José C. Martelli*
Há inúmeras expressões em nossa língua que, vez ou outra, gostaríamos de conhecer o significado. No sentido de ajudar nossos caros leitores, aqui vão algumas delas e os respectivos significados:
Jurar de pés juntos – “Mãe, eu juro de pés juntos que não fui eu”. A expressão surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado pra dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado pra expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.
MOTORISTA BARBEIRO – “Nossa, que cara mais barbeiro!” No século XIX, os barbeiros faziam não somente os serviços de corte de cabelo e barba, mas também tiravam dentes, cortavam calos etc…, e por não serem profissionais, seus serviços mal feitos geravam marcas. A partir daí, desde o século XV, todo serviço mal feito era atribuído ao barbeiro, pela expressão “coisa de barbeiro”. Esse termo veio de Portugal. Contudo a associação de “motorista barbeiro”, ou seja, um mau motorista, é tipicamente brasileira.
TIRAR O CAVALO DA CHUVA – “Pode tirar seu cavalinho da chuva porque não vou deixar você sair hoje!”. No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia pôr o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “pode tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa.
À BEÇA – O mesmo que abundantemente, com fartura, de maneira copiosa. A origem do dito é atribuída às qualidades de argumentador do jurista alagoano Gumercindo Bessa, advogado dos acreanos que não queriam que o Território do Acre fosse incorporado ao Estado do Amazonas.
DAR COM OS BURROS N’ÁGUA – A expressão surgiu no período do Brasil colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café, precisavam ir da região Sul á Sudeste sobre burros e mulas. O fato era que muitas vezes esse burros, devido á falta de estradas adequadas, passavam por caminhos muitos difíceis e regiões alagadas onde os burros morriam afogados. Daí em diante o termo passou a ser usado pra referir a alguém que faz um grande esforço pra conseguir algum feito e não consegue ter sucesso naquilo.
GUIARDAR EM SETE CHAVES – No século XIII, os reis de Portugal adotavam um sistema de arquivamento importantes das cortes através de um baú que possuía quatro fechaduras, sendo que cada chave era distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto eram apenas quatro chaves. O número sete passou a ser utilizado devido ao valor mítico atribuído a ele, desde a época das religiões primitivas. A partir daí começou-se a utilizar o termo “guardar a sete chaves” pra designar algo muito bem guardado..
Ok – A expressão inglese “OK” (okay), que é mundialmente conhecida pra significar algo que está tudo bem, teve sua origem na Guerra da SECESSÂO, NO EUA. Durante a guerra, quando os soldados voltavam para as bases sem nenhuma morte entre a tropa, escreviam numa placa “0 killed” (nenhum morto), expressando sua grande satisfação. Daí surgiu o termo “OK”.
ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS – Existe uma história, não comprovada, de que após trair Jesus, Judas enforcou-se em uma árvore sem nada nos pés, já que havia posto o dinheiro que ganhou, por entregar Jesus dentro de suas botas. Quando os soldados viram que Judas estava sem as botas, saíram em busca delas e do dinheiro da traição. Numa ninguém ficou sabendo se acharam as botas de Judas. A partir daí surgiu a expressão, usada pra designar um lugar distante, desconhecido e inacessível.
PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA – A história mais aceitável para explicar a origem do termo é proveniente das tradições hebraicas, onde os bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de seus pecados. Um filho do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim, após o animal morrer, ele ficou lamentando e pensando na morte da bezerra. Após alguns meses o garoto morreu.
PARA INGLÊS VER – A expressão surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas, assim essas leis eram criadas apenas “pra inglês ver”. Daí surgiu o termo.
RASGAR SEDA – A expressão, que é utilizada quando alguém elogia grandemente outra pessoa, surdiu através da peça de teatro do teatrólogo Luís Carlos Martins Penha. Na peça, um vendedor de tecido usa o pretexto de sua profissão pra cortejar uma moça e começa a elogiar exageradamente sua beleza, até que a moça percebe a intenção do rapaz e diz: “Não rasgue a seda, que se esfiapa”.
O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER – Em 1647 em Nimes na França na universidade local o doutor Paul D’Argent fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos pra Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou pra história como o cego que não quis ver.
ANDAR À TOA – Toa é a corda que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está à toa é o que não tem leme nem rumo, indo pra onde o navio que o reboca determinar.
QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO – Na verdade, a expressão, com passar dos anos, se alterou. Inicialmente se dizia quem não tem cão caça como gato, ou seja, se esgueirando, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.
DA PÁ VIRADA – A origem do ditado é em relação ao instrumento, a pá. Quando a pá está virada para baixo, voltada pro solo, está inútil, abandonada de correntemente pelo homem vagabundo, irresponsável, parasita.
NHENHEMHÉM – Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os indígenas não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.
VAI TOMAR BANHO – Em “Casa Grande & Senzala”, Gilberto Freyre analisa os hábitos de higiene dos índios versus os do colonizador português. Depois das Cruzadas, como corolário dos contatos comerciai, o europeu se contagiou de sífilis e de outras doenças transmissíveis e desenvolveu medo ao banho e horror á nudez, o que muito agradou á Igreja. Ora, o índio não conhecia a sífilis e se lavava da cabeça aos pés nos banhos de rio, além de usar folhas de árvore pra limpar os bebês e lavar no rio as redes nas quais dormiam. O cheiro exalado pelo corpo do português, abafado em roupas que não eram trocadas com frequência e raramente lavadas, aliado à falta de banho, causava repugnância aos índios. Então os índios, quando estavam fartos de receber ordens dos portugueses, mandavam que fossem “tomar banho”.
ELES QUE SÃO BRANCOS QUE SE ENTENDAM – Esta foi das primeiras punições impostas aos racistas, ainda no século XVIII. Um mulato, capitão de regimento, teve uma discussão com um de seus comandados e queixou-se a seu superior, um oficial português. O capitão reivindicava a punição do soldado que o desrespeitara. Como resposta, ouviu do português a seguinte frase: “Vocês, que são pardos, que se entendam”. O oficial ficou indignado e recorreu à instância superior, na pessoa de dom Luís Vasconcelos (1742-1807), 12º vice-rei do Brasil. Ao tomar conhecimento dos fatos, dom Luís mandou prender o oficial português, que estranhou a atitude do vice-rei. Mas, dom Luís se explicou: “Nós somos brancos, cá nos entendemos”.
A DAR COM O PAU – O substantivo “pau” figura em várias expressões brasileiras. Esta expressão teve origem nos navios negreiros. Os negros capturados preferiam morrer durante a travessia e, pra isso, deixavam de comer. Então, criou-se o “pau de comer” que era atravessado na boca dos escravos e os marinheiros jogavam sopa e angu pro estômago dos infelizes, a dar como o pau. O povo incorporou a expressão.
ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA TANTO BATE QUE FURA – Um de seus primeiros registros literários foi feito pelo escritor latino Ovídio (43 a.C. – 18 d.C.), autor de célebres livros como “A arte de amar” e “Metamorfoses”, que foi exilado sem que soubesse o motivo. Escreveu o poeta: “A água mole cava a pedra dura”. É tradição das culturas dos países em que a escrita não é muito difundida formar rimas nesse tipo de frase pra que sua memorização seja facilitada. Foi o que fizeram com o provérbio, portugueses e brasileiros.
Sem eira nem beira – detalhe na inserção do telhado que antigamente era relacionado a classe social.
FEITO NAS COXAS – Telha que era feita nas coxas dos escravos. Por isso ficava cada uma de um tamanho e ao serem utilizadas não se encaixavam direito. Termo utilizado hoje para coisas mal feitas, mal acabadas.
CONVERSA FIADA – Conversa que acontecia entre as pessoas enquanto fiavam a lã.
PUXAR UMA PALHA – Antigamente o colchão era feito de palha de milho. Era preciso puxar as palhas para afofar o colchão para se deitar.
FAZER QUITANDA – Aos sábados era dia de fazer pães, bolos.
Engenho – Quem fazia o engenho era engenhoso, daí a palavra engenheiro.
*Advogado e professor – Espírito Santo do Pinhal – SP