Marília Alves Cunha*
Sou frontalmente contra os chamados ”realities”, como Big Brother, Fazenda e similares. Em anos anteriores cheguei a assistir alguns capítulos destas infelizes programações. Era cutucada por uma curiosidade: o que ficam fazendo mais de uma dezena de homens e mulheres, todos bem grandinhos e já passados da adolescência, trancafiados numa casa, com total falta de privacidade, inclusive para as mais básicas necessidades do ser humano, numa convivência prolongada de 24 horas diárias, em ambiente áspero e altamente competitivo. O objetivo único é ganhar o dinheiro, quem sabe a fama (como já aconteceu com outros brothers e fazendeiros). Para isto vale tudo, desnudar-se de roupas e sensatez, ser o que nunca foi, fingindo muito quase sempre ou mostrando uma face até então escondida do público…
O último BBB, que ainda se encontra em andamento, está dando pano para manga. O assunto prolifera nas redes sociais e lives, as pessoas se manifestando de maneira tão contundente, como se estivessem lutando pela sua própria sobrevivência, neste reality espantoso que é a vida real. Talvez seja isto mesmo, talvez estejamos todos lutando, mesmo sem ter a consciência disto, pela liberdade de manifestação, sem censura, repreensão ou qualquer tipo de admoestação.
Este BBB caracterizou-se pela presença de uma turma de lacradores profissionais. Uma turma que se intitula progressista, representante do politicamente correto, das correntes ideológicas que “personificam” a sensibilidade pelo social, o olhar bom, compreensivo e protetor dirigido ao ser humano, á natureza, do respeito à diversidade, aqueles que se julgam detentores do pensamento único, legítimo e verdadeiro… Vão caindo em suas próprias armadilhas e como num jogo de damas, vendo pedras sendo derrubadas uma a uma… Incrível que pareça, reparei dia desses no facebook o que me pareceu um brother se deliciando com um cigarrinho suspeito… Pode? Deve ser impressão minha. Se não for, quem estará patrocinando?
Enquanto isto, enquanto o povo se distrai, odeia ou ama personagens de um reality, coisas acontecem no cenário político do nosso Brasil e passam quase despercebidos. Quase, porque os fatos hoje repercutem independentemente da grande mídia. A nossa Suprema Corte continua extrapolando de suas funções, colegiadamente, sem que uma voz dissonante se preste a dar um ar de maior sobriedade à ilustre casa. Os senadores teimam em eleger como presidente da CCJ o Sr. Davi Alcolumbre, que acabou de deixar a presidência do Senado, largando atrás de sí um rastro de omissões e incompetência. A Câmara Federal que deixa de votar matérias de importância fundamental para a sobrevivência da nossa própria democracia intenta, num prazo mínimo e rasteiro, com fundamentos falsos na prisão de um colega deputado decretada pela própria Câmara, votar matéria que aumenta a imunidade parlamentar. Bom lembrar que o assunto já está devidamente inscrito no artigo 53 da CF, em toda sua amplitude e sem a mínima necessidade de retoques. E continuam presos jornalista e deputado, sujeitos a inquéritos inexistentes e repentes ditatoriais… O Brasil continua, como quase todos os países do mundo numa luta insana contra o Covid 19( 19 na China. Aqui na pátria amada só ficamos sabendo dele em Fevereiro ou março de 2020).
Por falar em Constituição Federal, dia desses consultei a minha, especialmente o artigo 53, caput e parágrafos. Putz! O meu livreto (importante livreto) faz parte da 35ª edição, datada de 2005. Até a data de 08/12/2004, havia 45 emendas constitucionais. Até o dia de hoje acredito que este número aumentou consideravelmente, dado ao fato de algumas cabeças legisladoras considerarem que, uma CF, lei maior a regrar nossas condutas, pode ser mudada ao sabor dos ventos e das circunstâncias. Estou plenamente errada e preciso urgentemente buscar uma edição recente. Gosto de consultar o livreto (importante livreto)à moda antiga, folha por folha, de preferência as edições comentadas. Deixo o Google para outros assuntos de somenos importância. Não podemos nos descuidar daquilo que nos interessa sobremaneira como nação. Não podemos deixar ao alvitre tão apenas de outrem, o destino da pátria amada e, consequentemente, o nosso destino.
*Educadora e escritora – Uberlândia – MG