Antônio Pereira da Silva*
Foi no dia 11 de julho de 1961. Não foi bem um minuto de silêncio, foi um minuto de escuridão. Vou explicar por quê.
Nos últimos dias do ano de 1905, o médico José de Oliveira Ferreira inaugurou, em Uberaba, a energia elétrica. Gente de toda parte do Brasil Central estava ali para ver a luz elétrica romper a escuridão dos sertões. Entre os ansiosos expectantes, o nosso coronel Carneiro que se deslumbrou quando a lâmpada inaugural incandesceu e fez recuar o breu da noite.
De volta a Uberabinha, o coronel e seus filhos, entre eles, o jovem Clarimundo, resolveram dotar a velha Uberabinha desse benefício do progresso. Cuidaram de tudo, inclusive conseguiram a cessão de um técnico pela Cia Paulista de Eletricidade, o dr. Paulo Faria. E fizeram tudo com uma visão aprofundada, tanto que suas máquinas serviram à cidade durante 39 anos, ou seja, mesmo depois de adquiridas por outra empresa.
No dia 10 de fevereiro de 1908, foi assinado, com a Câmara Municipal, o contrato de concessão, por 25 anos. No dia 31 de outubro de 1909, foi erguido o primeiro poste, nas proximidades da cadeia pública.
No dia 25 de dezembro de 1909, como um presente de Natal, Uberabinha recebeu, dos Carneiro, a grande propulsora do progresso: a energia elétrica. Quando a primeira lâmpada se acendeu, o povo explodiu em vivas. Ali, reunidas estavam pessoas de todas as cores, credos, e facções políticas, erguendo vivas ao coronel e à sua empresa, atirando os chapéus para cima, entusiasmados com a promessa de novos tempos que a eletricidade lhes traria.
O gerente da nova Cia Força e Luz de Uberabinha era o filho mais velho do coronel, Clarimundo Fonseca Carneiro.
Em 1926, Clarimundo mandou construir o prédio de dois pavimentos na praça da Liberdade (hoje, Clarimundo Carneiro), onde funciona a Oficina Cultural. Clarimundo morava no palacete ao lado, na rua Tiradentes. Em 1929, a empresa foi adquirida pela Cia Prada de Eletricidade por mil e oitocentos contos de réis.
Clarimundo, no entanto, era homem bastante envolvido com a indústria e, tão logo deixou sua empresa de energia elétrica, montou uma fábrica de calçados e derivados de couro. Foi um pioneiro da indústria. No início dos anos vinte, montara em seu estabelecimento na praça da Independência (Coronel Carneiro), diversas máquinas produzindo café, macarrão, refinação de açúcar. Esse complexo foi transferido posteriormente para a rua Bernardo Guimarães, onde anexou uma fábrica de gelo, com o nome de “Indústrias Reunidas Sol Nascente”.
Em seguida, Clarimundo instalou fábrica de sorvetes e picolés. Em 1929, adquiriu e ampliou o curtume de Giocondo Zanoto.
Nas imediações do curtume, construiu um pavilhão onde instalou uma grande fábrica de cola.
Dono de grandes áreas nos fins do atual bairro Martins, Clarimundo fez valiosas doações para construção de escolas, praças, cemitério e outros benefícios.
Num desses terrenos, mandou abrir poço artesiano, até hoje atendendo gratuitamente a população, na avenida Belo Horizonte. Nas proximidades da estação da Mogiana, abriu outro poço que foi desativado quando os terrenos foram vendidos.
A Vila Oswaldo foi loteada por ele.
No dia 11 de julho de 1961, faleceu esse homem importante para o desenvolvimento industrial da cidade, responsável, com seu pai, pela iluminação pioneira de Uberlândia.
Por solicitação do então presidente da Associação Comercial, Oswaldo Oliveira, outro baluarte do nosso desenvolvimento, a Cia Prada de Eletricidade, às 20 horas, desse dia, desligou suas máquinas por um minuto. E Uberlândia mergulhou na escuridão em homenagem àquele que lhe deu a iluminação elétrica. (Fontes: jornais da época, Tito Teixeira, A. Pereira da Silva).
*Jornalista e escritor