Gustavo Hoffay
Nos últimos tempos vimos sendo alvos de noticiários televisivos ( diários e apelativos) que têm a capacidade de conseguir desgastar ou mesmo atrevem-se a “minimizar ao máximo” a nossa capacidade de raciocínio. Não poucas vezes e a qualquer hora do dia ou da noite, aquelas produções lançam para dentro de nossas casas algumas notícias com o propósito de manipular e deformar de maneira claramente tendenciosa, opiniões e pontos de vista de centenas de milhares ( ou mais ) de telespectadores por todo o Brasil. Sim, ao ponto de algumas poucas emissoras de TV fustigarem o mal e até mesmo promoverem alguns delinqüentes que cometem crimes hediondos, escandalosos e por demais impactantes, repetidamente, incansavelmente e em horários que possibilitam uma dilatada audiência ( como aqueles a quem nomeou por Surfista do Pó, Trek do Amor, Maníaco do Parque, Banana de Pijama, Vovô Tarado do Bananal, Erótico, Manteiguinha, Pão com Ovo, Xaropinho….francamente!); um ibope que garante-lhes lucros exorbitantes e enquanto ciosas, é claro, do interesse de considerável parcela da população que , sarcasticamente, deleita-se com misérias e calamidades diversas…que não as suas, evidentemente! Sinceramente, não consigo e nem quero acreditar que a maioria dos telespectadores tenha sentimentos masoquistas, adore obter conhecimento de tragédias humanas diárias e seja mais facilmente impressionável pelo mal do que pelo bem; tenha um gosto apurado pela crueldade e pelo desespero de terceiros, prefira ser assistente passiva de tragédias ao contrário de deliciar-se com o êxito de pessoas diversas e contribuir, ao menos um pouco, na edificação de um mundo melhor. Não raramente pergunto-me o porquê da veiculação do mal, da crueldade, das tragédias causarem tão expressivas audiências, ao passo que notícias brandas porém interessantes do nosso cotidiano não conseguem despertar o mesmo exame, a mesma consideração, o mesmo privilégio, não motivam sequer os mais experientes repórteres ou entrevistadores dos meios de comunicação social e escalados para a sua divulgação? Tão mal quanto um tiro de revolver contra uma pessoa inocente, é a propagação, a insistência, a repetição de notícias a respeito de muito o que envolve as circunstâncias de um disparo, de uma facada, de um assassinato, de um estupro, enfim de um muito sentido infortúnio…Ora! Indubitavelmente não há quem ignore a violência em nossos dias e a qual ganha novos contornos e dimensões ainda mais nítidos, coloridos e acachapantes, mas é muito estranho que essa mesma violência continue causando arrebatamentos em quem dela reclama. Francamente….o mal e a sua conseqüente divulgação em massa destrói, subverte, adoece; sabemos que requer-se muito mais tempo para edificar do que para destruir e ainda assim é o mal que provoca êxtases e picos de audiência até mesmo em horários diurnos; é o ofensivo e o repugnante que despertam a atenção de milhões de assistentes de quase todas as idades e de classes sociais distintas em frente a aparelhos de TV por todo o Brasil, em lares e bares, consultórios e escritórios, restaurantes e salas de espera! Especialistas em saúde mental alertam que dar audiência a catástrofes e tragédias humanas de maneira geral é como acionar-se o gatilho da tristeza, do stress, da depressão, da insônia, de crises de ansiedade, de mudanças repentinas de humor. É evidente que não devemos fechar os olhos à violência, aos seus repulsivos agentes e que diariamente rondam e espreitam nossos atos, passos e casas antes de desferirem seus ataques, mas bom seria que as pessoas não se permitissem a dar audiência a notícias que tratam de tragédias humanas, escândalos, ódio, vinganças e tudo o mais que degrade ou ameace degradar o seu positivismo em relação à própria vida. Não é o caso de negar tais horrores mas, sim, afastar os olhos dos mesmos e de maneira a não deixar-se contaminar, comentá-los e mesmo exaltá-los em público e conseqüentemente deixar de viver de maneira positiva para si e para quem lhe é próximo. Considero uma insensatez o fato de ligar-se a TV logo pela manhã e obter conhecimento de assassinatos, estupros, pancadarias, desastres, ruínas, desmoronamentos…. Admiremos, sim, reportagens que tratam a capacidade humana de amar e de saborear as vitórias do amor, de gozar a felicidade e a fidelidade, de excitar-se com o esforço de muitos pelo êxito de projetos sociais capazes de materializar as mais belas e otimistas esperanças. Essa capacidade de maravilhar-se seria, claramente, uma forma de um não conformismo com um azedume reinante e que teima em conquistar a audiência de muitos (e o conseqüente e considerável lucro de poucos) por meio da divulgação de tragédias diversas do nosso cotidiano. Maravilhemo-nos cotidianamente e nunca deixemo-nos cair na tentação de permitir escapar a criança que existe dentro de cada um de nós. Permitir que a mediocridade invada a nossa casa e deteriore o que construímos com amor, ternura, encanto e até mesmo com uma dose de sacrifício, seria retroceder, seria rendermo-nos aos apelos de poderosos que desejam lucrar cada vez e sempre mais com o nosso medo, nossos fantasmas e pesadelos.
Presidente do Conselho Deliberativo Fundação Frei Antonino Puglisi
Uberlândia-MG