Gustavo Hoffay*
Em determinado período de suas vidas, é muito natural alguns pais perguntarem-se a respeito de qual deve a sua postura diante do dilema gerado pelo uso do álcool e da maconha a partir dos seus filhos adolescentes. Qual dessas duas drogas é a pior? É natural que a resposta mais sensata seja “as duas”, embora cientes que mais cedo ou mais tarde as suas crias terão a (indesejada) possibilidade de conviver com usuários daquelas substâncias e mesmo serem convidadas ou provocadas a fazer uso das mesmas, seja na escola, nas ruas ou até em seus próprios e particulares aposentos, por exemplo. Diante dessa severa ameaça, sempre mais sentida em nossos dias, é comum ouvir-se pais demonizando as drogas e principalmente pelo fato da grande maioria delas ser ilegal, pois muito prejudiciais à saúde física e mental dos seus usuários e observando-se aí, evidentemente, a característica de cada uma delas e as nocivas conseqüências sociais e familiares a partir do seu uso habitual ou compulsivo; bingo! Mas a partir do instante em que o álcool está em evidência durante alguma sadia discussão, a impressão que se tem é a de que os efeitos do consumo dessa droga são menos nocivos e pelo fato de ser uma droga lícita, liberada para uso popular e mesmo de fácil e rápido acesso até para crianças e adolescentes em bares diversos das grandes cidades, enquanto sob os olhares complacentes até mesmo de alguns dos seus familiares e diante de pequenos cartazes que indicam a proibição da venda e do consumo de bebidas alcoólicas para pessoas daquela faixa etária. Ignorar a relação entre álcool, baixo rendimento escolar, ineficiência profissional, acidentes e criminalidade é, desde muito, um dos maiores desatinos de parte da sociedade ou, quando não, uma maneira estúpida de evitar intrometer-se na vida de terceiros e mesmo ciente do desfecho de tal leviandade que, em não poucos casos, resulta em mortes e graves problemas de saúde para muitos, além de sérios conflitos sociais e familiares ! O uso ocasional ( recreativo ) da maconha quase não remete diretamente à prática de outros crimes que não a contravenção, a sua distribuição ilegal….., criminosa ( tráfico e disputa de pontos para venda de drogas ). Recentes estudos de consagrados institutos norte-americanos detectaram que o uso da maconha aumenta em 83% a possibilidade de usuários envolverem-se em algum acidente fatal, enquanto bebidas alcoólicas aumentam em 2.200% tal perspectiva! E uma curiosidade: um outro estudo, também nos Estados Unidos da América, revelou que agressões físicas, acidentes e abusos sexuais são mais comuns quando resultantes de bebedeiras, enquanto homens que fumam maconha têm menor probabilidade de cometer atos violentos, inclusive contra as suas parceiras (namoradas ou esposas). Intrigante observar, também, que as bebidas alcoólicas são três vezes mais viciantes que a maconha e que, de acordo com o seu potencial ofensivo, está no topo de uma lista de drogas com grande capacidade de gerar danos, conforme reportagem publicada na reconhecida revista científica “Lancet”. Sabemos que o uso recreativo ou ocasional da maconha não é raro; ele ocorre diariamente, em qualquer classe social, em quase todas as milhares de cidades do Brasil e no entanto não causa, nem de longe, os danos originários do uso contínuo de bebidas alcoólicas. Enfim, ao longo de pouco mais de vinte anos de relacionamento com dependentes químicos, encaminhando ou auxiliando-os diretamente em trabalhos de recuperação, estudando e pesquisando a matéria “Dependência Química”, no Brasil e no exterior, foi-me fácil e rápido concluir que o uso da maconha não é tão prejudicial quanto o de bebidas alcoólicas. Em nosso país são centenas de jovens que morrem por acidentes relacionados ao uso de álcool, milhares de outros são feridos ou se ferem enquanto dominados por essa substância, alguns são vitimas ou agentes de estupros e outros, ainda, sofrem e até morrem em conseqüência de alguma grave doença relacionada à ingestão compulsiva daquela droga….lícita. Note-se também a elevada abstinência escolar e profissional e o elevado numero de acidentes de trabalhos em decorrência do uso de bebidas alcoólicas que, somente em nosso país, causam aproximadamente quinhentas mil vítimas por ano! Os números relativos ao consumo da maconha sequer aproximam-se desses patamares. Não vai aqui, evidentemente, nenhuma apologia ao uso geral e irrestrito da Canabbis . Apenas exponho o meu ponto de vista e baseado em experiências e vivências pessoais diversas ao longo de mais de quarenta anos, com o atrevido propósito de fomentar um pouco mais algumas discussões sobre esse antigo e polêmico assunto.
*Agente Social – Uberlândia-MG