“Fiquei muito surpreso e emocionado”, revela André Luiz Quagliatto, professor da Medicina Veterinária há 34 anos

Quagliatto é referência nos estudos em animais silvestres. (Foto: Milton Santos)

“Grande professor na área da herpetologia (estudo de répteis) e defensor da preservação de fauna” é como a pesquisadora Letícia Úngari define sua inspiração profissional: o professor André Luiz Quagliatto, responsável pelo atendimento clínico a animais selvagens no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e coordenador técnico do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS).
Quagliatto recebeu uma homenagem idealizada por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Botucatu, que nomeou de Hepatozoon quagliattus um parasito recém-descoberto.

Grupo de pesquisa que analisou o parasito. Úngari se destaca com a camisa representando a UFU. (Foto: Arquivo dos pesquisadores)

Trata-se de um protozoário que vive no sangue dos vertebrados, como as serpentes, em determinado momento de seu ciclo de vida. Ele foi encontrado em uma jararaca-dormideira, recolhida em Goiás para fins acadêmicos. Embora viva em seu hospedeiro, não foram identificados quais sintomas o parasito provoca no animal. “Ele é bem adaptado, o que sabemos é que vive por anos e anos”, afirma Úngari.
A pesquisadora, que contribuiu para a captura da serpente, explica o processo de identificação de parasitose em um animal: “esse organismo pode ser observado através da análise do sangue coletado do ser vivo que possa estar infectado”.

Dipsas mikanii, conhecida como Jararaca-dormideira, é uma serpente não peçonhenta que é encontrada no Nordeste e Sudeste do Brasil. (Foto: Arquivo dos pesquisadores).

Esse estudo está vinculado ao projeto de doutorado de Úngari, pela Unesp. Ela graduou-se no curso de Ciências Biológicas da UFU e é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICBIM) da UFU.
Suas pesquisas desenvolvidas na UFU contaram com a co-orientação de Quagliatto. Uma parceria que completa dez anos. Ela revela o motivo pelo qual seu grupo da Unesp escolheu homenagear o professor: “devido a todas as contribuições para a ciência e preservação da fauna”.
O professor também atua na reintrodução de espécies que correm risco de extinção. Ele coordenou o projeto que salvou tartarugas tracajás de serem extintas em Rio Vermelho, Minas Gerais, onde os ovos desses animais foram resgatados. Depois, berçários foram criados, os filhotes ficaram em observação e então puderam retornar à natureza. Esse trabalho contou com uma palestra no município ministrada por Quagliatto, que explicou a importância da para a população local não comer os ovos e as tartarugas.
Com o trabalho no Hospital Veterinário da UFU e a coordenação de pesquisas pelo LAPAS, o professor destaca a importância de investir na ciência. Também ressalta que sua atuação é possível graças às bolsas de auxílio para estudos. Essa verba destinada à educação pode sofrer cortes em 2021.

Quagliatto formou-se no curso de graduação em Medicina Veterinária na UFU, em 1983. Após a formação no mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), começou a atuar como professor na UFU em 1987. O professor está grato grato com a homenagem: “É a mesma importância de quando um cientista descobre algum planeta e colocam seu nome no astro”, compara. Úngari revela que ele é conhecido pelos alunos por ser humilde, pois ensina com clareza e calma. “Atualmente, é um dos pesquisadores mais importantes para a ciência no Brasil”, completa.