Cesar Vanucci *

“Perdemos o grande jornalista,
produtor e pensador mineiro Wilson Miranda.”
(Jornalista Pepe Chaves)

Wilson Miranda é outro amigo que deixa de ser visto na estrada da vida. Jornalista, executivo da Associação Mineira de Imprensa, era considerado um profissional de grande competência na área da produção de programas televisivos. Meu saudoso mano, Augusto Cesar Vanucci, à época em que comandava a linha de shows e programas humorísticos da Rede Globo de Televisão, costumava convocá-lo amiúde como colaborador na montagem dos magistrais programas que dirigia. As pessoas que conviviam com Wilson sabiam que, além do mais, ele era dotado de dons muito singulares no tocante ao que conhecemos pela denominação de percepções extrassensoriais.

Registrando meu pesar pela sua passagem, fazendo minhas as palavras do companheiro Pepe Chaves no intróito a respeito desse ilustre cidadão, vou recontar aqui a história de uma previsão extraordinária que ouvi da boca de Wilson Miranda no dia em que o conheci. Utilizo na narrativa trechos de um capítulo do livro “Realismo fantástico”, lançado anos atrás.

“Encontrava-me no Rio, naquele dia, há pouco mais de 20 anos, aguardando num hotel, centro da cidade, transporte que me conduziria aos estúdios da emissora no Jardim Botânico. Acabara de conhecer um produtor de destaque da Globo Minas, convocado para o mesmo trabalho. Seu nome: Wilson Miranda. Tomávamos, juntos, o café da manhã, quando me dei conta, espantado, da mudança operada, de repente, nas feições, gestos e fala de meu parceiro de mesa. De forma vigorosa, sublinhando as palavras, dando curso diferente à conversa que vínhamos mantendo, ele declarou, com todas as letras, o seguinte: “Tancredo Neves não toma posse na Presidência!”. Repetiu solenemente a frase. Sem conseguir esconder o aturdimento, disse ao meu interlocutor não acreditar, definitivamente, na eventualidade de qualquer ato que pudesse vir a degradar o processo da redemocratização, nascido da consciência cívica nacional. Ele, imperturbável, com a voz embargada, completou a estranha revelação: “Tancredo não vai tomar posse porque cairá doente e morrerá.” Nos minutos seguintes, já liberto do – chamemos assim – transe, o respeitado homem de televisão a quem eu acabara de ser apresentado, retomou tranquilamente o tema do papo anterior. Mal cheguei ao estúdio e fui logo colocando o Augusto Cesar a par do ocorrido. Ele me contou, então, que o Wilson era um tremendo sensitivo e que convinha anotar sua chocante previsão, o que fiz na agenda.

O incrível episódio passou-se pouco tempo antes da posse presidencial, aguardada em clima de euforia por todos os segmentos da sociedade brasileira. Torcendo para que o temido vaticínio, concebido em circunstâncias tão enigmáticas, conhecido de poucos, não se concretizasse, acompanhei com nervosa expectativa a evolução da enfermidade do doutor Tancredo, por quem nutria, como todos os brasileiros, enorme admiração.

Fiquei grudado na televisão, os olhos marejados, o coração aos saltos, a desconfortável previsão acicatando a memória, a partir da hora do dramático anúncio do Antônio Brito de que o eminente homem público, depositário naquela quadra da vida nacional das esperanças de toda nossa gente, havia sido levado, inesperadamente, na véspera da posse, a um leito de hospital.

O resto virou História, como a Nação, ainda recentemente recordou nas manifestações ternas e saudosas com que reverenciou os 20 anos da retomada democrática e a participação cintilante, no empolgante movimento que conquistou as ruas, as mentes e os corações brasileiros, de seu líder maior, o notável homem público chamado Tancredo de Almeida Neves.”

No livro citado explico que, naquele mesmo dia da previsão, outros fatos desconcertantes ocorreram. Mas isso é conversa prá outra hora.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)