Rogério Nery de Siqueira Silva*
Num período de acelerada transição, a empatia passa ser o maior atributo de gestão no relacionamento com os colaboradores
Estamos perto de completar, aqui no Brasil, um ano sob a crise humanitária e econômica imposta pela Covid-19. Agora, com a esperança renovada pelas perspectivas de uma vacinação em massa, é hora de consolidar erros e acertos desse período tão desafiador.
Isso se aplica em todas as esferas – inclusive ao mundo empresarial.
Não é novidade que a pandemia alterou drasticamente o cotidiano das empresas. Mais do que algo pontual, esse particular momento da humanidade mudou significativamente a forma com que as companhias enxergam o futuro. Mudanças que levariam uma década para serem implementadas tiveram de ser colocadas de pé em meses ou semanas. E o papel das lideranças foi posto à prova.
Diante de uma situação jamais vivenciada nas últimas gerações, empresários e CEOs têm o engajamento das equipes como um dos maiores desafios, especialmente em um cenário em que muitos trabalham de forma remota ou em um modelo híbrido (ora presencial, ora remotamente).
O home office transformou as culturas organizacionais. Exigiu dos executivos novas estratégias de gerenciamento e impôs a inteligência emocional na administração das equipes.
Tal habilidade, aliás, foi alçada a uma condição fundamental para se manter no mundo corporativo nesses tempos tão sensíveis.
Nesse contexto, o cuidado com a saúde física e mental das equipes passa a ser um requisito permanente para o futuro.
Esse tema, aliás, precisa ser colocado em prática como parte da cultura corporativa, segundo pesquisa feita pelo IBM Institute for Business Value.
Nessa sondagem, o instituto abordou a questão junto a executivos e colaboradores, revelando a diferença de pontos de vista. Quando questionados sobre o suporte dado pelas companhias na questão da saúde física e emocional, 80% dos executivos afirmaram que a empresa estava atuando. Mas entre os colaboradores o índice foi de apenas 46%. E, quando perguntados se a empresa estava fornecendo treinamento adequado para trabalhar num cenário de pandemia, 74% dos executivos disseram que sim, ante apenas 38% dos empregados.
Esses números mostram que a tarefa é bem mais complexa do que pressupõe o alto escalão.
Num período de acelerada transição, como o que vivemos, é essencial não superestimar a eficácia dos esforços no apoio aos colaboradores.
Na TV Integração (mais antiga afiliada da Rede Globo), temos vivido esse cenário desafiador com a plena convicção de que entender a necessidade das pessoas passa a ser uma premissa básica para uma empresa dinâmica em um mercado em constante metamorfose.
É cada vez mais evidente que inovação, excelência e alta performance claramente dependem de um ambiente em que todos se sintam empoderados pelas lideranças. É bastante perceptível que um espaço psicologicamente seguro, em que se possam propor soluções sem receio de qualquer crítica, gera comprometimento, novos insights e aprendizados e senso de pertencimento.
Os resultados não são só numéricos, mas sociais.
Investir em programas de apoio à saúde mental (com conversas, palestras e material informativo), abrir-se aos feedbacks e estabelecer um ambiente mais colaborativo e menos competitivo, portanto, somam-se à estratégia de forma permanente.
Afinal, conforme mostra o estudo do IBM Institute for Business Value, a burocracia vem dando lugar a estruturas mais flexíveis e menos centralizadas de tomada de decisão. Delegar continuará sendo um verbo fundamental no novo normal do mundo empresarial.
No Grupo Integração ficou claro que a vulnerabilidade, antes escondida a sete chaves pelos executivos que temiam ser vistos como fracos, passou a ser um poder e tanto para gerar conexões entre as pessoas – sejam pares, líderes e equipes.
A empatia, mais do que nunca, é o maior atributo de gestão.
(*) Rogério Nery de Siqueira Silva é CEO do Grupo Integração (afiliada da Rede Globo) e ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio do Estado de Minas Gerais