Padre Alfredo Dórea *
Efeitos devastadores da pandemia Covid-19 levaram a uma demanda urgente
Em apenas três meses após os primeiros casos de Covid-19 terem sido detectados, a nova doença já havia degenerado em uma pandemia e desde então revolucionou e mudou muitas coisas, incluindo a forma como trabalhamos, como nos relacionamos, prioridades e valores, sociais e pessoais. Os efeitos devastadores da pandemia Covid-19 levaram a uma demanda urgente de todo o mundo com o objetivo de identificar, em um tempo muito curto, uma vacina protetora e eficaz para o maior número de indivíduos. Neste dias a promessa da vacina Covid-19 se torna realidade, no Brasil, na Bahia, em Salvador. A nossa população já começou a ser vacinada.
Atravessamos longos meses de experiências dramáticas e temos muitos outros complexos meses pela frente. Ainda hoje pairam muitas dúvidas sobre a vacinação anticovid19 mesmo com a certeza científica que uma real vantagem em termos de saúde pública só pode ser obtida por meio de uma campanha de vacinação ampla e universal.
A vacina Covid-19 já é uma realidade entre nós. Com as devidas autorizações necessárias da Anvisa nos últimos dias, após as fases de registro acelerado, cabe agora às equipes de saúde munir-se de rico acervo de informações e estabelecer uma boa comunicação com os pacientes e público em geral. Este merece e precisa de informações claras, consistentes e solidamente apoiadas por evidências. É urgente e imperioso estimular a adesão consciente dos pacientes à vacinação, tudo por meio da combinação da necessidade de clareza científica e correção com a síntese necessária. Nesta tarefa os meios de comunicação e as mídias sociais são atores imprescindíveis.
O Brasil é ainda marcado por profundas desigualdades sociais. A intolerância religiosa é tão presente entre nós que justifica a importância da celebração anual, em 21 de janeiro, do Dia Nacional de Combate à Intolerância. É necessário que a vacina Covid-19 alcance todas as pessoas, a começar pelas mais vulneráveis, esquecidas e marginalizadas.
Mesmo que ofertadas gratuitamente, deve-se possibilitar acesso livre, fácil e universal deste público à vacinação.
Recente pesquisa científica da revista “The Lancet” aponta que o extremismo religioso, instabilidade política e fake news tem causado graves danos na aceitação da vacina em diversas regiões do mundo. No Brasil a imunização tem sido frequentemente politizada, com graves prejuízos para a sua plena acolhida pela população. Dados do Programa de Imunização de 2019 apontam que em 20 anos, pela primeira vez o Brasil não atingiu a meta para nenhuma das vacinas indicadas para as crianças de até um ano.
A crise econômica e social dos próximos meses poderá ainda se converter em um terreno fértil para as idéias e propostas ultraconservadoras. A liberdade religiosa é um direito garantido, mas, na América Latina o lobby de organizações fundamentalistas está afetando direitos civis que promovem a igualdade e o acesso universal à saúde. Vamos combater com firmeza e responsabilidade toda forma de intolerância e negacionismo que desdenhando da ciência, põe em risco a vida de toda a população.
Todo e qualquer movimento antivacinas é criminoso e uma séria ameaça crescente à saúde global.
*Padre Alfredo Dórea é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.
*Padre católico