Marília Alves Cunha*

Acontece muito no Brasil, infelizmente, esta história de criança morrer espancada. Mas no momento balança e constrange este país a história de Henry, que veio ao mundo para suportar o peso da monstruosidade, da doença, do ódio, aquele ódio maligno que não precisa ser motivado, que já nasce com o indivíduo e o transforma em carrasco.

A história já é conhecida. A imprensa noticia o dia inteiro os pormenores desta tragédia, os detalhes vis de acontecimentos cruéis demais para serem vividos por quem mal pisara no planeta e mal começara a viver.

O menino Henry aparece com o pai, no shopping, brincando, ensaiando uma dancinha, como qualquer criança feliz em meio a brinquedos e guloseimas, numa tarde de domingo. Depois, já entregue à mãe, gruda-se no seu pescoço, enterra a cabeça no seu ombro, dá as costas para o padrasto. Puro medo expressa ele e as imagens dizem isto. Daqui a pouco seu corpo pequeno e magro começaria a ser maltratado, espancado, submetido a tortura por longo tempo, até a morte. Gritou? Chorou? Pediu socorro? Implorou clemência? Se o fez não foi ouvido… Seria preciso que o menino morresse violentamente para que todos denunciassem seu martírio.

A imagem de Henry que mais me falou ao coração, mais me chocou, foi a do menino pequeno e magro, mancando, atordoado, atravessando um estreito corredor, á procura de refúgio. Foi filmado. Foi visto. Todos que com ele conviviam sabiam de seu martírio. Todos se calaram. Todos aceitaram. Todos se alienaram do mal que atormentava a pobre criança. Há os diretamente culpados, mas ninguém é inocente nesta tragédia meio que anunciada…

Quantas vezes o menino tremeu, vomitou, não quis voltar para casa, chorou, mostrou-se problemático, queixou-se dos “apertos” do padrasto, entristeceu-se, mostrou suas dores pelo corpo franzino. Ninguém via, ninguém ouvia, ninguém se manifestava, ninguém parava para reparar… Passou este Henry como uma sombra fantasma pela vida de todos que o cercavam, até que a morte, como uma benção, viesse buscá-lo e afastá-lo da dor e da humilhação.

Que solidão, meu Deus! Que triste e agoniante solidão envolveu o Henry, como as paredes de um corredor que assistiu um corpinho franzino, triste e dolorido procurar abrigo. Torturado mentalmente, massacrado psicologicamente, só Deus sabe a que ponto. Sentia-se culpado, por achar que estava atrapalhando a mãe, se é possível ver uma naquela figura.
Que solidão, meu Deus! Que triste, imensa e intolerável solidão a do menino Henry! Que o céu o tenha!

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG