em que a fêmea devora o macho na cópula. Ela é maior que o macho e começa a devorá-lo pela cabeça, pedacinho por pedacinho, com suas potentes mandíbulas. Faz isso porque precisa de proteínas para amadurecer seus ovos e na cópula já começa a aproveitar as do macho. Um caso típico de macho perdendo a cabeça pela fêmea. Mas existem invertebrados mais espertos, como algumas espécies de aranha nas quais o macho é bem menor que a fêmea. Ele pode ser confundido com uma presa se chegar muito depressa e afoito demais para copular. Assim, o macho leva uma presa de presente para a fêmea e enquanto ela come a presa, ele copula. Depois, sai rapidinho. Melhor dar um presente do que acabar devorado.
Quanto ao leão, o rei dos animais, ele é um dos muitos exemplos de espécie onde existe homossexualidade. Machos abandonam as fêmeas disponíveis para formar seu próprio grupo homossexual. O biólogo canadense Bruce Bagemihl , no livro “Biological exuberance: animal homosexuality and natural diversity” ,com 750 páginas resultantes de dez anos de pesquisa, cita comportamento homossexual cientificamente documentado em cerca de 300 espécies de mamíferos e pássaros. Entre essas, o leão. E outras como pinguins machos que tentam roubar o ovo de casais heterossexuais; galos-da-serra com comportamento gay devido à alta densidade populacional e à enorme competição pelas fêmeas; girafas machos jovens que formam pares homossexuais temporários para treinarem técnicas de acasalamento; baleias brancas machos em brincadeiras eróticas que sugerem uma orgia; macacas japonesas que se tornam agressivas quando tentam separar o casal de fêmeas. O biólogo deixa claro que é muito variado o repertório sexual encontrado na natureza e que não podemos estabelecer conexões entre animais e seres humanos.

Enfim, a diversidade da vida e de comportamentos. Alguns difíceis de acreditar, como o joão-de-barro cometendo suicídio por desgosto. Como se diz por aí, isso é “fake”…

*Bióloga – Uberlândia – MG – anacoelhocarvalho@terra.com.br