Marília Alves Cunha*

Navegando pela Internet como é hábito e gosto de fazer, principalmente nestes tempos bicudos nos quais a imprensa, em geral, mais desinforma do que informa, completamente cativa da sanha de destruir a imagem de um presidente, dei de cara com um vídeo impressionante. Não pude localizar a data do evento, mas sei perfeitamente da intenção, do desaforo, do desrespeito e abuso da coisa pública.

Na entrada da UFRJ brilhava um painel enorme, sustentado por bela armação de ferro. Coisa bem feita, bem arrumada. Acho que era um painel para sobreviver a várias tempestades ou, pelo menos, até que surtisse o efeito desejado. No retângulo, em letras grandes e luminosas, palavras de ordem contra Bolsonaro. Não vou aqui repetir o absurdo, pois não costumo repetir calúnias, palavras injustas, inverídicas, um verdadeiro atentado à honra e dignidade de um chefe de estado. A travessura, a gracinha, a infâmia durou até que a policia federal interviesse e ordenasse a retirada do monstrengo brilhoso.

Parece que reina um fragoroso engano relativo à autonomia das Universidades públicas. Elas não são propriedade privada do Reitor, do Vice, de professores ou alunos. Elas são públicas, propriedades do povo brasileiro que paga altos impostos, para sustentar este custoso encargo. E paga corretamente, no desejo de ter ensino de qualidade e gratuito, no desejo de manter estes centros de excelência, de conhecimento, de pesquisa, de ciência. Ou deveriam ser…

Infelizmente grande parte delas, contrario sensu a sua verdadeira função, se imiscuiu na militância política e age como um país à parte, onde não há necessidade de se prestar contas à sociedade e onde só existe uma verdade e uma agenda: “conquistar (ou escravizar) corações e mentes”… E quem sair deste tom, certamente cairá em desgraça. “Não faça nada pelas leis que você não possa fazer pelos costumes” – esta frase é muito mais antiga que Gramsci, mas ele a adotou e entendeu que era o caminho para por em prática o domínio do pensamento. Alterar aos poucos a estrutura de uma sociedade, a partir de seus valores éticos, morais e culturais é o caminho, ensina o filósofo. E muita gente corre atrás, entra na fila sem nem entender direito o que isto significa. E, infelizmente, à medida que uma sociedade se torna mais fraca, sem lastro, ela se torna mais vulnerável e mais facilmente dominada. As fábricas de militância ajudam bastante neste caminho enviesado…

A militância política está infiltrada nas escolas, desde as de ensino fundamental. Tenho netos e já provei o sabor desta tentativa de impor a todos um pensamento único e mediocrizante. E tem sido usado para isto um discurso á primeira vista legal, ágil, meio revolucionário (que agrada bem ao espírito dos jovens, inquieto por natureza) mas que, muitas vezes, ao contrário, é inconsequente, sem honestidade e sem maturidade.

Este caso da UFRJ é um belo exemplo desta imaturidade, desta irresponsabilidade. A reitora, por certo, não se incomodou com o monstrengo fincado na porta do estabelecimento. Assim como não se incomodam muito com professores (sic) que expulsam da sala de aula um aluno vestido com uma camiseta “Bolsonaro-eu apoio” e mostram na sua própria camiseta vermelha um “Lula livre”, estampado em letras garrafais. E não se incomodam muito com paredes pichadas, descuidadas, enfeitadas inclusive com palavrões. É o cúmulo da insensatez!

*Educadora e escritora ´Uberlândia – MG