Antônio Pereira da Silva*

Quem teve a ideia de transformar o antigo prédio da Câmara Municipal, no centro da praça Clarimundo Carneiro, em museu foi a Secretária de Cultura, professora Creusa Resende. Levada a proposta ao Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Cultural de Uberlândia, Comphac, o presidente, que era o Reynaldo Cazabona, se opôs veementemente, mas o órgão, em assembleia, derrubou o seu veto o que deixou o “italianinho” furioso.
Quem fez a transformação foi o dr. Paulo Ochiucci, engenheiro da Prefeitura. No projeto, uma escavação colocaria um porão no prédio que aumentaria o seu espaço sem lhe modificar o aspecto externo. Nem ele, nem qualquer dos operários, sabia que ali já tinha sido cemitério, desativado logo nos comecinhos do século XX.
Quando começaram a escavar, no interior do prédio, encontraram uma ossada e o pessoal assustou. Esperaram o engenheiro e o levaram a ver o macabro achado. Preocupado, o dr. Ochiucci mandou parar a obra e pensou em chamar a Polícia. Sorte dele que, antes de qualquer providência, um morador mais antigo, que conhecia o passado da cidade, despreocupou-o:
– Não se preocupe, não, doutor. Ali já foi cemitério. O senhor ainda vai achar mais ossadas por lá..
Retomaram as obras. De vez em quando, novas ossadas. Mas a preocupação maior do dr. Ochiuccci, agora, não eram mais os ossos, porém as sepulturas. Cada cova aberta era um bolsão de terra fofa que poderia prejudicar a estrutura do prédio. A escavação estava ficando perigosa. Mandou parar de novo o serviço, estaqueou por dentro as paredes para não caírem e foi atrás do prefeito Virgílio Galassi. Contou-lhe o perigo que corriam.
O prefeito, quando percebeu o tamanho do problema, nem quis entrar dentro do prédio. Só comentou com o seu engenheiro: “Se isso aqui cair, nós te matamos.”
Ochiucci procurou o engenheiro Guerrinha, da Sondotec, que foi lá, olhou e disse: isso não é pra mim, não. Isso é pro Luiz Carlos Árabe, professor lá em Uberaba. E o engenheiro foi atrás do dr. Árabe que o atendeu e sugeriu que fizesse infiltrações de concreto nas paredes, com estacas fincadas, por dentro delas e no solo. Foi feita uma estaca para cada metro. Firmadas as paredes, pode-se concluir a transformação do prédio, sem problemas.
As velhas ossadas voltaram a descansar pela eternidade.
A transformação foi até premiada, posteriormente. (Fontes: Ochicci e Creusa Rezende).

Jornalista e escritor – Uberlândia – MG – apis.silva@terra.com.br>